É reta final de campanha, e agora os comitês eleitorais começam a acelerar a produção de material apócrifo contra os concorrentes. Ou os próprios candidatos se encarregam disso. O senador Roberto Requião (PMDB) alardeou que teria material comprometedor contra a campanha do candidato à reeleição Beto Richa (PSDB). Dias depois, pipocaram em blogs documentos pessoais de Requião, ao que parecem localizados em um cofre no Palácio das Araucárias em 2010.

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Esses são os fatos mais recentes e mais quentes, mas durante as últimas semanas as principais campanhas tentaram emplacar notícias adversas para o outro lado da "trincheira".

Esses bastidores da política são pavorosos. O pior é que não é um único grupo que tenta "plantar" notícias contra os concorrentes. É uma prática disseminada. Há os que assumem que fazem denúncias, como Requião, e outros que fazem às escondidas.

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As denúncias podem gerar repercussão positiva ou negativa, mas, a não ser que se trate de algo muito relevante, pouco efeito eleitoral causarão. Os políticos e assessores conti­nuam vivendo nesse mundo paralelo, adotando a máxima "quem não faz, leva". Melhor atacar antes do que esperar.

O ataque pode ser sobre qualquer coisa, até picuinhas ou mesmo fofoca. Em 19 de agosto, quando o blog Caixa Zero, da Gazeta do Povo, mostrou que os "eleitores" usados pelas campanhas de Gleisi Hoffmann (PT) e Richa eram na verdade modelos, com fotos disponíveis em bancos de imagens internacionais, logo surgiram telefonemas para dizer "mas você viu o que a campanha do fulano fez?", ou "isso nem se compara com o que fazem no outro comitê" etc.

É muito esforço (e dinheiro gasto) em uma parte suja e desnecessária da campanha, cujo objetivo principal é alimentar blogs lidos no Centro Cívico que não costumam checar a veracidade das informações publicadas.

E o cidadão...

Enquanto isso, o cidadão de verdade fica a ver navios. As campanhas, em vez de se esforçarem para ter contato com o eleitor, se perdem no marketing e na produção de dossiês contra adversários.

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Muito mais eficaz para conquistar (e multiplicar) votos seria convencer o eleitor sobre quais as reais propostas para melhorar o estado/município/país. O eleitor convencido faz muito mais do que um cabo eleitoral, porque acredita e dissemina as palavras do político, sem cobrar nada por isso.

Como jornalista, é possível ter contato com eleitores de vários matizes e perfis. Mas chama a atenção a quantidade de pessoas desesperançadas com a atual conjuntura. Conversando com professores, profissionais da saúde, microempresários, estudantes, médicos etc., é difícil localizar algum que esteja engajado com um político em particular.

Essa é a impressão que se tem no "varejo". No atacado, as pesquisas de opinião captam alguns sinais que podem ser compreendidos como descrença, mas a prudência sugere que não sejam feitas afirmações com base em pesquisas eleitorais.

Levantamento do Datafolha dos dias 13 e 14 de setembro de 2010, por exemplo, mostrava que 3% dos eleitores do Paraná pretendiam votar em branco ou anular o voto. Segundo os dados da pesquisa Datafolha dos dias 17 e 18 deste mês (para tentar retratar o mesmo período) 6% declararam voto nulo ou em branco. Não é uma evolução tão expressiva, mas pode ser um indica­dor do que se encontra nas ru­as. O número de indecisos caiu nessa comparação, de 11% para 9%.

Outro número curioso é referente à rejeição. Em setembro de 2010, 22% dos eleitores declararam que não rejeitavam nenhum. Agora, em 2014, a pesquisa Datafolha mostra que apenas 12% dos entrevistados não têm rejeição aos postulantes.

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De novo, não se sabe as implicações disso, mas pode-se suspeitar de que há um maior descontentamento com a política atual, ou com os candidatos ao governo, de forma mais específica.

Se as denúncias, fofocas infundadas e dossiês continuarem a pipocar por aí, a tendência é uma aversão cada vez maior à classe política, algo muito prejudicial para a cidadania e a democracia.

Metodologia

Datafolha 2010: 1.246 entrevistas em 47 municípios. Margem de erro de 3 pontos porcentuais. Nível de confiança de 95%. Registrada no TSE com o número 30034/2010.

Datafolha 2014: 1.256 pessoas em 46 municípios entre os dias 17 e 18 de setembro por encomenda da RPC TV e da Folha de S.Paulo. Margem de erro de três pontos. Intervalo de confiança de 95%. Registro no TSE com o número BR-00665-2014.

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