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Renato Duque: obras de arte como parte do pagamento de propina investigada pela Lava Jato. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Renato Duque: obras de arte como parte do pagamento de propina investigada pela Lava Jato.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

O dono de uma galeria de artes em Botafogo, no Rio, confirmou à Polícia Federal que o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque – cota do PT no esquema de corrupção e cartel na estatal – negociou e foi o beneficiário da compra do quadro “Paisagem de Sabará”, do artista brasileiro Guignard, de US$ 380 mil.

Uma das mais de 200 obras de artes usadas como forma de ocultar propina, apreendidas pela Operação Lava Jato, o quadro foi comprado em 2013 pelo lobista Milton Pascowitch – delator do esquema envolvendo o ex-ministro José Dirceu, Duque e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. “O destino da referida obra era ser entregue a Renato de Souza Duque”, confirmou o empresário Max Gonçalves Perlingeiro, dono da galeria onde o quadro de Guignard estava exposto. Ouvido em 25 de agosto, a confirmação confronta a defesa de Duque, que nega ter recebido valores ilegais e questiona a validade das delações.

“Confirma ter intermediado a venda de uma obra do pintor Guignard para Renato de Souza Duque, no valor de US$ 380 mil”, registrou a PF no depoimento de Perlingeiro. O dono da galeria afirmou que conheceu Pascowitch nesse único encontro. “Ocasião em que, acompanhado de Renato de Souza Duque, houve uma negociação para que um quadro que estava exposto em sua galeria fosse vendido.”

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A obra de arte foi paga por Milton Pascowitch “através de conta no exterior” e por iniciativa dele, diz o dono da galeria.

O quadro é do artista brasileiro Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), da década de 1940. Pertencia ao empresário e amante das artes Silvio Meyerhof, ex-presidente da Olimpus que morreu em 2014, e estava exposta na galeria de Perlingeiro, no Rio. É um óleo sobre madeira, medindo 38x56 centímetros, emoldurado.

O dono da galeria disse que não recebeu nada pela intermediação de venda do quadro, “fez apenas um favor para Silvio Meyerhof, que à época estava enfermo”. A obra de arte foi entregue a um emoldurador de quadros que foi que levou Duque e Pascowitch até a galeria, conta Perlingeiro. O quadro de Guignard foi descoberto porque a PF quando policiais localizaram na casa de Duque, em março deste ano, certificado da obra, com timbre da galeria de arte e data de 25 de fevereiro de 2013.

Em sua delação, Pascowitch apontou o nome do marchand Max Perlingeiro como vendedor de quadro de Guignard para Duque a pedido dele. “Informou Milton que o pagamento foi feito no exterior, via transferência da MJP Engineering para a conta da Santa Terezinha Ltda, no banco PICTET, em 17 de abril de 2013?, registra a delação premiada do lobista.

Segundo ele, os recursos usados para a compra “foram deduzidos de valores a receber por Duque junta a Milton em razão de propina de contratos” de plataformas de petróleo. Para provar o que diz, Pascowitch entregou o comprovante de transferência de sua conta, no valor de US$ 380 mil, na data citada.

Colecionador

O depoimento do dono da galeria onde estava a obra mais valiosa do artista Guignard que pertencia a Duque reforçam os elementos de prova de que o ex-diretor de Serviços que era sustentado no cargo pelo ex-ministro José Dirceu usava quadros e obras de arte como forma de ocultar os valores da corrupção.

Indicam ainda que mesmo depois de deflagrada a Lava Jato, ele continuou a investir em obras. Na casa de Duque foram apreendidos pelo menos dez obras atribuídas a Guignard, segundo registro de apreensão.

Perlingeiro afirmou à PF que vendeu “outras duas obras de artes para Renato de Souza Duque”. Uma em fevereiro de 2013 de um desenho também do artista Guignard. “O quadro é um composição religiosa, com a técnica guache sobre papel preto, com aproximadamente 35X25 com, negociado pelo valor de R$ 33 mil”, afirmou o dono da galeria.

Outra compra na galeria pelo ex-diretor ocorreu em abril de 2014, um mês depois de ser deflagrada a fase ostensiva da Lava Jato - levando para a cadeia o seu ex-parceiro de Petrobras, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa. “Tratava-se de outra obra do artista Alberto da Veiga Guignard”, afirma o empresário. Segundo ele, foi um óleo sobre madeira com “pequeno estudo de paisagem”, negociada por R$ 60 mil.

Duque foi preso no final de 2014 e solto, após recurso. Em março, quando foi deflagrada a Operação Que País é Esse?, o ex-diretor foi novamente levado pela cadeia, onde permanece preso preventivamente, desde então, em Curitiba.

Na ocasião, foram apreendidas as primeiras obras em seu apartamento, no Rio, 131 ao todo. Algumas delas em um cômodo secreto. No mês passado, na Operação Pixuleco, em que foi preso o ex-ministro José Dirceu, a PF arrecadou novas obras de artes que estavam no Rio.

O delegado da PF Igor Romário de Paula afirmou que “usar quadros é um mecanismo eficiente de difícil constatação de diferença de valor de compra e venda”. “A avaliação é subjetiva, então é um procedimento que estamos vendo que foi usado por alguns operadores no esquema junto à Petrobras.”

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