| Foto: Antônio Chahestian/Antônio Chahestian

Candidato do governador Geraldo Alckmin nas prévias do PSDB que definirão o nome da legenda na disputa pela prefeitura da capital, o empresário João Doria Junior é filiado ao PSDB desde o ano 2000, mas pouca gente sabia disso até junho do ano passado.

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Como presidente do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), organização que conta com cerca de 1.700 empresas filiadas, João Doria sempre zelou pelo ecumenismo partidário nos 182 eventos que promove anualmente.

O modelo de negócio que João Doria trouxe ao Brasil no começo de 2000 e que o deixou rico, o chamado “networking” não combina com engajamento. Embora não goste do rótulo, o Lide prosperou ao reunir e aproximar CEOs, governadores, ministros, parlamentares e jornalistas em eventos sofisticados e reservados.

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O principal deles, o Fórum de Comandatuba, realizado em uma paradisíaca ilha na Bahia, sempre foi frequentado por políticos que vão do PCdoB ao DEM, passando, é claro, por PSDB e PT. Entre as figuras carimbadas dos encontros estão os ministros José Eduardo Cardozo (PT), da Justiça, Jaques Wagner (PT), da Casa Civil, e o vice-presidente da República Michel Temer (PMDB).

Em períodos eleitorais, Doria costuma fazer doações para candidatos que são arquirrivais dos tucanos. Entre eles estão Orlando Silva (PC do B-SP), vice-líder do governo na Câmara dos Deputados, a deputada estadual gaúcha Manuela DÁvila (PC do B) e Paulo Skaf (PMDB), presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “O Lide tem uma relação republicana com os políticos, tanto que o presidente do Conselho de Administração é o ex-ministro do Lula Luiz Furlan. Também doei para candidatos do PT. Nunca discriminei”, diz Doria.

Quando sua falta de familiaridade com o PSDB é lembrada por apoiadores de seus adversários nas prévias –o vereador Andrea Matarazzo e o deputado Ricardo Tripoli – Doria lembra que fez campanha para o tucano Franco Montoro para o Senado em 1978 e que, em 1982, foi um dos coordenadores de sua campanha ao governo de São Paulo. “Nunca escondi minha filiação ao PSDB. Isso não tira nem aumenta a respeitabilidade. Onde está escrito que precisa de ter vida partidária para ser filiado?”, afirma o empresário.

Polarização

Quando João Doria comunicou a Geraldo Alckmin, em junho do ano passado, que estava interessado em disputar as prévias do PSDB a resposta do governador de São Paulo foi curta e objetiva: “Viabilize-se e siga em frente”.

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Em deferência ao antigo amigo e aliado (os dois se conhecem há 35 anos), Alckmin orientou um pequeno grupo de correligionários com trânsito na máquina partidária a promover uma “imersão” com o agora pré-candidato do partido.

Foi então que João Doria foi apresentado ao mapa dos 58 diretórios zonais do PSDB na capital, suas principais lideranças e às áreas de influência dos “caciques” detentores de cargos eletivos ou de confiança na imensa máquina que o partido construiu nos 20 anos em que governa o estado.

No entorno do governador e no partido, o gesto foi considerado apenas um agrado ao amigo que sempre lhe abriu as portas do empresariado paulista. Naquele momento, nem mesmo amigos e funcionários de Doria levaram a candidatura a sério. Mas o empresário levou e investiu pesado no projeto.

O crescimento vertiginoso de sua pré-candidatura, que conta com uma estrutura que lembra as primárias norte-americanas, provocou um terremoto no PSDB.

Até então considerado favorito, Andrea Matarazzo – que é apoiado por nomes como Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aloysio Nunes Ferreira e Alberto Goldman – foi o primeiro a concluir que as digitais de Alckmin estavam por trás das adesões de peso que começaram a ser contabilizadas no time de Doria.

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Secretários de Estado, militantes de base, vereadores, dirigentes de estatais, deputados e integrantes da direção partidária mergulharam de cabeça no projeto. Embora o próprio governador procurasse manter distância do processo, foi ficando cada vez mais claro que o partido estava diante de um racha.

Em meados de janeiro, um terceiro concorrente, Ricardo Tripoli, se inscreveu na disputa. Ao concluir que o cenário estava consolidado, Geraldo Alckmin finalmente entrou em cena.

O governador considerou que a candidatura de Matarazzo, que foi construída à sua revelia, não está afinada com seu projeto de disputar o Palácio do Planalto em 2018. Foi então que, na semana passada, o governador decidiu posar em uma foto ao lado Doria em um posto de gasolina fazendo o sinal de sua campanha com os dedos.

“O governador tem o mesmo direito de outros militantes de se posicionar, como fizeram o ex-presidente (FHC) e dois ex- governadores (Goldman e Serra)”, diz o deputado Silvio Torres, secretário-geral do PSDB. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.