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O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, vem dando vigorosas contribuições àquele modo de fazer política ao qual se dá o nome de politicagem.

Primeiro, cansou de ser oposicionista aguerrido, virou governista mais ou menos assumido e escapuliu de um partido porque o barco fez água. Depois, criou outro ao molde de uma associação recreativa propositadamente desprovida de doutrina a fim de propiciar abrigo a quem se interessar independentemente dos critérios de ações e pensamento.

Em seguida, pôs a legenda a serviço de todos os governadores, acertou-se com uma quantidade substancial de prefeitos, conquistou fornida bancada na Câmara dos Deputados e na eleição da cidade que administra acende uma vela a cada uma das forças políticas tradicionalmente adversárias.

Ou seja, topa qualquer parada, desde que vantajosa. Há quem veja nisso uma grande esperteza e reserve desde já um lugar para Kassab no panteão dos grandes feiticeiros políticos de nossa História.

Assim como há quem veja no projeto de lei que enviou à Câmara Municipal propondo a doação de 4,4 mil metros quadrados de terreno no centro da cidade ao Instituto Lula, um lance de alta envergadura.

O prefeito mesmo define seu gesto como um ato de "gratidão" para com o ex-presidente e de grande generosidade para com a coletividade, pois, segundo ele, a construção vai valorizar sobremaneira a região da Nova Luz, hoje degradada pela cracolândia.

Francamente, não é uma coisa nem outra. Gilberto Kassab simplesmente lança mão de um patrimônio público, tira proveito da cadeira onde senta e da caneta que empunha, para paparicar Lula e o PT com quem quer se aliar na eleição que se avizinha.

Alguma diferença entre o que faz o prefeito e o que fizeram ministros (alguns) obrigados a deixar seus cargos porque usaram dinheiro público ou se valeram da condição de ocupante de cargo público para obter benefícios próprios e/ou partidários?

Na essência, nenhuma diferença. Ah, trata-se de uma lei que ainda precisa ser aprovada pelos vereadores? Ora, Kassab controla a Câmara. À exceção da bancada do PT, todos votam com o prefeito.

Aliás, será interessante observar se os vereadores petistas desta vez deixarão de lado a sistemática de votar sempre contra Kassab para aprovar a lei da bajulação. E os do PSDB, como se comportarão?

Se não quiserem abrir mão de agradar ao prefeito, terão de arranjar alegação diferente da que circula por aí dando conta do benefício que a instalação do Instituto Fernando Henrique Cardoso levou a outra área do centro da cidade de São Paulo.

FH não ganhou nada do Estado, comprou as instalações da massa falida do Automóvel Clube. A comparação correta é com o Maranhão de José Sarney.

Se aprovada a lei e aceita a doação, Lula e Sarney estarão ainda mais unidos: aí na condição de ex-presidentes donos de memoriais instalados em espaços de propriedade pública.

Gilberto Kassab tem o direito de adular quem quiser, de se aliar a quem bem entender e de atuar na política como achar melhor. Só não pode esperar unanimidade acrítica. Mas, sobretudo, não pode dar seguimento a seus projetos à custa do patrimônio de todos os cidadãos que não têm nada a ver com as conveniências político-eleitorais partidárias do prefeito de São Paulo.

Se a ideia é conquistar o eleitorado do PT, corre o risco de se enganar e ainda perder o apoio do paulistano que o elegeu, aquele mais afeiçoado aos tucanos conjugado com a parcela egressa do malufismo.

Quanto ao partido, este não veio ao mundo para dividir poder. Se Kassab pensa que com meia dúzia de gentilezas faz o PT se desviar um milímetro de seus planos hegemônicos, basta um telefonema ao PMDB para saber como funciona a coisa.

Conjunto da obra

Note-se que Mário Negromonte saiu do Ministério das Cidades depois de longa agonia, mas, sobre a razão explícita e específica de sua demissão, o governo não deu palavras. Deixou que apenas vicejassem versões.

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