A discussão agora é sobre eleições indiretas ou diretas. Se Michel Temer permanece no cargo até este momento, em breve sairá, porque não há pacto possível que garanta legitimidade para ele governar.

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Há um movimento crescente por Diretas Já, mas será que esta é o melhor caminho? O voto popular é, de fato, a solução para se decidir sobre os rumos da nação. Mas, neste caso, tenho dúvidas sobre a viabilidade e necessidade das urnas para um mandato tampão.

Aliás, já há muitas vozes defendendo não um mandato tampão, mas a antecipação da eleição de 2018. Isso implicaria em escolher novos nomes para a Câmara dos Deputados e para o Senado. É tentador pensar na renovação do Congresso, mas dificilmente os atuais parlamentares aceitariam interromper o mandato com um ano e meio de antecedência.

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Mesmo que aceitassem abdicar dos mandatos que conseguiram legalmente (alguns, criminalmente), uma eleição geral poderia instalar o caos de vez no Brasil.

Bom, digamos que sejam feitas eleições diretas para presidente. Valendo já? Com quais candidatos? Lula é um deles, não é? Não há agora qualquer condenação que o prive de seu direito de concorrer. Nem Aécio Neves.

Além disso, a eleição concomitante no Executivo e no Legislativo tem suas vantagens. Os parlamentares lançam suas bandeiras e convicções já durante a campanha. Vencendo, posicionam-se como aliados ou como opositores. Tradicionalmente, a maioria dos parlamentares joga no mesmo campo que o do presidente eleito. Isso favorece a governabilidade.

Próximos passos

O entendimento predominante é de que, se o cargo de presidente ficar vago a partir da segunda metade do mandato (janeiro de 2017, no caso atual), ocorram eleições indiretas via Congresso. Um acordo na Câmara dos Deputados quer acelerar a tramitação de uma Proposta de Emenda à Constituição que permite eleições diretas. A primeira votação, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) é na semana que vem. Até sua conclusão faltam anos-luz.

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Independentemente disso, há um entendimento consolidado sobre o princípio da “anualidade”. Mudanças na disputa eleitoral devem ocorrer um ano antes do pleito. Isso está previsto na Constituição Federal.

Há muitas dúvidas jurídicas e institucionais para termos um Diretas Já. Já estamos em dificuldade para lidar com as regras para um pleito em 2018. Estamos no meio de discussões sobre reformas no sistema político e eleitoral. A despeito de propostas esdrúxulas que surgiram nas comissões do Congresso, é preciso mudarmos as regras para um jogo mais limpo.

A cláusula de barreira valeria em uma eleição direta atual? As legendas de aluguel terão uma sobrevida ou não? Qual será o modelo de financiamento? E manteremos o caríssimo horário político eleitoral no rádio e na televisão? Os candidatos terão financiamento público (nosso dinheirinho) ou financiamento privado (olá Odebrecht, JBS)?

A esta altura, com esta temperatura e pressão no Brasil, o melhor caminho parece ser uma eleição indireta. Sim, mesmo com o Congresso que temos. A pressão dos eleitores por mudanças na Reforma da Previdência mostra que o posicionamento organizado realmente pode mudar os rumos das votações. Não imagino que o Congresso teria coragem de eleger algum nome que não encontrasse respaldo na sociedade. Não em um momento em que os políticos reclamam de perseguição no Whatsapp e no Facebook.

Do mesmo modo, um presidente eleito interinamente estaria sob o fogo cerrado da opinião pública, e não poderia desviar da função essencial de governar de forma republicana e democrática. Daí, em 2018, com a casa minimamente arrumada, poderemos ter uma nova partida, com escalação definida e regras claras, para um mandato até 2022.

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Saia, Temer

Se Temer não renunciar e insistir em ficar no cargo, ele entregará alguma reforma? O discurso dos parlamentares indica que não. O senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), relator da reforma trabalhista anunciou que o calendário de discussões está suspenso. Mesmo aliados do peemedebista defendem a renúncia e não veem clima para aprovação de projetos.

Sem reformas, qual será o propósito de Temer no cargo? O que ele vai entregar à sociedade?