A Comissão de Ética da Presidência alega que Lupi deu explicações insatisfatórias às revelações de irregularidades no ministério| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

A Comissão de Ética Pública da Presidência da República recomendou ontem à presidente Dilma Rousseff que demita o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. A decisão da comissão, órgão alojado na estrutura do Planalto, deve abreviar a sobrevida do presidente licenciado do PDT na Esplanada. "Encami­­­nhamos a recomendação da comissão para exoneração do ministro do Trabalho", disse o presidente do órgão, Sepúlveda Pertence. Com um passivo de escândalos, Lupi já estava na lista de ministros que serão trocados na reforma ministerial programada para o início do próximo ano. O parecer foi enviado ontem ao gabinete de Dilma.

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Segundo os conselheiros, Lupi deu explicações insatisfatórias às revelações de irregularidades envolvendo convênios suspeitos firmados pelo Trabalho com organizações não governamentais (ONGs), muitas delas ligadas a integrantes do PDT, partido de Lupi. De acordo com a comissão, casos de cobrança de propina no Ministério do Trabalho não foram esclarecidos e comprometeram a permanência do pedetista à frente da pasta.

Ainda de acordo com relatório da comissão, as explicações de Lupi para as irregularidades não foram satisfatórias e as respostas ao Congresso e à imprensa foram consideradas "inconvenientes", segundo Sepúlveda Pertence. Questionado se a presidente Dilma agora vai demitir o ministro do Trabalho, Pertence respondeu: "Aí, não é um problema da comissão", disse ao final de reunião de rotina realizada no Palácio do Planalto.

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Lupi foi arrastado por uma rede de escândalos em novembro, colocando-o sob pressão. Primeiro, foi acusado de usar um avião providenciado por um empresário-ongueiro com negócios suspeitos com o Trabalho. O ministro negou o voo e foi desmentido pelos fatos.

No auge dos escândalos, em depoimento no Congresso, chegou a dizer que só sairia do governo "a bala". Mas tinha em vista o arsenal de denúncias publicadas pela imprensa e não a munição fornecida por um órgão da Presidência. Na noite de ontem, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), admitiu que a decisão da Comissão de Ética complica a situação de Lupi, por ser um "fato relevante negativo, e que portanto, será levado em conta dentro do governo". O senador completou: "Não sei se é fatal, mas é uma bala".

Silêncio

A assessoria de imprensa do Ministério do Trabalho informou que Lupi não iria se pronunciar ontem sobre a recomendação da Comissão de Ética. De acordo com a assessoria, Lupi ainda não teve acesso ao documento oficial e por isso não irá comentá-lo.

A presidente Dilma Rousseff, ao receber o documento recomendando a demissão de Lupi, teria se reunido com um grupo de assessores mais próximos para decidir o que fazer. Ela teria dito que a situação do ministro ficou delicada, mas que vai decidir sobre o caso sem pressa e sem pressão.

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O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), afirmou que a decisão da Comissão de Ética mostra que a oposição estava correta ao pedir a apuração das denúncias de irregularidades contra o ministro. "A presidente Dilma não tem mais o que esperar. Agora não é mais um afastamento, mas sim a demissão pura e simples", afirmou.

Já o líder do PT, senador Humberto Costa (PE), afirmou que a decisão do Conselho é um "fator de constrangimento de ordem legal", que deixa a presidente Dilma numa "situação difícil". O líder do PDT no Senado, Acir Gurgacz (RO), se disse "pego de surpresa" e pediu um tempo para "assimilar" a decisão e discutir o episódio com a bancada. Lupi é presidente nacional do PDT, que se licenciou do cargo para assumir o ministério, cumprindo determinação da própria Comissão de Éti­­ca da Presidência.

Nem o líder do PSDB, senador Alvaro Dias (PR), deixou de se surpreender com a notícia, lembrando que a comissão vinha sendo "generosa" com os ministros envolvidos em denúncias. "A manutenção do ministro representaria uma prevaricação, um ato de cumplicidade da presidente", disse o tucano.