Alguém por aí assiste à propaganda eleitoral gratuita? Durante os 50 minutos do programa, fica sentado em frente à televisão e assiste tudo? Mas não pode ser assessor de político, cabo eleitoral ou advogado de campanha, nem jornalista, cientista político ou funcionário do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

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Existe essa pessoa? Se houver alguém por aí, por favor, se apresente. Dá a impressão que é cada vez mais difícil encontrar um cidadão comum, que assista ao programa eleitoral.

Mas, também, quem tem tempo, e/ou paciência para assistir ao circo que os candidatos fazem nos programas? As propostas invariavelmente giram em torno dos mesmos temas: prioridade em saúde, educação e segurança. Obviamente, há diferenças na maneira como os postulantes aos cargos pretendem atingir os objetivos. Mas o conteúdo se perde em meio ao discurso ensaiado e às belas imagens. E em meio a mentiras e omissões também. Arrisco dizer que não é uma responsabilidade apenas do marketing eleitoral, mas consequência de todo o sistema vigente.

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Está em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) a proibição do financiamento privado de campanhas, ação proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A maioria dos ministros já se posicionou contra a doação de pessoas jurídicas, mas o processo está paralisado por causa de um pedido de vista. Mesmo assim, não é garantia de que as empresas ficarão realmente de fora. O Congresso Nacional pode reagir à iniciativa do STF e aprovar uma reforma política com outras regras.

Mas vamos além. Independentemente da participação das empresas nas campanhas ou não, o que é preciso é mudar a lógica do gasto eleitoral. Estes dados já foram abordados na coluna no ano passado, mas ao que consta são os mais recentes: levantamento do cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, diretor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), revela que entre 2002 e 2012 o total de gastos declarados nas campanhas eleitorais aumentou de R$ 798 milhões para R$ 4,6 bilhões – alta de 471%. No mesmo período, a inflação oficial (IPCA) variou 78%.

Além da alta expressiva, o pesquisador compara os valores absolutos gastos a cada disputa. Monteiro cita ainda as eleições da França: o gasto eleitoral total foi de aproximadamente R$ 60 milhões, praticamente o mesmo que uma única empreiteira doou para vários candidatos no Brasil (R$ 65 milhões).

Agora, em 2014, o custo das eleições deve ser muito maior, mas é preciso esperar o fim do processo para ter ideia do despropósito. Há estimativas de gastos, mas não são confiáveis: os partidos jogam os valores muito acima, para não correrem o risco de estourarem o teto. O que se sabe ao certo é que será um grande desperdício.

E é preciso gastar tanto? A candidata Marina Silva, que em 2010 disputou a Presidência pelo PV, declarou gastos de R$ 24,1 milhões na campanha. Parece muito, se pensarmos nos R$ 60 milhões das eleições na França, mas ficou bem abaixo do registrado pelos candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), que avançaram para o segundo turno. A petista declarou gastos de R$ 153 milhões na campanha inteira e o tucano, de R$ 106,5 milhões.

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Possivelmente, Marina gastaria mais recursos se tivesse de produzir um programa eleitoral mais longo. O tempo total dela era de apenas 1 minuto e 13 segundos. No primeiro turno, Dilma tinha 10 minutos e 26 segundos e Serra, 7 minutos e 7 segundos. No segundo turno, a petista e o tucano tinham 10 minutos cada.

Marina, agora no PSB, continua com pouco tempo: apenas 2 minutos. E, mesmo antes do início da propaganda eleitoral, ela já aparecia com força nas pesquisas de intenção de voto. Lembrando que, em 2010, com o reduzido tempo de propaganda, ela abocanhou 19,6 milhões de votos no primeiro turno.

Ao refletirmos sobre o gasto das eleições, podemos refletir também sobre a relevância e eficácia da propaganda eleitoral nos moldes como está sendo feita hoje. Precisamos dela?

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