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O resultado das eleições do ano passado em Curitiba e as manifestações que varreram o Brasil a partir de junho guardam muitos ensinamentos para os políticos e governantes. Os mais otimistas acreditam que isso mudará as coisas daqui para frente. Mas, por enquanto, não temos muito que comemorar. Situações imorais continuam ocorrendo, em todos os níveis.

É desolador ver obras paradas pela cidade. Muitas das alterações nas estações-tubo estão desse jeito, abandonadas. A construção de trincheiras e ampliação de vias também. A sensação que isso causa é muito pior do que ao caos instalado em Curitiba em 2012, na época da campanha eleitoral. O ex-prefeito Luciano Ducci colocou o povo para trabalhar na tentativa de impressionar a população. Era a fórmula clássica adotada pelos governantes. Mas desta vez não funcionou, e os eleitores deixaram Ducci em terceiro lugar na disputa pela prefeitura.

A lição, neste caso, se destina ao prefeito Gustavo Fruet. Obviamente, o gestor que assume um cargo desses precisa de tempo para colocar a casa em ordem e organizar as finanças – sempre há restos a pagar dos anos em que há eleição. Mas a prefeitura não pode ficar parada jogando a culpa sempre no antecessor. Passados alguns meses, é preciso mais agilidade.

Por essas razões não dá para concordar com a afirmação feita pela prefeitura (e também pelo governo do estado) de que o andamento das obras para a Copa do Mundo está satisfatório. Reportagem da Gazeta do Povo desta semana mostrou que é preciso dobrar o ritmo de execução para que os projetos fiquem prontos a tempo do Mundial, problema minimizado pelo Executivo municipal e estadual. Talvez por incapacidade, não consigo compreender qual informação das planilhas das secretarias de obras deixa os gestores tão tranquilos. Deve ser algo bem diferente do cenário caótico que vemos na Rodoferroviária ou na Avenida das Torres.

Normalmente, os governantes enfrentam problemas de caixa para conseguir executar todas as obras necessárias e fazer a manutenção da máquina pública. Essa é uma das dificuldades que o governador Beto Richa vem enfrentando – daí vem a correria da equipe de secretários para arranjar recursos. Até agora, a tentativa de "emprestar" depósitos judiciais de terceiros não vingou, e as chances de isso ocorrer são mínimas, pois é totalmente ilegal. A lei permite apenas o uso de depósitos de natureza tributária, e com a finalidade de pagar precatórios.

A voz das ruas foi clara: chega de mordomias, de gastos supérfluos. Enquanto o governo do estado gastar dinheiro desnecessariamente (ainda que a desapropriação do hotel de luxo Crowne Plaza, por R$ 25 milhões, para abrigar a Procuradoria-Geral do Estado seja válida, ocorreu em péssima hora) não pode reclamar de dificuldades financeiras.

O descontentamento expresso nas ruas chegou aos institutos de pesquisa, que detectaram grande queda de popularidade dos governantes em geral. A presidente Dilma Rousseff foi atingida em cheio, mas os demais governadores e prefeitos também perderam pontos. Para (re)conquistar a população, serão necessárias ações mais contundentes e gestão mais eficiente e eficaz. Não adianta tentar impressionar com frases de efeito, como fez o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Ele afirmou que as palavras do papa Francisco o sensibilizaram e que por isso ele será mais humilde e não vai concorrer a cargo público em 2014. O que ele pretende evitar é uma grande derrota nas urnas.

Até tu?

Até mesmo uma personalidade aclamada pelas multidões, o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), cometeu deslizes morais, como veio à tona recentemente. O fato de uma autoridade ter dinheiro para comprar imóvel no exterior não é um problema por si só, mas as condições em que o negócio foi feito geraram questionamentos. Ao abrir uma empresa para fazer a aquisição do imóvel, Barbosa desrespeitou a Lei Orgânica da Magistratura (Loman), sustenta o conselheiro da OAB Almino Afonso. Além disso, usou o endereço do apartamento funcional para o registro da empresa.

Considerando o fervor que impulsionou a população brasileira a protestar, seria o caso de todos os governantes e autoridades repensarem seus atos e palavras.

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