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São Paulo

Doméstica que roubou pote de manteiga perdeu guarda do filho

Há um ano, quando ficou presa no cadeião de Pinheiros, a doméstica Angélica Aparecida Souza, de 19 anos, viu traficantes e homicidas entrarem e saírem de sua cela antes dela. E não entendia porque isso acontecia. Em sua avaliação, seu crime era menos grave do que matar ou traficar. Angélica foi presa por tentar furtar um pote de manteiga de 200 gramas, que custa R$ 3,00. Por esse delito, o juiz Cesar Augusto Andrade, da 23ª Vara Criminal de São Paulo, condenou a adolescente a 4 anos de prisão em regime semi-aberto.

- Eu não me conformava. Eu tentava esquecer que estava na cadeia para sobreviver. Só pensava no meu filho e na minha mãe -diz a garota.

O pote de manteiga, que ela tentou levar para alimentar o filho, acabou separando Angélica do menino. Por causa da tentativa de furto, ela perdeu a guarda da criança, de 3 anos, que hoje é criada por uma irmã. Ela o visita nos finais de semana e o juiz só vai revisar a perda da guarda quando ela conseguir um emprego com carteira assinada.

- Está difícil porque sempre que vou procurar emprego pedem a ficha de antecedentes criminais. Uma vez menti. Disse que minha ficha era limpa. Dois dias depois, quando a empresa levantou meus dados, descobriu que eu tinha sido presa. Fui mandada embora - afirma.

Órfã de pai e mãe e criando dois irmãos de 15 e 13 anos, Angélica se vira com bicos de doméstica. A mãe morreu dias depois que ela saiu da prisão de insuficiência respiratória. O pai morreu quando ela tinha 12 anos de leptospirose. A adolescente virou arrimo de família.

- Já paguei tudo o que tinha para pagar - diz ela, referindo-se ao tempo de prisão e à morte da mãe.

Ela mora atualmente numa casa de alvenaria que herdou da mãe: uma construção de dois cômodos no Jardim Maia, na zona leste da capital. A residência é simples, mas tem TV, geladeira, som e liquidificador. Fica sob o Viaduto da China.

Sobre o crime, Angélica conta a mesma versão que contou no dia em que ele aconteceu. Pegou a manteiga por desespero, por fome. A adolescente diz que não ameaçou o dono do mercado de morte. Disse que não estava armada. Só pegou a manteiga e escondeu no boné.

- Os seguranças me abordaram e perguntaram o que tinha no boné. Eu mostrei e pedi desculpas. Mas eles me xingaram de ladra e vagabunda. O dono do supermercado chegou e chamou a polícia. Eu fui para a delegacia e depois fui parar no cadeião - conta ela.

Ela se mostra incorformada com tudo o que passou.

- Há casos piores que o meu, como vi na prisão, e as pessoas foram soltas antes. Isso me deixa inconformada - diz a menina.

Vestida numa calça jeans e camiseta branca, ela usa brincos e um colar, únicos traços de vaidade, Angélica diz que não namora e só pensa em arrumar um trabalho.

- É a única forma de reaver meu filho - diz.

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