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Digamos que você, preocupado com o meio ambiente, se dispõe a instalar painéis solares em sua casa. O custo é um pouco alto, mas você sabe que, além de ser uma medida sustentável e importante, é um investimento com retorno garantido, pois a economia de energia elétrica no longo prazo será compensadora. Mas aí, por uma infelicidade, as finanças da família sofrem um baque, e aquele dinheiro da poupança que seria gasto no painel solar precisa ser usado para pagar as contas do dia a dia.

Pode ser que você, muito comprometido com o meio ambiente, não desista da ideia original, e prefira procurar um segundo emprego de madrugada para bancar suas contas. Mas a tendência é que deixe o painel solar para uma próxima oportunidade. Ou não?

É mais ou menos o que a maioria dos países quer fazer agora. Apesar de ainda haver desconfiança quanto ao aquecimento global, grande parte das nações está comprometida, de alguma forma, a proteger o meio ambiente. Acontece que a economia mundial está muito instável e o desemprego continua alto nos Estados Unidos e na Europa. Por enquanto, o Brasil não sentiu nenhum efeito grave, mas não estamos livres desse risco.

E, nesse cenário nebuloso, eis que o Brasil sediará a Rio+20, grande conferência sobre desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. O principal objetivo do encontro é renovar o compromisso político com as ações de sustentabilidade. O nome é uma referência à Rio 92, ou Eco 92, que marcou o pontapé da articulação mundial para combater o aquecimento global.

A Convenção do Clima, por exemplo, fruto da Rio 92, deu origem ao Protocolo de Kioto (1997), com metas de redução de emissão de poluentes diferenciada para os países, dependendo de seu nível de desenvolvimento. Os Estados Unidos desistiram de cumprir com a meta já em 2001, e nem todos os países que aderiram cum­­priram o dever de casa.

Mesmo assim, o compromisso firmado serviu de impulso para a busca de soluções inovadoras para a queda na emissão de gases, como o Mecanismo de Desen­­­vol­­­vimento Limpo (MDL), que permite a negociação de certificados de projetos com emissões reduzidas. É uma alternativa para quem não tem condições de cumprir a meta "comprar" o passe de quem conseguiu. Se não fosse isso, muitas nações e empresas já teriam desistido.

Entre os países ricos, as medidas deram algum resultado. Desde a Rio 92 até 2008 (dado mais recente disponível), dos sete países mais ricos do mundo, apenas o Japão não reduziu a emissão de gás carbônico – veja a proporção em toneladas per capita na tabela.

Mas, desde 2008, quando a crise econômica eclodiu, há um temor disseminado de que as negociações sobre clima sejam negligenciadas, o que vem ficando mais evidente agora, às vésperas da Rio+20, que ocorre em junho.

Independentemente das expectativas pessimistas, a Rio+20 pode ser vista como mais um passo importante da comunidade global na busca da sustentabilidade. Essa foi uma das mensagens passadas a um grupo de jornalistas no Seminário Diá­­­logos para a Rio+20, promovido nesta semana pela ISAE/FGV, em Curitiba. Os especialistas que falaram no encontro – o presidente da instituição, Norman Arruda Filho, o professor Rômulo Sampaio, coordenador do Progra­­­ma de Direito e Meio Ambiente da FGV no Rio de Janeiro, e Cícero Bley Junior, superintendente de Energias Renováveis da Itaipu – ressaltaram que a conferência das Nações Unidas pode falhar em termos de traçar metas mundiais. Mas, ponderaram, ela será um fórum importante para que cidadãos, empresas, entidades e governos incorporem, cada vez mais, o discurso da sustentabilidade na prática.

Sem recuar

O que importa, neste momento de incerteza econômica, é não recuar. É o mesmo com o exemplo do painel solar. Se a grana estiver curta e você não instalar o equipamento na sua casa imediatamente, não há problema. Mas não vá esquecer tudo que sabia e parar de reciclar o lixo, ou deixar a água correndo enquanto escova os dentes. Para os países e empresas é a mesma coisa.

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