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Segurança

Duas CPIs já tinham alertado governo de SP sobre crime organizado nas prisões

O governo de São Paulo já havia sido alertado sobre o risco do crescimento do crime organizado dentro das prisões em 2000, pelo então corregedor da Secretaria de Administração Penitenciária, Renato Laércio Talli. Ele ocupou o cargo por apenas seis meses, entre abril e setembro de 2000. Em 2001, em CPI aberta pela Assembléia Legislativa do estado, o desembargador afirmou que havia identificado cinco facções criminosas dentro dos presídios e que advertiu o governo sobre a presença delas.

- O problema do estado foi não ter levado a sério as informações, permitindo que essas organizações se estruturassem. Faltou uma disciplina rigorosa e o cumprimento da lei - disse Talli, hoje desembargador aposentado.

- Foi na ausência do estado que essas organizações ganharam força nos presídios, assim como o crime, antes desorganizado, se tornou organizado no estado - disse Talli à CPI, na época.

O relatório de Talli chegou a ser apresentado em um seminário internacional sobre modernidade e eficácia na instituição policial, promovido pela Secretaria de Segurança Pública.

- Mas ninguém levou o dossiê a sério. Eu apresentei para o Nagashi (Furukawa, secretário de Administração Penitenciária), mas ninguém levou a sério. O relatório foi considerado fantasioso. A falta de estrutura levou o sistema penitenciário ao colapso e ao aumento da corrupção dentro dos presídios - disse o desembargador.

A situação dos presídios paulistas já foi alvo de duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) na Assembléia Legislativa, em 1995/1996 e 2001/2002. Nas duas, o relatório final alertava o governo paulista sobre o crescimento do poder de grupos organizados dentro e fora dos presídios.

- Esses movimentos foram ganhando força e nós alertamos sobre isso, sem que nada fosse feito - disse o ex-deputado Wagner Lino (PT), que foi relator geral da CPI do Sistema Prisional de 95 e 96 e sub-relator sobre falhas da política penitenciária do estado na comissão instalada em 2001 e 2002, depois da mega-rebelião em 29 presídios.

Na avaliação de Lino, se o relatório fosse levado a sério a situação do sistema penitenciário seria modificada e o fortalecimento do crime organizado poderia ter sido evitado. Segundo ele, quando a primeira CPI começou, depois de 44 rebeliões, já era notório o colapso do sistema.

- Esperávamos uma força de inteligência para acompanhar as organizações. Quem eram elas, onde elas se apoiavam, de onde vinha o dinheiro que as alimentavam e até como viviam os familiares dos líderes. Mas nada disso aconteceu. Nem mesmo o investimento no sistema prisional que possibilitasse a extinção da corrupção aconteceu - disse Lino.

A deputada Rosmary Corrêa (PSDB) foi a presidente da CPI em 2001. Ela confirmou que apenas a metade das propostas apresentadas pela comissão foram aceitas. O Carandiru, maior complexo penitenciário do estado, foi desativado, novos presídios foram construído e os presos foram impedidos de deixar a cadeia para participar de eventos.

- Não houve sucesso no acompanhamento da formação de facções criminosas. Era preciso uma investigação maior. Entender se as facções estavam se organizando e ganhando espaço em outros presídios. Houve falhas, realmente e o ponto crucial foi não ter dado atenção para o fortalecimento dessas facções - admitiu Rosmary.

A deputada lembrou que as facções também ganharam força com o aumento da população carcerária. Em 2001, eram apenas 55 mil presos. Atualmente, são mais de 140 mil em todo o estado de São Paulo. Para ela, a corrupção aumentou muito e ficou muito fácil entrar com celulares nas cadeias.

Segundo Talli, a polícia sabe atualmente os nomes dos líderes das facções criminosas. Isso torna o trabalho para demantelamento dessas organizações mais fácil. O vereador Wagner Lino afirmou que grande parte (90%) da população carcerária apenas recebe ordens dos líderes. Segundo ele, se a base dessas facções for atacada, ficará mais fácil interromper o crescimento dos grupos organizados.

Procurada, a corregedoria da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) repassou o pedido de informações para a assessoria de imprensa da própria SAP, que ainda não se manifestou.

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