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Aécio Neves: cientistas políticos consideram que o senador mineiro, por ser agregador, é a melhor aposta do PSDB para a eleição presidencial de 2014 | Marco André Lima/Gazeta do Povo
Aécio Neves: cientistas políticos consideram que o senador mineiro, por ser agregador, é a melhor aposta do PSDB para a eleição presidencial de 2014| Foto: Marco André Lima/Gazeta do Povo

Brado Retumbante

Comparação com ator toma conta da web

Em meio à repercussão das declarações do ex-presidente FHC de que Aécio Neves seria o candidato natural do PSDB à Presidência em 2014, a TV Globo levou ao ar nas duas últimas semanas a história de Paulo Ventura – que, como presidente da Câmara dos Deputados, passa a chefiar a República depois de um helicóptero cair no mar com o presidente e o vice. Apesar de a Globo afirmar que a produção não tem "compromisso com a realidade", a comparação entre Aécio e Ventura, ainda que em tom de piada, tomou conta da internet. Ambos são mineiros, mulherengos, têm pinta de galã e já presidiram a Câmara.

Ao jornal Folha de S. Paulo, Aécio disse, por meio da assessoria, que não assistiu à minissérie. No entanto, em conversas com colegas tucanos, o senador comentou a produção e disse ter reconhecido semelhanças físicas entre ele e Ventura, interpretado pelo ator Domingos Montagner. Aécio chegou a recear que o personagem tivesse um final trágico.

Serra insistirá na candidatura

Apesar de ser tratado praticamente como carta fora do baralho para 2014, José Serra insiste em disputar a Presidência da República pelo PSDB. Na tentativa de tirá-lo definitivamente do caminho, o comando da legenda propôs que ele concorra à prefeitura de São Paulo em outubro. Mas o ex-governador paulista recusou a oferta. Diante da divergência cada vez mais intensa no ninho tucano, a direção nacional do partido garantiu a realização de prévias se houver mais de um nome na disputa. A estratégia é defendida pelo senador Alvaro Dias e pelo governador Beto Rica (leia a entrevista do governador abaixo).

Reconhecendo que essa guerra interna tem deixado em segundo plano a reestruturação do partido e a atuação de oposição ao governo federal, os tucanos já começaram a recadastrar filiados em todo o país para realizar prévias na escolha do candidato à Presi­dência. "Ao término de 2012 estaremos em condições de realizar as prévias para as eleições presidenciais. Muita gente no PSDB tem Aécio como seu provável candidato em 2014, mas essa questão só será tratada após as eleições municipais", disse recentemente o deputado Sérgio Guerra (PE), presidente nacional do partido.

A posição de Guerra é a mesma das principais lideranças tucanas no Paraná. Tido como uma terceira via para ser candidato do PSDB, Alvaro Dias afirmou que somente as prévias poderão unir o partido e moldar o discurso para 2014. "Ninguém terá autoridade de ser dissidência no partido depois de participar de um processo democrático e transparente como as primárias", argumenta o senador. "É indiscutível que o Aécio tenha certa preferência, pois é um nome novo na disputa. Mas é muito cedo para privilegiar uma candidatura em detrimento de outra", declarou Beto Richa.

Apesar da pressão de aliados para que se posicione de maneira mais firme para evitar o surgimento de outros candidatos dentro do PSDB, o próprio Aécio desconversa, afirmando que há outros nomes tucanos para a disputa. "Dentre vários quadros, o partido certamente saberá escolher aquele que melhor encarne os anseios da nossa legenda e da grande parcela da população que representamos", disse recentemente em nota publicada no blog do jornalista Josias de Souza, no portal UOL. Na nota, Aécio cita, além de Serra e Richa, os governadores Geraldo Alckmin (São Paulo) e Marconi Perillo (Goiás) como possíveis candidatos a presidente.

  • Ventura, o presidente fictício.
  • Beto Richa (PSDB), governador do Paraná

Nas duas últimas semanas, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi um dos nomes mais comentados na esfera política nacional. De objetivo, o ex-presidente Fer­­nando Henrique Cardoso apontou o parlamentar mineiro como "candidato óbvio" do PSDB à Presidência da República em 2014. Já pelo lado folclórico, Aé­­cio foi comparado ao presidente fictício Paulo Ventura, da minissérie O Brado Retumbante, exibida pela Rede Globo (leia mais nesta página).

Caricaturas à parte, Aécio é visto como o candidato tucano ideal para enfrentar o PT nas próximas eleições, segundo especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo. Para eles, Aécio já deveria ter disputado o pleito de 2010 no lugar do ex-governador paulista José Serra – que, mesmo já tendo amargado duas derrotas na briga pela Presidência, luta mais uma vez para ser o candidato do PSDB.

Salvação tucana

Apesar de jamais ter se colocado abertamente como postulante à Presidência, Aécio é tido como único tucano capaz de recolocar o partido no topo do poder depois de três governos petistas consecutivos.

Para atingir esse objetivo, o mineiro tem FHC como seu principal cabo eleitoral dentro da legenda. Em recente entrevista à revista britânica The Economist, o ex-presidente disse que Aécio é o "candidato natural" do PSDB para 2014. FHC foi além e, em certa medida, atribuiu a Serra a maior parte da culpa pela derrota para Dilma Rousseff em 2010. "Nosso candidato estava isolado mesmo internamente. Não formamos alianças. Foi uma espécie de arrogância. Seria possível vencer", afirmou, ressaltando que Aécio, ao contrário, é "mais apto a estabelecer alianças".

Análise

Para o cientista político Bruno Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apesar de não haver garantias de que Aécio venha a ser um candidato competitivo ou mesmo um bom presidente, ele é a melhor aposta da oposição para 2014.

Segundo Reis, ao contrário de Serra, que é desagregador e cria inimigos até dentro do próprio partido, Aécio tem um estilo conciliador e um ótimo trânsito político, mesmo entre as legendas governistas. "Nesse cenário, ele teria cabos eleitorais não do povão, mas gente com mandato trabalhando para ele em todo o país. Com essa capilaridade, iria para a disputa com alguma chance de vitória. Mas ainda assim dependeria muito de a economia não estar tão bem como hoje", afirma Reis.

Além de concordar com a opinião de FHC, o cientista político Alberto Carlos de Almeida ressalta que, ao defender o nome de Aécio, o ex-presidente tenta frear o ímpeto de Serra para mais uma disputa que só traria desgaste ao PSDB. "O Serra já não era o candidato ideal em 2010, sobretudo diante de uma eleição tão difícil. Teria sido muito melhor ter lançado o Aécio, que ao menos já seria preparado para 2014", avalia.

Na visão de Reis, esse é exatamente o cenário desenhado para as próximas eleições. "Se perder, o Aécio cultiva a posição dele e deixa o tempo passar, para voltar no futuro."

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EntrevistaBeto Richa (PSDB), governador do Paraná

O senhor, assim como o ex-presidente Fernando Henrique, também acha que o Aécio é o nome óbvio do PSDB para 2014?

Veja bem, é indiscutível que o Aécio tenha certa preferência, pois é um nome novo na disputa. Mas é muito cedo para privilegiar uma candidatura em detrimento de outra. Temos ainda uma eleição municipal antes de tudo isso, que será importante para avaliar a condição real do PSDB. O trabalho que precisamos fazer até escolher uma candidatura [a presidente] é fortalecer o partido com a aproximação com outros partidos para fortalecer um projeto.

Com a presidente Dilma Rousseff em alta e a economia indo razoavelmente bem, o que o PSDB precisa fazer para ganhar a próxima eleição presidencial?

Fazer a oposição responsável que o PSDB sempre fez. Mas o trabalho maior é a reaproximação com a sociedade. Aproximar-se dos movimentos sociais, sindicatos, juventude, lideranças estudantis. Estar afinado com a agenda dos brasileiros. O que o país espera de um governo? O PSDB tem condições de dar essas respostas com a capacidade dos nossos quadros. Para isso é fundamental melhora a comunicação coma a sociedade, algo notoriamente identificado por nós, como a maior falha do nosso partido durante o nosso governo [de FHC] e depois dele.

O PSDB não sabe valorizar a parte que lhe cabe no bom momento do país?

Exatamente. Não soubemos nos defender de alguns ataques e não soubemos divulgar e explorar as boas ações que conquistamos. Hoje o Brasil colhe os frutos plantados pelo PSDB – como a estabilidade da economia, que foi o maior avanço de todos os tempos; a Lei de Responsabilidade Fiscal; o fortalecimento das instituições; o respeito internacional. Com a economia estável, o governo pôde avançar em vários setores. E o alicerce foi dado pelo PSDB.

O principal equívoco da campanha de 2010 teria sido quando José Serra se colocou como a continuidade do Lula? Teve até o slogan "depois do Lula vem o Zé..."

Foi um erro. Não souberam explorar e divulgar as boas ações do PSDB. A campanha foi um tanto sem foco, sem caminho claro, com idas e vindas. Isso por um lado é natural em uma campanha, quando não se consegue crescer como se gostaria. Lembro da minha campanha em 2008 [à prefeitura de Curitiba], eu estava muito forte para a reeleição e meus adversários não sabiam se me agrediam ou elogiavam meu governo. Se batiam em mim, crescia a rejeição deles. Se não batiam... Ficaram num dilema. A candidatura da presidente Dilma era muito forte, com um grande padrinho político, o Lula. Nós ficamos meio sem diretriz de campanha.

Como o senhor pode colaborar com isso?

Um bom exemplo que podemos dar em 2014 são as boas administrações de nós, os oito governadores do PSDB. Cabe a nós darmos um exemplo de gestão com resultados e ética. (SM)

Colaborou Sandro Moser.

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