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10.161 vagas de estacionamento regulamentado (EstaR) existem em Curitiba. Dessas, 448 são para carga e descarga, e o restante para carros particulares por até uma hora de permanência (445); duas horas (8.286); três horas (982). Das vagas rotativas particulares, 5% estão reservadas para idosos e 2% para portadores de deficiência.

Todos os dias há exemplos que comprovam que é uma tarefa impossível para o administrador público agradar a todos. Ocorre que, às vezes, o gestor toma uma decisão aparentemente louvável, em nome do bem comum, mas que no médio prazo acaba por prejudicar toda uma comunidade. É o que ocorreu com a criação de faixas exclusivas para ônibus em Londrina.

O Jornal de Londrina noticiou que a Avenida Duque de Caxias, no Centro, tem diversos estabelecimentos fechados e/ou para locação, os quais perderam clientela com a extinção de faixas de estacionamento de carros, há três anos.

O fim de locais de estacionamento rotativo é sempre uma tormenta para comerciantes. Nesse caso específico, contudo, a prefeitura tinha tudo para ganhar o apoio popular, pois implantou no local faixa exclusiva para ônibus. Obviamente, na disputa entre o transporte coletivo e o particular, o primeiro deve sempre ser beneficiado. Então, palmas para a prefeitura de Londrina? Não exatamente.

Sem local para estacionar, as pessoas deixam de frequentar determinados espaços, isso em qualquer cidade, grande ou pequena. Isso é terrível, pois, com o passar do tempo, vão se criando áreas abandonadas e inseguras. Como não é seguro passar pelo local, as pessoas o evitam ainda mais, e ninguém vai ter interesse em abrir um comércio por ali. Sem uma ocupação ordenada e constante, esse local será alvo de vandalismo e virar, eventualmente, ponto de venda e uso de drogas.

A prefeitura de Londrina aparentemente seguiu o caminho certo, mas na verdade optou por uma escolha simplista. Devia era ter feito um planejamento melhor e, quem sabe, ter eliminado uma faixa de tráfego para colocar os ônibus, sem alterar a faixa de estacionamento.

Nos últimos anos, a prefeitura de Curitiba se especializou em eliminar faixas de estacionamento nas vias, mas nem sequer agiu com algum propósito nobre, como o de agilizar o transporte coletivo. Foi movida apenas pela urgência de tentar desatar o nó causado pelo trânsito dos carros particulares.

O motorista geralmente apoia essas medidas, mas está apenas se iludindo. Mesmo que o trânsito flua com mais rapidez, qual será o ganho diário? Cinco, seis minutos a menos no trajeto? A troco de quê? De ruas que se transformam em vias rápidas, colocando a segurança de todos em risco? De ruas que perdem movimento e se tornam desertas, feias, sujas e perigosas?

O Anel Viário de Curitiba não pode ser considerado feio, longe disso. Ao mesmo tempo em que as ruas perderam vagas para o estacionamento de veículos, ganharam novas calçadas e iluminação mais eficiente, para facilitar a vida do pedestre. Mas qual pedestre? Trafegando por algumas ruas do anel, seja de dia ou de noite, não se vê muita gente andando por ali não. A maioria dessas ruas não faz parte do itinerário de ônibus e, portanto, o fluxo de pessoas é bem reduzido. É curioso (ou cruel?) que em locais de grande movimentação, como a Praça Rui Barbosa e o Terminal Guadalupe, as calçadas tenham montes de pedras soltas e poucos pontos de luz.

O fato é que a eliminação de pontos de estacionamento causa muitos transtornos para a comunidade local ao mesmo tempo em que gera ganhos reduzidos para a população como um todo. A criação de faixas exclusivas de ônibus, que vem sendo debatida em Curitiba, traz benefícios coletivos, obviamente, mas deve ser bem planejada. Sonhando alto, poderia vir acompanhada da desapropriação de terrenos subaproveitados em várias quadras, que se tornariam estacionamento destinado ao comércio local. Não sei qual instrumento jurídico poderia ser utilizado para tais fins, mas provavelmente uma parceria público-privada resolveria.

Sugestões e pitacos para a gestão do trânsito há muitos. Certamente, a opção escolhida não agradará a todos. Mas é fundamental que os gestores responsáveis pela decisão tenham conhecimento profundo do local onde vão fazer uma interferência. E não é da sala de seus gabinetes que conseguirão isso. Precisam gastar a sola dos sapatos, andando de lá para cá, sentindo a cidade.

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