
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o processo do mensalão pode representar muito mais que uma eventual condenação criminal dos 36 réus. Cientistas políticos ouvidos pela Gazeta do Povo acreditam que o desfecho do processo, com a responsabilização dos mensaleiros, determinará como serão as relações entre os poderes Executivo e Legislativo daqui por diante.
Denunciado em 2005 pelo então deputado federal e presidente nacional do PTB Roberto Jefferson, o esquema do mensalão tinha relação com a dependência que o governo federal tinha dos partidos da base de coalizão para aprovar projetos no Congresso Nacional. Em troca desse apoio, segundo Jefferson denunciou na época, o governo distribuía uma espécie de mesada a dirigentes partidários: dinheiro público em troca de aprovação de projetos de interesse do governo.
Esta interdependência entre Executivo e Legislativo continua até hoje, diz o professor de Ciência Política Octaciano Nogueira, da Universidade de Brasília (UnB). Para ele, todo governo precisa do Congresso para governar e para ter essa garantia reina a política do toma lá, dá cá. Ou seja: a troca de cargos por apoio no Congresso. "Se vier uma condenação neste processo, acredito que vá haver um abalo na relação entre o Legislativo e o Executivo. A condenação vai mudar as práticas da política brasileira ou aperfeiçoá-las. Na minha opinião, vai significar um basta neste esquema de negociação de cargos por apoio no Congresso que já está instalado na política brasileira", diz Nogueira.
O professor de Ética e Ciência Política da Unicamp Roberto Romano concorda com a dependência existente entre os poderes. "O que vimos no mensalão foi a compra do Legislativo pelo Executivo. Se o STF chegar a condenar pelo menos o núcleo da quadrilha será o início de uma longa caminhada para acabar com a impunidade", acredita Romano. "Será uma vitória do Estado Democrático de Direito", completa.
O cientista político da PUC de Minas Gerais Malco Camargos diz que a eventual condenação dos mensaleiros "representará o enterro definitivo de José Dirceu, Delúbio Soares, e tantos outros mortos políticos envolvidos no mensalão". Ele afirma que o julgamento será mais um importante passo no lento e gradual processo da efetiva separação dos três poderes.



