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A conclusão do inquérito feito pela Aeronáutica sobre o acidente do avião da Gol que matou 154 pessoas no ano passado deve apontar a sucessão de erros do controle aéreo e dos pilotos do jatinho do Legacy como as causas da tragédia. Na divisão de responsabilidades, o texto deve dar ênfase à dispersão dos controladores no momento do choque das duas aeronaves e descarta que o sistema opere com equipamentos arcaicos.

Um ponto a ser apresentado pela FAB como uma falha dos controladores é não ter confirmado com o Legacy que outra freqüência seria usada para realizar a comunicação. Segundo o G1 apurou, o procedimento padrão antes de trocar a freqüência é ouvir a aprovação dos pilotos. Essa seria a causa de a caixa preta do avião ter registrado mais de 20 tentativas em vão de comunicação dos pilotos do Legacy com o controle. Outra falha seria a própria falta de atenção ao radar que mostraria claramente quando o transponder teria sido desligado.

A Aeronáutica rejeita também a tese de que os controladores estariam sobrecarregados de trabalho no dia do acidente. No momento do acidente, o controlador que monitorava o jatinho Legacy era responsável por 4 a 6 vôos e não 12 a 14, como divulgado anteriormente. A informação é confirmada pelo relator da CPI do Apagão Aéreo na Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS).

"Ele (o controlador) havia iniciado o turno às 14h, apenas duas horas antes do acidente, e trabalhava com uma situação tranqüila e normal. Não havia nenhum estresse e nenhuma falha nos equipamentos", disse o deputado.

Segundo recomendação da Organização Internacional de Aviação Civil (OIAC), controladores deveriam ficar responsáveis por no máximo 14 vôos ao mesmo tempo.

O advogado dos controladores, Fábio Tomás de Souza, nega a versão da Aeronáutica e enfatiza que a única responsabilidade dos controladores é a falha nos equipamentos tanto do controle como do Legacy. "Nós não acreditamos em sucessão de erros. Nós trabalhamos com outras teses, a principal é a falha nos equipamentos", disse o advogado ao G1.

Além de rejeitar a hipótese de que os aparelhos do controle aéreo são obsoletos, a Aeronáutica descarta falha no transponder do Legacy. No relatório, os pilotos do Legacy Joe Lepore e Jan Paladino devem ser apontados como despreparados para comandar o avião de fabricação da Embraer.

A falta de conhecimento levou ao desligamento do transponder. Segundo a apuração do G1, há registro de que os dois pilotos percebem que o aparelho está desligado e o religam minutos antes da colisão com o avião da Gol.

Acaso

Além das responsabilidades, o texto da Aeronáutica sobre a reconstituição do acidente mostra, segundo uma fonte disse ao G1, que o piloto do Boeing da Gol questionou sobre a possibilidade de voar a 41 mil pés para economizar combustível, mas acabou acatando a ordem da torre de Manaus de voar a 37 mil dizendo que, como o avião estava pesado, não teria tanto benefício viajar mais alto. Foi nessa altitude que houve o choque com o Legacy.

As conclusões da investigação da Aeronáutica devem ser divulgadas somente em setembro. Antes, elas devem passar pela avaliação da Organização Internacional de Aviação Civil, com sede no Canadá. A assessoria de imprensa da FAB informou que as investigações continuam.

Homicídio culposo

Como a investigação não aponta um único responsável, ela pode beneficiar os controladores, que foram denunciados pelo Ministério Público Federal por homicídio culposo, assim como os norte-americanos.

O juiz federal Murilo Mendes, da Vara Única de Sinop (MT), acatou a denúncia do MPF referente à tragédia do vôo 1907. "Não há crime dos controladores. Não tem ilícito no que eles fizeram. Eles estão sendo responsabilizados por uma conduta valorada pelo resultado", disse Tomás de Souza. A defesa espera ter acesso ao inquérito da Aeronáutica em agosto.

CPI

O relator da CPI do Apagão Aéreo na Câmara, Marco Maia (PT-RS), disse que as informações da investigação da Aeronáutica constam de seu relatório que deve ser apresentado no dia 12 de julho. Ele, no entanto, pretende dar ênfase à responsabilidade dos pilotos.

"Houve sucessão de erros que fica evidenciada na existência de falhas humanas, mas com responsabilidades diferentes entre os controladores e os pilotos. Eu continuo com forte convicção que os pilotos do Legacy têm mais responsabilidade porque eles cometeram falhas mais contundentes", disse o deputado.

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