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A Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva quer investigar as possíveis relações entre os serviços de repressão e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) no período da ditadura militar. O anúncio oficial da investigação deve ocorrer nesta segunda-feira (18) durante uma audiência pública programada para as 14 horas, no Auditório Paulo Kobayashi, na Assembleia Legislativa.

A decisão da comissão foi tomada dias atrás, após o Arquivo Público do Estado tornar público o conteúdo de uma série de livros com o registro de pessoas que entravam e saíam da ala de delegados e diretores do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Aqueles documentos revelam que um dos visitantes mais assíduos era Geraldo Resende de Mattos, identificado pelos funcionários que faziam as anotações nos chamados livros de portaria como representante da Fiesp.

De acordo com levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo e publicado no domingo (17), em sua fase mais ativa no Dops, entre 1971 e 1976, Mattos fez mais de 200 visitas à sede da instituição, no Largo General Osório, no bairro da Luz. Seu nome aparece em todos os seis livros divulgados no site do Arquivo Público, que cobrem o período entre março de 1971 e janeiro de 1979.

O Dops de São Paulo era um dos principais centros de investigação e repressão de dissidentes políticos no regime militar. Era o palco de operações do delegado Sérgio Paranhos Fleury Filho, apontado por pesquisadores daquele período como o agente público que levou para a área de repressão política métodos que eram empregados contra criminosos comuns.

Embora ampla, a cobertura dos livros de portaria que foram tornados públicos é precária, com lacunas. Quem consultá-los (estão disponíveis na internet) vai constatar, entre outras falhas, que não há informações sobre 1977.

Negativa

Procurada pela reportagem, a Fiesp informou que Mattos nunca fez parte do seu quadro de funcionários. Em nota pública, a entidade de representação do empresariado industrial paulista também enfatizou que sua atuação tem se pautado "pela defesa da democracia e do Estado de Direito, e pelo desenvolvimento do Brasil". Ainda segundo a nota, "eventos do passado que contrariem esses princípios (democráticos) podem e devem ser apurados".

A Comissão Estadual, segundo seu presidente, Adriano Diogo (PT), também vai investigar as relações entre o Consulado dos Estados Unidos em São Paulo e o Dops. "Queremos saber por qual razão o senhor Claris Halliwell, que aparece identificado nos livros como cônsul americano, ia tanto ao Dops", diz o deputado.

Pelo levantamento divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo, Halliwell frequentou o Dops durante mais de três anos. Em 1971, a média de suas visitas chegou a duas por mês - o que era incomum para representantes diplomáticos. O presidente da comissão, que pediu a ajuda de um colaborador nos EUA para investigar o passado de Halliwell, não descarta a hipótese de que ele tenha assessorado os serviços de repressão.

"Queremos esclarecer os fatos, tendo em vista que a CIA, o serviço secreto americano, assessorou regimes autoritários na América Latina", diz ele. O Consulado dos EUA informou não ter registro de antigos funcionários e, por isso, não poderia confirmar a presença de Halliwell em São Paulo, o cargo que ocupava nem o motivo de suas idas ao Dops. A assessoria de comunicação observou que quase todos os representantes diplomáticos costumam se apresentar como cônsul.

Segundo um parente próximo de Geraldo Resende de Mattos, que pediu para não ser identificado, ele era ligado ao Serviço Social da Indústria (Sesi) e havia se especializado na análise de informações do movimento sindical. A audiência desta segunda-feira é a primeira de uma série que a Comissão Estadual deve realizar no mês. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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