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O ministro da Fazenda, Guido Mantega, pode estar coberto de razão quando demonstra absoluta tranqüilidade ante o charivari nas Bolsas de Valores mundo afora. Dorme sereno, assegura. O presidente Luiz Inácio da Silva da mesma forma pode estar certíssimo quando pondera que a solidez da economia brasileira torna o pPaís imune ao sobe-desce que pôs em polvorosa o mercado financeiro internacional na semana passada. "Nos preparamos para o inverno" como "formiguinhas", garante.

Mas, apenas por precaução, não custava nada o governo brasileiro reservar um tratamento um pouco mais cerimonioso às eventuais conseqüências da crise. Tudo bem que o Brasil de hoje não seja o Brasil de outrora. Compreende-se também que o problema, desta vez, não guarde relação com os ataques especulativos do passado, que o país tenha se solidificado contra eles e que as turbulências decorram de transações levianas no mercado imobiliário americano.

Mas, daí a considerar que o Brasil esteja "blindado" contra todo e qualquer movimento da economia no mundo é desconsiderar a evidência de que nossa economia tem ido bem porque o mundo também ia bem. A segurança em que tem navegado o governo brasileiro diz respeito à adesão do país aos preceitos básicos da estabilidade e da responsabilidade econômicas, mas diz respeito também ao cenário internacional extremamente favorável.

Ora, não precisa ser um expert – o que aqui nem de longe é o caso – para fazer uma ilação óbvia: no momento em que alguma coisa começa a dar errado, mesmo não sendo caso para pânico, passa a integrar o quadro de hipóteses a possibilidade de a alucinação dos mercados ser o efeito e não a causa da doença.

Não há, entre os especialistas no tema, consenso sobre o desenrolar futuro da crise. Na verdade, nenhum deles se arriscava a dizer na sexta-feira como o mundo amanheceria na segunda-feira. Não há, portanto, garantia a respeito de coisa alguma. Sabe-se por enquanto o que a economia fez com o jogo do mercado na semana passada. Mas não se sabe o que o jogo do mercado fará com a economia daqui em diante.

Ninguém espera que as autoridades deixem de lado a frieza e se associem ao nervosismo do mercado financeiro. Desde que não se distanciem do fato de que o imponderável pode vir a exigir habilidades mais elaboradas.

O governo Lula não tem mostrado vocação para a administração da adversidade. Na economia, não teve – ainda bem – sequer a oportunidade de ser testado na gestão de crises. Por mais razão, conviria agora manter puxado o freio do otimismo para não perder o pé da realidade.

O duelista

Por e-mail, o diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, enviou a seguinte mensagem:

"Como V.Sa. tem verbalizado constantemente em sua coluna, diga-se, uma das mais respeitadas do país, procurando estender o esteriotipo de que sou incompetente para exercer o cargo de diretor-presidente da Anac, acusando-me de ser uma mera indicação política, desconhecendo dessa forma como se deu minha indicação, quais foram os critérios, qual meu conhecimento acumulado em anos de vida pública, venho propor-lhe um debate sobre aviação brasileira e o papel da agência reguladora.

De minha parte irei sozinho, portanto desacompanhado de qualquer assessor. Pelo seu lado, de pronto, permito-lhe que seja acompanhada por quantos assessores necessitar, inclusive de expertos em aviação (aliás apareceram tantos nestes últimos tempos, que não lhe faltarão opções).

Nosso debate, ou sabatina, como quiser, pode-se dar em local fechado ou aberto, com ou sem platéia, de acordo com vossa vontade. Requisito que a senhora prepara-se ao máximo, pois é do meu desejo não deixar nada sem resposta.

Espero com isso que a adjetivação constante da palavra ‘incompetência’ seja expressa como instrumento da verdade, ou cale-se para sempre.

Quero somente registrar que não se trata de entrevista ou programa para a mídia, mas sim de expormos onde está a verdade, se em nossos procedimentos ou nas suas matérias jornalísticas.

Saudando-a, fico no aguardo de sua resposta."

No último parágrafo, quando esclarece que seu intuito não é dar entrevista – maneira habitual de se relacionarem profissionalmente jornalistas e autoridades –, o senhor Zuanazzi confirma a impressão inicial de que faz mesmo uma convocação para um duelo.

Desnecessário ao diretor-presidente da Anac terçar armas com quem quer que seja, "em local aberto ou fechado". Seus dotes no manejo dos problemas da aviação brasileira já estão sobejamente demonstrados e foram amplamente analisados no decorrer da crise dita por ele mesmo inexistente.

Desconhecidos, no entanto – até agora –, eram seus atributos de duelista no terreno do idioma. Para não tombar combalida, como tomba assassinada a língua pátria no texto acima, nos termos propostos declino do combate.

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