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O coro da multidão

Os protestos e o amanhã

Desacreditar os protestos que estão ocorrendo no país classificando-os como "de direita", "de gente que não sabe o que quer" ou mesmo como "coisa de vândalos ou de ignorantes", é de uma arrogância intelectual desmedida. Nas redes sociais, alguns professores expressam uma pueril soberba ao dizerem que os manifestantes não sabem nada de Direito ou de política e que, se assim quiserem, estão dispostos a ensiná-los. É compreensível que faltem modelos sociológicos para entender as passeatas, mas nenhum debate democrático será qualificado desprezando os manifestantes.

As passeatas começaram para resolver uma questão cotidiana de alcance nacional – o custo da passagem de ônibus. Em São Paulo, jovens entravam e saíam das estações de metrô se divertindo, se comunicando por celular e cantando músicas de protesto. Mas as manifestações do Movimento Passe Livre acabaram se tornando um ponto aglutinador de reivindicações de diversos de grupos de apoiadores. Os protestos passaram também a ser contra a corrupção, pela desaprovação da PEC 37 no Congresso Nacional e por mais moralidade na política.

Organizadas por jovens hiperconectados, nesta semana ocorreu uma adesão massiva às manifestações. Há muita gente indignada, de todas as idades e classes sociais. Há gente simples que, mesmo sem conseguir expressar com clareza os motivos, estão nas ruas protestando. As manifestações caracterizam-se pela diversidade e pela ausência de lideranças fortes. Há, entretanto, grupos radicais que aproveitam para fazer saques e vandalismo. Eles são uma minoria que deve responder criminal e civilmente pelos atos ilícitos que praticarem. Violência, de policiais ou de manifestantes, não combina com democracia.

Mesmo com a redução de tarifa em pelo menos 13 cidades, as passeatas ontem prosseguiram em dezenas de municípios brasileiros. Os manifestantes descobriram que movimentos de massa têm resultado e querem mais que redução de passagem. A classe política tem motivos de sobra para se preocupar. Especialmente se o desejo daqueles que protestam for romper com as práticas mercantilistas da política do país.

A dúvida que fica é se os manifestantes conseguirão unificar uma pauta de reivindicações para pôr a política brasileira nos eixos. O apoio à transparência pública, ao fim da impunidade, e a um projeto de reforma política coerente seria um bom começo. Cabe a eles a responsabilidade de decidir que rumos desejam tomar.

Contudo, mesmo que os protestos percam a amplitude que conseguiram nesta semana, ainda assim é possível que a sociedade tire proveito desses episódios. O caso do Movimento 15-M da Espanha é emblemático. Em maio de 2011, os espanhóis foram às ruas às dezenas de milhares. Também tinham uma pauta de reivindicações difusas. Também não tinham lideranças personalistas. Mesmo com a desagregação do movimento, ele rendeu frutos à sociedade espanhola. O governo alterou a política pública para moradias populares e algumas ideias do 15-M passaram a ser encampadas por partidos políticos. O movimento 15-M deu resultado.

Será saudável aos manifestantes refletirem claramente aonde querem chegar. Porque neste momento eles são um fato com grande potencial de transformação, inesperado pelos políticos tradicionais.

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