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Trabalhar em marketing é manter constante atenção nas transformações do mercado, exercendo acurado olhar sobre o comportamento das pessoas. Uma das mudanças mais curiosas dos últimos tempos foi o surgimento do interesse, principalmente por parte dos homens, pelos assuntos da arte da culinária. Parece que de uma hora para outra co­­me­­çaram a surgir centenas de livros, revistas e artigos sobre os assuntos da boa mesa. Programas de tevê em diversos estilos foram lançados, lojas especializadas em produtos e iguarias importadas apareceram quase que do nada. Existem até espaços chamados de gourmeteria em condomínios de luxo.

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Só que este "de repente, não mais que de repente" não aconteceu tão rápido assim. As mu­­danças no labor humano são mon­­tadas no ar muito antes de se cristalizarem em comportamento e ações práticas. Vamos acompanhar o raciocínio e ver como algumas alterações mu­­dam o comportamento das pessoas tempos depois de iniciadas. Nas décadas de 70/80 os apartamentos compunham-se de dormitórios, salas de estar e refeição, pequena cozinha, lavanderia e quarto de empregada. Com o tempo dispensou-se o quarto de empregada, porque nenhuma delas dorme mais no emprego, e juntou-se esta área à da la­­vanderia e cozinha, ampliando-se o espaço.

Com a possibilidade dessa ampliação, os designers de mó­­veis não perderam tempo e co­­meçaram a apresentar ao mercado cozinhas planejadas/modulares muito mais bonitas. Saiu a ve­­lha imitação das "cozinhas ame­­ricanas" do tempo dos nossos pais e entraram as novas, bo­­nitas e equipadas cozinhas para os nossos filhos. Junto com o espaço vieram as grifes das novas pias, fornos, refrigeradores e fo­­gões de fazer inveja às visitas, vi­­zinhos e parentes. O novo am­­biente, antes usado só como área de serviço, começou a substituir as salas de visitas e jantar. Como nas casas dos nossos avós a conversa voltou para junto do fogão e começamos a nos reunir nesta nova dependência da casa, agora maior, mais confortável e bonita. O es­­paço estava pronto para receber pessoas, mas – e os donos da casa? Bem, para preparar esses neocozinheiros ao novo estilo de vida, criaram-se os sofisticados cursos de culinária com to­­das as especialidades possíveis, das mais exóticas as mais frugais: preparação de risotos, co­­mida espanhola, tailandesa, baia­­na e, claro, francesa e italiana. Vieram também os novos aces­­sórios e equipamentos com suas panelas chiques e caras e, só para o uso correto das facas, é preciso estudar um verdadeiro compêndio. Ao mesmo tempo, ressuscitou-se o uso dos condimentos e especiarias e todo mundo passou a gostar da velha e boa pimenta. Isso sem falar dos vi­­nhos e cafés. Até um novo termo surgiu: "barista". E é bom a gente saber em que categoria nos en­­caixamos: existem os gastrônomos, que são os apreciadores da boa mesa; os gourmets, que são os conhecedores das comidas e vinhos, e os epicuristas, que são os que apreciam a vida. Acredito que pertenço a esse grupo.

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E hoje, o que parece corriqueiro, nasceu há muito tempo, quando se mexeu no espaço das habitações e uma coisa foi pu­­xando a outra. Para os mais ve­­lhos, como eu, receber os amigos em casa ficou mais confortável. Vamos deixar as ruas e barzinhos para os da geração Y.

E, enquanto o novo chefe prepara alguma coisa, belisca-se, bebe-se e joga-se conversa fora. Quer atividade mais prazerosa?

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