Os documentos obtidos com a quebra de sigilo, nos Estados Unidos, das contas bancárias do publicitário Duda Mendonça e de sua sócia, Zilmar Fernandes, não serão repassados à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios. Segundo a secretária Nacional de Justiça, Claudia Chagas, isso foi uma exigência do Departamento de Justiça do governo dos Estados Unidos.

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"Por favor, não compartilhe as provas anexadas com quaisquer outras entidades ou autoridades no Brasil, inclusive a Comissão Parlamentar de Inquérito", diz o documento, segundo Claudia Chagas. "Um possível vazamento da informações "compromete a futura cooperação jurídica e o Brasil pode ter novos pedidos negados pelos Estados Unidos", ressalta a secretária.

O ministério ainda tenta uma autorização do governo norte-americano para repassar uma cópia dos documentos à CPMI dos Correios. "Não há um prazo, mas estamos tentando convencer as autoridades americanas e cobrando uma resposta", conta Claudia Chagas. De acordo com a secretária de Justiça, os Estados Unidos apenas "não reconhecem a CPMI como autoridade legítima para uma investigação".

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As oito caixas contendo os documentos chegaram na última sexta-feira (5) ao Brasil. Hoje, o Ministério da Justiça as entregou ao delegado Luiz Flávio Zampronha, que preside o inquérito da Polícia Federal sobre compra de votos. Os documentos também foram repassados ao Ministério Público Federal, sob responsabilidade do sub-procurador da República, Edson Almeida.

A principal informação que a Polícia Federal espera obter é o nome das pessoas que fizeram depósitos ou transferências para as contas do publicitário. O objetivo é descobrir a origem do dinheiro que, segundo Duda e Zilmar já assumiram, foi recebido das empresas de Marcos Valério. "Agora temos que verificar se dinheiro de outras origens chegou até essas contas", disse o delegado Praxíteles Praxedes, no momento em que a polícia fez o pedido da quebra de sigilo.

O Ministério da Justiça fez o pedido oficial ao Estado de Nova York em outubro. Os documentos foram enviados em três semanas. "Foi um período recorde, geralmente leva meses ou até anos", diz a secretária.

O sub-relator de movimentações financeiras da CPMI, Gustavo Fruet (PSDB-PR) conta que os promotores norte-americanos irritaram-se com o episódio ocorrido na CPMI do Banestado, quando sigilos bancários repassados ao Brasil se tornaram públicos. O episódio teria gerado processos contra o promotor norte-americano responsável pela investigação. O diretor do Departamento de Recuperação de Ativos (DRCI) do Ministério da Justiça , Antenor Madruga, diz que a justificativa norte-americana não se refere ao fato.

A CPMI dos Correios enviou, no dia 24 de outubro, correspondência à Promotoria de Nova York comprometendo-se a só divulgar as informações sobre as movimentações bancárias de Duda Mendonça no relatório final da Comissão.

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Em depoimento à CPMI, Duda afirmou ter recebido R$ 10 milhões do empresário Marcos Valério, depositados na conta Dusseldorf, no Bank Boston, em Nova York. Segundo o publicitário, a conta foi aberta a pedido de Valério. Valério reafirma que repassou dinheiro a Duda Mendonça, mas nega que tenha feito o pedido de abertura de conta no exterior.

O dinheiro teria sido pelo pagamento dos serviços de Duda na campanha de 2002, em que o publicitário trabalhou para o candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva e candidatos a governos estaduais. De acordo com a Polícia Federal, Duda poderá ser indiciado por evasão de divisas, sonegação fiscal e crime contra o sistema financeiro.

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