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Eram pouco mais de 21 horas da segunda-feira passada (22) quando os deputados estaduais concluíram a votação do projeto de lei que reajusta o salário do funcionalismo público. Dois dias depois, o governador Beto Richa (PSDB) sancionou a proposta, num ato que, até aquele momento, parecia encerrar o inferno astral em que se transformaram os seis primeiros meses da nova gestão do tucano.

Para Richa, o primeiro semestre é daqueles para ser esquecido. Já em fevereiro, mandou à Assembleia Legislativa um pacote de projetos que retirava direitos dos servidores e decretava a morte da previdência estadual. Com o Legislativo invadido e na iminência de deputados aliados serem agredidos, foi obrigado a retirar as propostas.

Remodelado o texto da Paranaprevidência, o tucano cercou a Casa do Povo com centenas de policiais para garantir a aprovação da matéria. Conseguiu. Só que a um custo de 213 feridos e levando a popularidade dele ao fundo do poço. Na sequência, alegou falta de dinheiro para repor a inflação ao salário dos servidores e prolongou a greve dos professores. Hoje, tem o reajuste aprovado como queria e os docentes de volta às salas de aula. O saldo disso tudo, porém, é péssimo para o governador.

Se olhar no retrovisor, Richa verá que foi reeleito em outubro do ano passado já no primeiro turno, derrotando duas das maiores figuras políticas do estado: os senadores Roberto Requião (PMDB) e Gleisi Hoffmann (PT). Ainda que timidamente, tucanos nacionais de alto plumagem passaram a incluir o paranaense, inclusive, na lista de presidenciáveis do partido. Parecia o cenário perfeito. Parecia...

Em março, antes da fatídica batalha do Centro Cívico, a desaprovação ao governador bateu inimagináveis 76% − e deve estar ainda mais alta hoje. De político alçado a um patamar acima dos demais no estado, Richa regrediu ao mesmo degrau dos colegas. Com dinheiro em caixa, certamente poderá investir em obras públicas ao longo do segundo mandato. Mas dificilmente se livrará das manchas adquiridas nos últimos meses. A princípio, porém, nada que pareça ameaçar sua eleição para o Senado daqui a pouco menos de três anos, já que serão duas as cadeiras em disputa.

E, mesmo que Richa vá renunciar ao cargo de governador apenas em abril de 2018, os acontecimentos deste ano embaralharam desde já o jogo de forças políticas no Paraná. Caciques partidários ainda estão tentando fazer a releitura do tabuleiro e entender quem ganhou e quem perdeu depois desse furacão.

Derrotado por Richa na última eleição, Requião renasceu na figura do filho, que, de longe, foi o deputado estadual que mais cresceu com a sucessão de erros do governo. Enquanto Requião Filho (PMDB) tem chances de disputar a prefeitura de Curitiba no ano que vem – ainda que apenas para marcar território −, não se pode descartar uma nova candidatura do pai ao governo, mesmo aos 77 anos.

Gleisi, por outro lado, deverá ter dificuldades na reeleição para o Senado. Sem ter conseguido capitalizar absolutamente nada em seu favor com a derrocada de Richa, ela vai enfrentar nas urnas um estado historicamente hostil ao PT, que, para piorar, não vive seus melhores dias.

Colega dela no Senado, Alvaro Dias (PSDB) figura hoje como o nome que sairia à frente dos demais na briga pelo Palácio Iguaçu. Dono de um mandato que só se encerrará em 2022, o tucano tem como trunfos a oposição ferrenha que tem feito ao desgastado governo Dilma Rousseff e a proximidade zero do também desgastado Richa.

Não há como descartar, também, o irmão de Alvaro, o ex-senador Osmar Dias (PDT). Sofrendo com a crise econômica, na vice-presidência de Agronegócio do Banco do Brasil, o pedetista nunca descartou a tentativa de retorno a algum cargo eletivo.

Correndo por fora nesse emaranhado de nomes tradicionais, vem a vice-governadora Cida Borghetti (Pros) e o secretário de Desenvolvimento Urbano, Ratinho Jr. (PSC). A primeira está no governo do estado, mas, ao mesmo tempo, passa despercebida e parece não estar. Além de não ser possível mensurar o impacto sobre ela da crise que abateu Richa em pleno voo, seu marido, o deputado federal Ricardo Barros (PP), costuma dar nó em pingo d’água quando o assunto são costuras políticas.

Já Ratinho, inegavelmente, perdeu o selo de independência ao se aliar a Richa e, ao menos na teoria, poderá ter de adiar um pouco o sonho de chegar a governador.

Tudo isso, entretanto, é especulação. De prático, só a (quase) certeza de que Richa não terá um sucessor para chamar de seu.

*André Gonçalves está em férias.

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