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Brasília (AE) – O ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner, tem um palpite: a crise política vai terminar logo. "Uma guerra começa pela incapacidade de negociar e inevitavelmente termina na mesa de negociação", diz ele. Aos 54 anos, 12 dias no cargo, Wagner fala em desobstruir os canais com o Congresso, em diálogo institucional e em relações azeitadas. Mas tem ojeriza do rótulo "pacto de governabilidade".

Encarregado de fazer a ponte da articulação política entre o Palácio do Planalto e o Congresso, o ministro nega que esteja em curso um "acordão" para salvar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do impeachment e livrar uma penca de deputados da cassação. Afirma, no entanto, que a oposição precisa ter "racionalidade" para não desarrumar a economia. Um dos fundadores do PT, Wagner congelou o sonho de concorrer ao governo da Bahia para descascar o pepino da articulação política a pedido de Lula. Por enquanto, não está candidato e acha que o PT não acabou.

– O sr. assume a secretaria encarregada de cuidar da articulação política justamente na maior crise política do governo. Como conter esse processo de contaminação da economia?

Jacques Wagner – Entendo que há maturidade política para que governo e oposição disputem e dialoguem. São dois lados da mesma moeda. Uma guerra começa pela incapacidade de negociar e inevitavelmente termina na mesa de negociação. Não há hipótese para imaginar que se vai aniquilar os dois lados.

– Quais seriam os termos do acordo? Que sinal o governo pretende dar à oposição?

– Temos total interesse em conversar porque acima da disputa está o compromisso com as próximas gerações e elas dependem de crescimento, geração de emprego e desenvolvimento. Eu, inclusive, acho muito injustas – e o presidente Lula fica muito chateado de ouvir – as ilações desse momento com o chavismo.

– Na prática, diante desse turbilhão de denúncias, o que pode ser feito para melhorar a relação do governo com o Congresso?

– A crise já está melhorando. Interessa ao governo que o espaço das CPIs seja totalmente preservado, sem contaminar as deliberações ordinárias do Congresso. Isso é bom para o governo, porque as coisas andam, e é bom para o Congresso, que não vai viver só de apuração. Também é preciso dar respostas para a sociedade. A sociedade civil quer isso? Quer. O Armando Monteiro, presidente da Confederação Nacional da Indústria, também se manifestou. Acho que todo mundo quer mais ou menos a mesma coisa. Acredito que é possível esse diálogo, com os sinais já dados. Agora é uma questão de operacionalização: sentar e conversar.

– É este o pacto de governabilidade? Como será?

– Não vejo essa coisa de pacto de governabilidade. A conversa que tem de ser feita é para chamar todo mundo à racionalidade. Que é o quê? A disputa política existe, é legítima e convive com o funcionamento do país. Nenhum país pára em processo pré-eleitoral. A crise política é por conta de denúncias: elas são apuradas e o Congresso continua funcionando. Essa é a base do acordo.

– Por que só agora o governo está lançando um pacote de medidas para combater a lavagem de dinheiro?

– O ministro Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, está há mais de um ano trabalhando numa lei sobre lavagem de dinheiro, com consultas internacionais. Está ficando pronta agora. É a proteção da sociedade contra o mau uso do dinheiro público. Mas o que estou dizendo é o seguinte: não há pauta ou agenda criada como conseqüência da crise. Tudo está sendo cumprido, a investigação continua até o relatório final da CPI dos Correios e agora vamos pôr o pé no chão. A gente não vive de crise. O Armando Monteiro me disse: "Vamos fazer uma agenda positiva". Podem dar o nome que quiser, mas vou insistir no que o presidente me pediu.

– E o que foi?

– O binômio investigação-punição dos culpados. É o que a sociedade quer, com o funcionamento normal das instituições. Interessa ao governo a normalidade dentro da anormalidade.

– O fato de as denúncias também atingirem integrantes do PFL e do PSDB, como o presidente do partido, senador Eduardo Azeredo (MG), facilita um acordo?

– Eu não tenho nenhuma alegria quando vejo os meus ou os adversários sendo surpreendidos por revelações como essas, porque acho que são ruins para o funcionamento do Estado e para a imagem da classe política. Mas é inegável que essa variável compõe o quadro. Na verdade, tem uma coisa – o problema do financiamento de campanha – que, provavelmente, é comum a muitos. Essa pode ter sido uma das variáveis. Não para mim, mas para quem estava querendo passar do ponto.

– O governo negocia para não haver impeachment?

– Eu acho que isso é inegociável.

– Por quê?

– É por isso que não falo em pacto de governabilidade. Nós não sentaremos em torno de uma mesa de negociação para proteger qualquer tipo de crime. Como eu tenho absoluta tranqüilidade de que não há nenhum tipo de crime cometido pelo presidente da República, eu não sento para negociar essa agenda.

– O PT acabou?

– De jeito nenhum. O PT tem 25 anos de história e um momento de crise. Não acho que o momento comprometa a história. É óbvio que tudo vai depender do comportamento do partido. Eu acho injusta a generalização que se tenta fazer. Se estamos tendo problemas em relação a essas denúncias, também posso apresentar uma lista imensa de prefeituras do PT que são exemplos de gestão. Eu não acredito em barbárie e vejo o PT como parte importante da teia democrática do Brasil. É claro que, na disputa política, há quem acredite que esse é o momento para bater, para ver se o PT desmorona. Mas não desmorona. A militância em vários estados está perplexa e chocada porque essa não é a nossa praia. Todo mundo diz: ‘Vamos apurar, vamos punir’. Passaremos por um profundo processo de reflexão daqui para a frente.

– Com toda essa crise, o presidente Lula será candidato à reeleição?

– Isso é só para abril de 2006. O presidente sempre fala para a gente: "Não converso sobre esse tema". Ele tem razão.

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