Uma chuva de dinheiro caindo pela janela. A cena insólita foi vista pela advogada Ana Carlota Almeida de um prédio no centro de Londrina, no Norte do Paraná. Ela só entendeu o que estava acontecendo momentos depois, quando um funcionário do doleiro Alberto Youssef desceu correndo para recolher as notas. A antiga casa de câmbio de Youssef funcionava três andares acima do escritório dela. “Parece que aconteceu alguma sindicância e ele teve que jogar o dinheiro para esconder [alguma irregularidade]”, diz.
A cena dá o tom do que viria a se tornar o homem tido pelos vizinhos como “absolutamente normal” naquela época.
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De vendedor de pastel de feira e sacoleiro, que trazia produtos do Paraguai para a elite londrinense, Youssef galgou em poucos anos o posto de maior doleiro do país. Quem o conheceu conta que ele operava com tranquilidade transações financeiras ilegais de milhões de reais ou dólares.
Com um currículo de oito prisões – sendo a última em março do ano passado, na deflagração da Operação Lava Jato –, o doleiro é um dos responsáveis por colocar Londrina e o Paraná no centro dos principais esquemas de corrupção das últimas duas décadas. Fato é que Youssef cresceu na profissão de maneira surpreendente, deixando para trás outros doleiros de alta reputação. A conclusão faz parte da análise de procuradores do Ministério Público Federal (MPF).
“Ele era um doleiro que fazia troca de dólares de balcão, operação de dólar-cabo, para inúmeras pessoas. E, com o passar do tempo ,acabou se especializando em uma atuação mais relacionada a empreiteiras e agentes públicos”, afirma o procurador Deltan Dallagnol, um dos integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato.
Segundo várias pessoas róximas do doleiro, a força motriz por trás da alavancada na carreira de Youssef é explicada pela amizade que mantinha com José Janene, ex-deputado do PP morto em 2010. Janene é tido como um dos políticos mais poderosos de sua época, com influência na região de Londrina e no Congresso Nacional. Era parceiro político de Antonio Belinati.
Se Belinati era o político carismático, Janene era o cérebro da dupla. E Youssef seria o funcionário que lavava o dinheiro. Juntos eram quase imbatíveis. “Hoje, vendo as notícias, imagino que é claro que esse último grupo do Beto [Youssef] estava ligada ao Zé [Janene], porque são pessoas que praticamente serviam à bancada do partido todo. É claro que era através do Zé que eles se conheciam”, afirma Stael Fernanda Janene, ex-esposa do político, numa referência ao esquema de desvios da Petrobras – que abasteceu, em parte, parlamentares do PP.
Ele [Alberto Youssef] tinha proteções em todos os lugares.
Indicado ao cargo por Janene, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal, disse em depoimento de delação premiada que em torno de 1% do valor global dos contratos eram repartidos entre ele, Youssef, outros dirigentes e o partido. Apesar da ligação com o PP, Youssef também fazia negócios para políticos do PT e do PSDB. Seu “profissionalismo” era suprapartidário.
O modus operandi básico do doleiro pode ser dividido em dois formatos principais: complexas remessas ao exterior em operações de dólar-cabo e, com o aprimoramento da fiscalização, contratos fictícios (ou seja, sem prestação de serviços) entre empresas de fachada e empreiteiras. No Banestado, ele usou mais o primeiro modelo. Na Lava Jato, ambos.



