• Carregando...
Dilma Rousseff: presidente eleita deve dar menos importância à política externa do que fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva | Ricardo Moraes/Reuters
Dilma Rousseff: presidente eleita deve dar menos importância à política externa do que fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva| Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Cerimonial

Ahmadinejad não virá à posse, mas mandará mensageiro

São Paulo - O governo iraniano pretende enviar uma carta do próprio presidente Mahmoud Ahmadinejad à sua nova colega brasileira, Dilma Rousseff. A mensagem será entregue por meio de um "emissário especial" de Teerã, que virá para a cerimônia de posse de Dilma, no dia 1º de janeiro.

Formalmente, o texto deve se ater ao protocolo diplomático, parabenizando a presidente pela vitória nas urnas. Nas entrelinhas, porém, a mensagem é inequívoca: o Irã teme que Dilma seja menos indulgente com violações dos direitos humanos no país persa e está ansioso para que a inédita aproximação dos últimos oito anos seja mantida.

Ahmadinejad não deverá comparecer à posse de Dilma, tampouco o ministro das Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki. O portador da carta seria uma autoridade do segundo escalão da diplomacia de Teerã, designada para acompanhar a cerimônia em Brasília.

Diplomatas brasileiros e iranianos ainda não sabem ao certo se a provável mudança de Dilma com relação a direitos humanos no Irã envolverá também a questão nuclear.

Agência Estado

Brasília - A presidente eleita Dilma Rous­­­seff deve rever a estratégia de aproximação do Brasil com o Irã, grande alvo de críticas da política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo interlocutores da presidente, Dilma avalia que a atitude em relação a violações aos direitos humanos no Irã foi "equivocada" e "causou desgaste desnecessário". Para Dilma, associar-se a um regime que apedreja mulheres e aprisiona opositores foi um "enorme erro", dizem interlocutores. O governo brasileiro reluta em condenar a sentença de apedrejamento da viúva Sakineh Ashtiani, acusada de adultério, e se abstém nas votações de resoluções da ONU contra essas práticas, e não condena a opressão a opositores.

Um dos motivos para a não manutenção do chanceler Celso Amorim no cargo seria sua atuação no caso do Irã. Seu desempenho nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) foi considerado um sucesso. Mas ele teria caído em desgraça por causa do Irã. Para fazer um recomeço, seria preciso ter um novo chanceler, já que Amorim ficou muito identificado com a iniciativa. Além disso, a química de Amorim com Dilma não seria das melhores – os dois tiveram algumas rusgas quando ela era ministra da Casa Civil.

Dilma já havia indicado que se opunha à atitude não intervencionista na questão iraniana. "Acho uma coisa muito bárbara o apedrejamento da Sakineh. Mesmo considerando usos e costumes de outros países, continua sendo bárbaro", disse Dilma em entrevista no dia 3 de novembro. Para assessores próximos da presidente, a percepção é de que a aproximação com o Irã pode ter custado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o Nobel da Paz por seu avanço em reduzir a pobreza.

Já Marco Aurélio Garcia, assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, estava mais blindado por ser forte dentro do PT, é bastante ouvido pela presidente e por isso foi mantido no cargo. Sua iniciativa de integração na América do Sul é abraçada com entusiasmo pela presidente eleita, embora os dois divirjam em alguns pontos da política iraniana. A presidente teria restrições a gestos como tirar fotos ao lado do presidente Mahmoud Ahmadinejad, que nega o Holocausto, e minimizar a violência contra a oposição iraniana nas eleições. Marco Aurélio reuniu-se com Dilma na Granja do Torto para discutir política externa na quinta-feira e havia conversado com ela umas duas ou três vezes para dar ideias, além de ter coordenado seu programa de governo. "Temos muito boa relação pessoal e de confiança, ela é mais jo­­vem que eu, mas da mesma geração política", diz Marco Aurélio. "Obviamente vamos divergir em algumas coisas, é natural."

Dilma tampouco endossa a atitude do governo brasileiro de minimizar o problema dos dissidentes cubanos. O presidente Lula chegou a comparar os dissidentes cubanos presos a criminosos comuns. Um interlocutor frequente da presidente diz que ela, por ser mulher e ter sido torturada, é mais sensível a essas questões. "Sou contra preso político por crime de opinião, sou contra alguém ser preso político", disse Dilma, tomando cuidado de não criticar diretamente Fidel ou Raúl Castro.

É ponto pacífico que Dilma irá dedicar bem menos tempo à política externa que seu antecessor. "Essa questão não está no topo da agenda dela", diz um interlocutor. No caso de Lula, o interesse por política externa foi despertado quando ele ainda era líder sindical e viajava muito. Com Dilma, não se espera uma diplomacia presidencial tão ativa.

Interatividade:

Qual deve ser a postura brasileira em relação ao regime iraniano?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]