Divergências com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, estão levando o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a considerar a sua saída do governo. Motivo: o presidente Lula está enfrentando uma disputa entre a Casa Civil, de um lado, e Fazenda e Planejamento, do outro, em relação a um aprofundamento do aperto nas contas públicas, e Palocci não gostou de duras críticas da ministra Dilma à política econômica e ao programa fiscal de longo prazo que ele e o ministro Paulo Bernardo têm proposto. Em entrevista a "O Estado de S. Paulo", Dilma disse que a proposta é "rudimentar" e o debate, "desqualificado".

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Palocci preferiu não reagir publicamente à crítica. Mas, segundo reportagem da "Folha de S. Paulo", o ministro foi ao presidente Lula e se queixou da ministra. O jornal paulista afirma que o presidente não aprovou a entrevista de Dilma. Mas, segundo "O Globo", no Congresso e na Esplanada correu informação extra-oficial de que Lula estaria apoiando a posição de Dilma, mas não faria uma declaração pública para não fragilizar ainda mais Palocci, alvo de investigações das CPIs.

Reportagem de capa do jornal "Valor" desta quinta-feira também destaca o conflito: "Abatido com o cerco que vem sofrendo no Congresso e no próprio governo, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, já pensa em deixar o cargo. Nos últimos dias, manifestou essa possibilidade a assessores do presidente Lula e a pelo menos um interlocutor no Congresso.

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O efeito da entrevista sobre Palocci foi "devastador", segundo parlamentar próximo do ministro. Assessores de Lula afirmaram que só haveria duas alternativas para o caso: a demissão da ministra ou uma nota oficial com pedido de desculpas. Nenhuma delas foi considerada ontem (quarta-feira). As críticas de Dilma vieram em um momento muito delicado, em que a oposição dá sinais de que não protegerá mais o ministro, como fez desde o início da crise política".

Segundo a "Folha", Palocci disse a Lula que se sente "cansado". Reclamou que faz "jornada dupla" (gerenciar a economia e a crise) "e ainda tem de ouvir críticas numa hora de fragilidade". O presidente, segundo o diário paulista, "pediu calma", afastou a "hipótese de saída e prometeu falar com Dilma".

Na equipe econômica do governo foi considerada absurda a avaliação feita por Dilma sobre o ajuste fiscal. A proposta vem sendo apresentada por Paulo Bernardo como forma de preservar Palocci de tantas cobranças sobre a ortodoxia da política econômica.

Segundo técnicos do governo, é essencial para o Brasil um plano que garanta o crescimento econômico não só agora, mas no futuro.

- Esse objetivo não vai mudar. Não vai haver qualquer mudança na política econômica - disse um técnico.

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O pior das críticas de Dilma, segundo auxiliares da equipe econômica, foi o desgaste político para Palocci e Bernardo. As declarações foram consideradas graves porque desautorizaram os ministros. Foi lembrado que o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu discordava da política econômica, mas nunca enfrentou a equipe tão frontalmente.

Apesar de o Planalto ter passado ontem uma imagem de entendimento entre os dois grupos, o clima é de crise. Paulo Bernardo passou a tarde ontem no Planalto e se encontrou com Dilma. Segundo deputados petistas, o ministro está irritado com as declarações da chefe da Casa Civil e cobrou satisfações.

Na reunião da Câmara de Política Econômica, no Planalto, Palocci conversou com Dilma. Depois da conversa, a ministra ligou para Bernardo e tentou pôr panos quentes na situação.

Em conversas com ministros, Lula foi claro nos últimos dias: o rumo da política econômica não deve ser alterado em hipótese alguma. Mas também não é para cometer excessos. Lula está muito incomodado com o superávit primário recorde e teria dado sinal verde para que a Dilma enquadrasse Bernardo. A ordem é gastar mais até o fim do ano.

Lula está convencido do argumento dos aliados de que se continuar com esse arrocho suas chances de reeleição serão menores, pois o crescimento será afetado.

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- Está na hora de fazer um esforço para o crescimento. O país não tem condições de fazer um superávit primário de 6% do PIB. Quanto maior o crescimento, menor o custo do ajuste fiscal - disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), reforçando a posição de Dilma Rousseff.

A avaliação no governo é de que Bernardo está se queimando para proteger Palocci. Mas já há quem considere suicida a estratégia do ministro do Planejamento. Na base aliada, ele é duramente criticado.

- O ministro Paulo Bernardo está querendo ser mais realista que o rei - disse o líder do PCdoB na Câmara, deputado Renildo Calheiros (PE).