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Se a moda pega 1

Aconteceu no Alagoas um embate incomum entre Ministério Público e Assembleia Legislativa que merece registro. Os deputados tinham cortado R$ 16,5 milhões do orçamento do MP, alegando que o dinheiro precisava ser transferido para a Secretaria de Defesa Social, responsável pela segurança pública. Associação do MP estadual de Alagoas foi à Justiça requerer a suspensão da medida. Segundo a entidade, os parlamentares agiram "por vingança", porque há duas investigações em curso no Legislativo – uma sobre mortos que estavam recebendo salários e outra sobre o pagamento sem controle de gratificações por dedicação exclusiva a servidores que tinham cargos comissionados em outras cidades.

Se a moda pega 2

Porém, a Justiça estadual alagoana nesta semana suspendeu a tentativa de corte orçamentário. Fez bem. Já pensou se toda vez que um governador, deputados e secretários forem investigados a regra for a retaliação ao órgão que cumpriu sua função fiscalizadora?

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No lugar que um dia foi a fortaleza da Bastilha, em Paris, um enorme elefante branco de gesso foi construído em 1814 e lá ficou até 1846. O projeto original de Napoleão Bonaparte era que fosse erguido um monumento de bronze, que simbolizasse a superioridade de suas conquistas imperiais em detrimento da revolução francesa. Era para ser um elefante feito de canhões de guerra pilhados da Espanha. Da tromba da estátua jorraria água em uma fonte. Segundo conta o historiador Simon Schama em "Cidadãos", o imperador queria algo heroico e maravilhoso, de modo que todos os que "o vissem esqueceriam 1789, esqueceriam a Bastilha e mergulhariam na autocongratulação imperial".

A fonte com o elefante de bronze, entretanto, não foi erigida porque a guerra contra a Espanha custou caro para os cofres da França e para as muitas famílias francesas que tiveram de chorar os seus mortos. Por essa razão, "em 1813, quando o elefante seria construído, não se dispunha de canhão e praticamente não havia dinheiro". E o elefante branco, de gesso, foi erguido na Praça da Bastilha, esperando que os planos de Napoleão dessem resultado. Quinze anos depois de construído, segundo Schama, o elefante de gesso já não era mais branco. Estava enegrecido pela umidade e pela sujeira, sem uma das presas de marfim, corroído e degradado.

Nas palavras de Schama, "O Elefante do Esquecimento Deliberado não podia competir com a Persistência da Lembrança Revolucionária". A história deu um fim ao projeto de Napoleão muito diferente do que ele desejou. O relato do historiador diverte qualquer um que, num exercício de imaginação, procure fazer comparações com o que ocorre hoje no Brasil.

Não se sabe se foi por causa do "elefante branco" do imperador, mas o termo caiu no gosto popular brasileiro e é frequentemente usado para rotular as obras grandiosas e de pouca utilidade que são construídas pelo poder público. O Estado tem apostado em obras faraônicas para alardear um pretenso sucesso administrativo, mas esquece de pautar seus atos pela eficiência no uso de recursos do contribuinte.

A Copa do Mundo de 2014 está aí para não restar dúvidas. Depois que o evento acabar, pelo menos quatro estádios públicos – em Brasília, Cuiabá, Manaus e Natal – terão pouco, ou quase nenhum, uso corriqueiro.

Felizmente no Brasil, os elefantes brancos começam a perder o seu apelo propagandista. Levantamento encomendado pela Gazeta do Povo ao Instituto Paraná Pesquisas e publicado na terça-feira desta semana mostra queda no apoio dos curitibanos para a realização da Copa do Mundo de 2014. Dos moradores da capital, 38,7% apoiam o evento na cidade. A aprovação era de 66,5% em junho de 2011. Há em curso uma mudança de mentalidade.

Começa-se a perceber que obras majestosas não compensam o uso ineficiente dos recursos públicos. Está se tornado um senso comum que magníficos elefantes de gesso se tornam enegrecidos e sucateados pela falta de utilidade. Está ficando evidente também que é impossível apagar e reescrever a história usando construções faraônicas como propaganda. Nem Napoleão conseguiu jogar a revolução para o esquecimento, nem a fantasia da Copa e suas construções mastodônticas vão conseguir apagar a ineficiência e o desperdício de recursos da administração pública. São os elefantes brancos que ficarão esquecidos.

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