Corrupção política e mau uso de verbas públicas no país comprometeram a capacidade das autoridades de garantir os direitos humanos da população, afirmou a Anistia Internacional em relatório divulgado nesta quarta-feira. O documento também critica as políticas do medo, que estão alimentando abusos a direitos humanos e criam um mundo perigosamente dividido. O texto não poupou o Brasil de críticas em relação ao sistema de segurança pública, citando, inclusive, fatos como os ataques da maior facção criminosa de São Paulo no ano passado.

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"Investigações de corrupção ressaltaram as ligações diretas e indiretas com a erosão da proteção aos direitos humanos", diz a Anistia, referindo-se ao Brasil, no documento "O Estado dos Direitos Humanos no Mundo".

"Houve amplos relatos de malversão de verbas públicas em todos os níveis do Executivo e Legislativo, algo que diminuiu a capacidade das autoridades de garantir direitos humanos fundamentais através de serviços sociais e aumentou a perda da confiança pública nas instituições do Estado", afirma o relatório.

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De acordo com Tim Cahill, pesquisador da Anistia sobre o Brasil, faltam recursos para preservar os direitos humanos:

- A corrupção e o desvio de verbas limitam a possibilidade dos governos de potencializar os recursos destinados (à preservação) dos direitos humanos.

A entidade diz ainda que o envolvimento de autoridades em atividades criminosas resultou em violações aos direitos humanos e em um aparente avanço do crime organizado por todo o país. "Autoridades ligadas à lei estiveram aparentemente envolvidas em comércio de drogas, venda de armas e contrabando de armamentos, telefones celulares e drogas para membros de grupos criminosos detidos", afirma o documento.

Críticas à ação da polícia e à morosidade do judiciário

A Anistia aponta também a falta de uma política de segurança pública como fator-chave para os "persistentes altos níveis de violência criminosa".

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- Se nao houver uma política (de segurança pública) de imediato, o Brasil estará em uma posição perigosíssima - diz Cahill.

A organização destaca os ataques da maior facção criminosa em São Paulo, em 2006, e a morte pela polícia de mais de mil pessoas no país.

- Estas mortes raramente foram investigadas, já que foram registradas como 'resistência seguida de morte’.

Política do medo

Em São Paulo, Bahia, Pernambuco e Sergipe, assassinatos cometidos por homens mascarados sugerem a existência de "esquadrões da morte", segundo a entidade. No Rio de Janeiro, a Anistia apontou a adoção por parte das autoridades de "táticas militarizadas" para combater gangues de drogas.

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Dados oficiais citados pela entidade mostram que nos primeiros meses de 2006 a polícia do Rio de Janeiro matou 807 pessoas, um ligeiro aumento em relação ao ano anterior. Em São Paulo, 528 pessoas foram mortas pela polícia, mais que o total registrado em todo o ano de 2005.

No começo deste mês, a organização já havia criticado a mobilização das Forças Armadas para o Rio e a forma repressiva e violenta da polícia para combater a criminalidade.

Outro ponto destacado pelo grupo em seu mais recente relatório é a "extrema morosidade e ineficiência do sistema judicial" brasileiro, que contribuiría para a impunidade relacionada a violações dos direitos humanos.

Quanto a avanços na proteção aos direitos humanos, a organização menciona progressos do Brasil no combate ao trabalho escravo, mas ressalta que o "problema está longe de ser erradicado". Além disso, cita leis para criminalizar a violência doméstica como um acontecimento positivo no país.

O relatório termina em tom otimista, argumentando que os direitos humanos podem ser tratados com tanta eficácia quanto o aquecimento global caso a opinião pública do planeta esteja voltada para isso.

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- O poder do povo vai mudar o rosto dos direitos humanos no século 21. A esperança está vivíssima - afirmou a secretária-geral da entidade, Irene Khan.