Celso Russomanno pode se eleger prefeito de São Paulo, bem como pode não resistir à supremacia do tempo de televisão e à força das máquinas federal, estadual e municipal que trabalham para levar a tradicional dicotomia entre PT e PSDB à reta final da disputa tida como a mais importante dessas eleições.

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Tanto faz. Ainda que o "azarão" sucumba ao peso das estruturas, os presumidos favoritos chegarão ao segundo turno sob o efeito de uma mensagem do eleitorado que, se bem compreendida e traduzida, lhes será de grande utilidade para o futuro.

O recado é claro: notadamente nas grandes cidades – e a maior delas sai na frente na exposição dessa evidência – o eleitor preza sua autonomia, não segue o roteiro montado nas "oficinas" partidárias nem responde aos ditames das regras do manual do político profissional.

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Como se dissesse: não tentem me manipular, não queiram me enquadrar porque tenho autonomia de voo.

Pelo "livrinho" de ritos, Russomanno serviria ao PT para impedir a ampliação do quadro de alianças e para tirar votos do PSDB. A este, a presença do candidato do PRB prestaria o mesmo serviço com sinal trocado, além de avançar sobre a periferia órfã com a ausência de Marta Suplicy da disputa e da campanha.

Na teoria, tudo bem montadinho em conformidade com as normas da esperteza. Na prática, um belo de um fiasco.

Inevitável? Depende. Se considerada a defasagem da cabeça da maioria dos políticos em relação às demandas de quem os escolhe, a resposta é positiva.

Quando tomam a si mesmos como referência e consideram que suas manobras terão o efeito desejado por obra de uma programação teórica cujo parâmetro é o prejuízo que podem impor ao adversário, são inevitavelmente pegos de surpresa.

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Não por falta de exemplos. Do pragmatismo do eleitorado já se tem amplo conhecimento. Votou pela estabilidade econômica com o mesmo sentimento que aderiu ao misto de distributividade social e benesses consumistas oferecidas pelo grupo sucessor e com igual desprendimento incorporou os feitos como conquistas suas, sem se sentir na obrigação de retribuir.

O eleitor quer sempre mais, aconchega-se a quem enxerga como defensor de seus interesses. E o que é Celso Russomanno nessa perspectiva senão um paladino do consumidor/eleitor, seja de produtos ou de maus serviços prestados pelo Estado?

Entrou com força em cena no exato momento em que os dois principais atores, PT e PSDB, davam sinais de cansaço apegando-se a velhas fórmulas: os tucanos apostando que Serra poderia representar um porto seguro e os petistas escorando-se na figura de Lula e na receita exitosa da eleição de Dilma Rousseff.

Nenhuma inovação, nenhuma concessão consistente à expectativa de mudanças. Boas, más, inócuas ou mesmo falsas, o eleitorado está sempre em busca delas.

Nessa avaliação não entra o cotejo do erro ou do acerto. Voto, pelo que já se viu, não tem vacina nem prima pela excelência do mérito.

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Russomanno na essência repete a fórmula de Fernando Collor, que em 1989 atropelou todas as figuras eminentes da República – Ulysses, Covas, Lula, Brizola, Maluf e companhia – no vácuo do cansaço preenchido com promessas justiceiras de algo compreendido pelo eleitor como "novo" por transitar numa linha de identificação com suas demandas.

O mesmo conceito pode ser transposto para a eleição presidencial de 2014. Por inércia e ausência de contraponto, Dilma por ora encarna o papel.

Mas, se daqui até lá a economia não assegurar conforto e o governo não conseguir lidar com suas gritantes falhas de gestão – em boa medida herdadas do modo publicitário petista de governar – haverá espaço aberto para qualquer tipo de aventura.

Não necessariamente igual àquela que terminaria em impeachment. Não quer dizer que a história vá se repetir, mas significa que as forças políticas que pretendem disputar o poder em 2014 precisam estar atentas ao esgotamento que impõe urgente renovação das respectivas cartilhas.

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