
Após sofrer uma derrota inesperada na votação da reforma política na madrugada de quarta-feira (27), o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, virou a mesa para aprovar as doações empresariais para partidos durante campanhas eleitorais. Desse modo, deu uma amostra de que seu principal interesse era garantir a previsão constitucional dessas doações para partidos, e não o chamado “distritão”, rejeitado na terça-feira. A proposta que autoriza verba privada nas campanhas (distribuída pelas siglas) foi aprovada por 330 votos contra 141 na noite de quarta. Agora, a matéria segue para o Senado.
A primeira votação do financiamento empresarial de campanha ocorreu na madrugada de quarta (27). Havia sido definido que a ordem de votação incluiria três modelos de financiamento de campanha. Primeiro, seria votada a permissão de financiamento misto (empresarial e público), adotado atualmente, mas sem previsão constitucional. O texto original do relatório, do deputado Rodrigo Maia (PMDB-RJ), foi substituído por uma emenda apresentada pelo deputado Sérgio Souza (PMDB-PR). Caso não fosse aprovada, entraria em pauta na sequência a proposta de manter o sistema de financiamento misto, mas sem doações de empresa, apenas de pessoas físicas. Por fim, seria votado o financiamento exclusivamente público.
Cunha havia se comprometido a não colocar o texto do relatório em votação. A principal diferença entre as propostas é que a de Maia limitava a doação de empresas a partidos, enquanto a de Souza permitia também doações a candidatos.
Nos bastidores, a aprovação do financiamento privado era tida como quase certa. Entretanto, apenas 264 deputados votaram a favor – ou seja, 44 a menos que os 308 necessários para aprovar uma emenda constitucional. A surpresa ficou evidente quando Cunha deixou escapar um palavrão no microfone ao saber do resultado.
Na manhã da quarta, Cunha decidiu lançar sua carta na manga. Ao contrário do que havia prometido, resolveu colocar em votação a proposta original do relatório – que, por ser ligeiramente diferente da proposta derrubada, poderia regimentalmente ser votada. O PT se apressou para tentar barrar a manobra, mas o deputado Celso Russomano (PRB-SP) apresentou uma emenda idêntica e “driblou” os adversários de Cunha.
Para viabilizar essa decisão, o presidente se reuniu informalmente logo pela manhã com a maioria dos líderes partidários – os petistas não foram convidados. A reunião foi tensa. Esbaforido, Cunha repetiu diversas vezes “agora f...” e cobrou apoio. Conseguiu: as lideranças do DEM e do PSDB, entre outros, se comprometeram a apoiar a manobra em plenário.
Cunha foi atrás, também, dos 44 votos que faltavam. Conversou com o vice-presidente Michel Temer (PMDB). A Cunha, Temer prometeu enquadrar os 12 peemedebistas que votaram contra o financiamento empresarial. Cunha disparou telefonemas para deputados de outras legendas que votaram contra. Relembrou de favores e cobrou fidelidade. A estratégia deu certo e 66 deputados mudaram de lado. E o financiamento misto (público e empresarial) acabou passando.



