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De cada ângulo que se olhe, essa eleição municipal revela fatos e consolida evidências que derrubam teorias eleitorais recentemente elaboradas a partir de um único dado: a popularidade do presidente Luiz Inácio da Silva.

A campanha do segundo turno revogou a crença inabalável de políticos e marqueteiros na doutrina "paz e amor" e, no caso das disputas mais excitadas, vai levando ao chão também a tese de que o contraditório é coisa do passado – quando não de gente golpista – e o consenso, sinal de evolução cívica, uma meta a ser perseguida pelos adeptos da "nova política".

No primeiro turno as urnas já haviam derrubado o mito do "poste", desmentido assertivas sobre a transferência automática de votos e arquivado a idéia do Palácio do Planalto de transformar o resultado da eleição de prefeitos numa interpretação plebiscitária sobre o governo Lula, com o objetivo de estabelecer desde já as balizas para a armação do jogo da sucessão presidencial em 2010.

Nas capitais dos quatro maiores colégios eleitorais do país, a eleição produziu surpresas e muitas divergências às quais o eleitorado aderiu com tanto entusiasmo que, à exceção de São Paulo onde o quadro é praticamente de definição, a final de domingo será disputada voto a voto.

São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador desenham um legítimo quadrilátero da saia-justa para o governo federal. Sejam quais forem os resultados, o Planalto não colherá amenidades. As derrotas serão estrondosas e as vitórias vão requerer uma administração de prejuízos.

Salvador é o caso típico. O governador petista Jaques Wagner trava embate direto com o ministro peemedebista Geddel Vieira Lima em clima de acirramento tal que, ganhe o PT ou o PMDB, o dia seguinte será de lamentações na base governista.

Por mais que o eleitorado faça sua opção entre dois candidatos obviamente aliados ao presidente Lula, o placar de 40% (PT) a 50% (PMDB) nas intenções de voto exibe um eleitor capaz de distinguir entre um e outro. Escolhe pelas diferenças evidentes na vida real, não pelas semelhanças existentes só no jogo da política congressual e palaciana.

Belo Horizonte, na teoria fadada à tranqüilidade da homologação do escolhido pela união entre o governador tucano Aécio Neves e o prefeito petista Fernando Pimentel, na prática ocorreu na base do supetão.

No início, Márcio Lacerda subiu de 6% para mais de 30% em uma semana, foi atropelado nos últimos cinco dias pelo adversário Leonardo Quintão que começou o segundo turno com 18 pontos porcentuais na frente e, em 10 dias, a vantagem virou desvantagem.

Não houve mágica: governador e prefeito desceram do pedestal, deixaram o candidato aparecer, expuseram o perfil do adversário e explicaram o sentido das escolhas.

O mocinho bonito do PMDB significa a volta das velhas estruturas simbolizadas na figura de Newton Cardoso e o senhor circunspecto patrocinado por eles representa uma aliança administrativa construída ao longo de seis anos com a aprovação de 80% da população.

Caso consigam mesmo consolidar a dianteira, como parece, Aécio e Pimentel só fazem maiores os equívocos do primeiro turno, pois teriam ganhado bonito com um pouco de empenho e atenção ao fato de que ninguém está dispensado de combinar com os russos as regras do jogo.

Em São Paulo, os 17% pontos porcentuais de vantagem de Gilberto Kassab são os mesmos de dez dias atrás, antes de o PT pôr em prática a estratégia mediante a qual seria desconstruída a imagem do prefeito, conquistada a classe média e desmontado o alegado preconceito dos conservadores contra Marta Suplicy.

Não aconteceu nada. As pesquisas não registraram nem sequer o efeito do notório questionário a respeito da ausência de mulher e prole dentro da casa de Kassab. Para a biografia de Marta ficou péssimo e para o ato do voto tanto faz como tanto fez.

Se as pesquisas conferirem com as urnas, a tão falada "baixaria" terá passado ao largo da sensibilidade do eleitor e valido uma equação muito mais simples: a divisão dos tucanos no primeiro turno virou soma no segundo.

Só uma vez o PT conseguiu os votos dos não-petistas: quando Marta – na ocasião uma novidade sem o ranço da antipatia que viria a acompanhá-la – concorreu contra um Paulo Maluf já descendente em 2000.

No Rio acontece o confronto mais interessante. Ali, a força bruta deu resultado. O candidato do PMDB, Eduardo Paes, abriu mão de qualquer delicadeza de caráter e assim conseguiu sustentar um empate, com ligeira vantagem, na base da manipulação de preconceitos, subserviência política e até uma mal ajambrada luta de classes.

Se ganhar, será ao preço do conceito: sai menor do que entrou, enquanto Fernando Gabeira, no caso de ser o perdedor, fica com a marca da grandeza para futuros investimentos.

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