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Eleitores recém-inscritos defendem voto facultativo

Quem já está na idade na qual o voto é obrigatório, defende voto facultativo para todos. Para Bruno Spezzoto, 19 anos, o voto facultativo é o ideal. "Quando é obrigado a votar, o cara vota no candidato que dá beneficio para ele", acredita Spezzoto. Jad de Oliveira Vicente, 18 anos, que vai votar pela primeira vez, também acredita que o voto facultativo seria uma boa saída. "Se fosse facultativo, o cara votava com mais consciência, mas quando é forçado a votar...", analisa.

Apatia

Para Marco Antônio Rossi, professor universitário e mestre em ciências sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), o desencanto dos jovens "faz parte da apatia generalizada provocada pelo sistema político". Na avaliação dele ocorre um processo de "privatização da questão política", da qual a corrupção é uma das faces. "O jovem é muito ligado à (idéia de) formação profissional, melhoria da qualidade de vida. Mais que as outras faixas etárias, o jovem tem essa preocupação com o amanhã, mas não tem visto na política respostas para essa demanda", analisa.

Para Mário Sérgio Lepre, professor universitário e mestre em ciência política, o fenômeno é reflexo da percepção de que a política está cada vez mais "individualista". "Isso é um desencanto com o público, a idéia de que a política é muito individualista: quem se interessa por política busca vantagem própria, individual", avalia Lepre. Para ele, a percepção é de que quem se envolve em política está interessado em "colocar os apaniguados nos cargos públicos".

Se, ao pensar na relação entre política e juventude, a imagem que vem à cabeça do leitor é a da geração rebelde de 1968 (aquela do "é proibido proibir") ou dos caretas e acomodados caras-pintadas da década passada (que tiveram gás para se mobilizar e ajudar a derrubar o ex-presidente Fernando Collor de Mello), é melhor mudar seus conceitos. A juventude brasileira dos anos 2000 não está nem aí para a política. E mais: o interesse do jovem londrinense por política é menor do que no Paraná e no Brasil.

O principal sintoma desse desinteresse é a baixa procura dos londrinenses na faixa dos 16 a 17 anos de idade pelo título de eleitor. O peso do eleitorado nessa faixa etária em Londrina é o menor desde 1992, o mais antigo que está disponível na página do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na internet – www.tse.gov.br.

Os eleitores com 16 anos de idade respondem por 0,25% do eleitorado londrinense, enquanto os de 17 anos respondem por 0,68%. Em números absolutos são 866 eleitores com 16 anos (436 meninos e 430 meninas) e 2.312 eleitores com 17 anos (1.132 meninos e 1.180 meninas). Para efeito de comparação, os eleitores que têm entre 18 e 20 anos de idade, faixa em que o voto já é obrigatório, correspondem a 5,85% do eleitorado (são 20.015 votantes nessa faixa etária).

A comparação com os números do eleitorado paranaense e nacional dá a dimensão do desinteresse da juventude londrinense pela política. No Brasil, os eleitores de 16 anos representam 0,86% do eleitorado e os de 17, 1,38%; o Paraná fica abaixo da média nacional, com 0,7% e 1,25%, respectivamente.

Como o voto é facultativo para quem tem 16 e 17 anos, as inscrições na Justiça Eleitoral são um indicador importante do interesse desses jovens pela política em geral e pelas eleições em particular. Eles conquistaram o direito ao voto a partir da Constituição promulgada em 1988.

A queda na participação desses jovens no processo eleitoral em Londrina chama atenção. Os de 16 anos representavam 1% dos eleitores em 1991 e os de 17 anos, 1,43%. O ano no qual houve maior aproximação destes números foi 2004, quando os jovens de 16 anos representaram 0,8% do total e os de 17 anos, 1,25%. Depois disso, só houve queda.

Falta "convite"

Na avaliação de Dênis Lima dos Santos, presidente da União Londrinense dos Estudantes Secundaristas (ULES), a juventude pode até não ter título de eleitor, mas se expressa através de outros canais. "O jovem não está participando da política porque ninguém convidou ele", diz Santos, com base numa pesquisa nacional a que teve acesso. "Nas escolas que visitamos em Londrina, principalmente as de periferia, há boa participação dos jovens."

Para o líder, outro motivo para a fuga da política institucional são os freqüentes escândalos que abalam o meio político. "A crise da Câmara de Londrina, por exemplo, foi estourada a partir de um vereador jovem [Henrique Barros]", avalia.

Priscila Fernanda da Costa Garcia, estudante de ciências sociais e vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UEL, avalia que, apesar de ter acesso à informação, os jovens mantêm uma postura passiva diante da política. "O que ocorre é que o jovem recebe muita informação, mas tem pouco espaço para poder interpretar melhor essas informações."

Para eles, a política anda vergonhosa e os políticos estão mais preocupados em resolver seus problemas particulares. Por outro lado, eles reconhecem a importância da política na vida das pessoas e até se interessam pelo assunto, embora não participem de grêmio estudantil ou de outros movimentos.

Na manhã da quarta-feira, o JL conversou com um grupo de nove adolescentes entre 16 e 19 anos, alunos do Instituto Politécnico de Londrina (Ipolon). Entre os sete do grupo que têm 16 ou 17 anos, três não tiraram o título de eleitor: dois porque deixaram para a última hora e um por convicção.

"Dá vergonha essa política. Os caras que roubaram um monte agora vêm pedir o voto", diz Marcos Caleb de Aquino, de 16 anos, que optou por não requerer o título de eleitor. Ele até assiste ao horário eleitoral gratuito de rádio e televisão, mas só consegue achar a propaganda política "engraçada".

Pedro Victor Fernandes, 17 anos, e Bruno Guimarães, 17 anos, queriam tirar o título, mas não vão votar neste ano porque deixaram para a última hora.

Entre os que tiraram o título, apesar de o voto nessa idade ser facultativo, a disputa eleitoral não conseguiu empolgar. "Acho que a maioria deles está na política só para ganhar dinheiro e não fazer nada. Não dão confiança (ao eleitor)", diz Otávio Bonesi, 16 anos.

Mateus Scudeller, 17 anos, considera a política interessante, mas não gosta da postura dos políticos. "A política em si é massa, mas do jeito que os políticos estão levando, desanima." Felipe Garcia, 17 anos, revela o mesmo desânimo: "Não tem ninguém (candidato) que eu ache bom para votar", reclama. Para Nedle Calmon Rodrigues, 17 anos, "boa parte dos políticos não são íntegros e estão lá para se arrumar".

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