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No Planalto e na planície, o PMDB monitora a evolução dos apoios, dúvidas, desistências, ameaças de traições e vigia a firmeza dos votos dados como certos para Michel Temer, na eleição de amanhã para a presidência da Câmara. A central de checagem – digamos assim – funciona na sede da Fundação Ulysses Guimarães, no prédio do Congresso, com uma equipe de cinco pessoas, sob o comando do deputado Eliseu Padilha, que é responsável pela produção de cinco planilhas atualizadas duas vezes por dia a partir de informações coletadas nos partidos, entre deputados, lideranças e nos estados, inclusive junto a adversários dos parlamentares/eleitores.

"Lá, na base, as posições se manifestam com mais confiabilidade do que em Brasília, onde o deputado pode fazer o jogo da simulação, da média com todos os candidatos", diz Padilha, do alto da experiência adquirida durante o governo Fernando Henrique, quando a "central" foi criada como uma espécie de órgão auxiliar do Palácio do Planalto no acompanhamento das votações no Legislativo.

No governo Lula assumiu uma feição diferente. Até por ser comandada pelo grupo que aderiu só no segundo mandato, trabalha voltada muito mais aos interesses do partido.

O principal, no momento, é a eleição do presidente do PMDB para presidente da Câmara. Padilha carrega os números numa pastinha de plástico transparente, separados em grupos de informações estado a estado, partido a partido, deputado a deputado, liderança a liderança.

Há também uma planilha dos dados colhidos com o governador de cada estado, o assessor político do governo local e os partidos adversários e/ou aliados. Feita a coleta do dia, tudo é posto num programa de computador que cruza as informações e imprime tudo em quatro cores.

Os votos duvidosos são agrupados em outra listagem – a das "dúvidas" – e ao lado de cada nome é indicado, em código, o político encarregado de convencer o vacilante. "G" aparece várias vezes. É o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima.

Padilha abre a pastinha para "provar" que o método é científico. Mas não avança na "comprovação" ao ponto de exibir a principal informação: com quantos votos Michel Temer conta. Aí, é preciso acreditar na palavra dele. Na sexta-feira de manhã, assegurava: "Nosso teto é de 422 votos e o piso de 340". Já foi de 308, há 13 dias. Nesse período, 70 deputados se definiram, nem todos em favor de Temer, mas, segundo Padilha, a maioria.

Mesmo depois da entrada de José Sarney em cena? "Ficam dizendo que a situação piorou, mas é o oposto." De acordo com ele, porque, ao contrário do que se diz, os aliados de Sarney na Câmara trabalham em prol de Michel Temer.

A filha do senador, a também senadora Roseana Sarney, telefonou garantindo o apoio e, depois, a equipe da "central", correu atrás. "Checamos um por um e a informação conferiu." De sexta-feira até a eleição, amanhã, haverá três novas atualizações das planilhas que podem ser científicas na forma, mas, como o conteúdo é baseado num fator chamado natureza humana, o resultado dirá se o empenho da palavra ainda é um traço do exercício da profissão ou se o vale-tudo vigente transformou a política em coisa de arrivista amador.

Retrato

Há quem considere perda de tempo a crônica política conferir atenção à eleição das presidências da Câmara e do Senado. Há quem considere isso fruto da autorreferência dos frequentadores da "ilha da fantasia", como se convencionou denominar Brasília.

Não é. Nesses momentos, a maneira como se movimentam suas excelências, os interesses em torno do qual fazem seus jogos individuais e partidários, os fatores postos à mesa traçam um perfil da conduta dos representantes que aos representados interessados nos meios e modos de funcionamento do país seria aconselhável examinar.

Gostamos muito de nos mostrar cosmopolitas, exibir conhecimento profundo a respeito do que se passa no mundo, na eleição norte-americana, na guerra do Iraque, no conflito árabe-israelense, mas tendemos a qualificar as coisas da política brasileira como assunto de segunda linha, sem interesse para o dito "cidadão comum".

A compreensão do mundo é importantíssima. Mas quem não compreende o país onde vive dificilmente conseguirá compreender direito os outros.

Via das dúvidas

Para todos os efeitos, o PMDB da Câmara acredita nas declarações de dirigentes do PT de que não há hipótese de haver traição a Michel Temer, seja qual for o resultado na eleição do Senado. Mas, por precaução, os deputados pemedebistas resolveram se antecipar e dar quórum à sessão da Câmara antes da hora marcada. A eleição no Senado terá início às 10 horas e a da Câmara ao meio-dia.

Os deputados do PMDB vão antecipar o início da votação a fim de que as duas eleições ocorram simultaneamente.

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