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Brasília - Gravações de conversas entre os principais dirigentes do Ministério da Justiça, publicadas pela revista Veja desta semana, revelam pressões do Palácio do Planalto para que a Pasta use a Polícia Federal (PF) e seus meios investigativos para produzir dossiês contra adversários políticos e proteger dirigentes do governo envolvidos em denúncias. Em um dos diálogos, Pedro Abramovay, ex-secretário de Assuntos Legislativos do Ministério, diz ao então secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior: "Não aguento mais receber pedidos da Dilma e do Gilberto Carvalho [chefe de Gabinete da Presidência da República] pra fazer dossiês. Eu quase fui preso como um dos aloprados." Tuma Júnior perdeu o cargo em junho e foi substituído por Abramovay.

Segundo a Veja, a conversa mais longa, de 50 minutos, foi gravada em janeiro, no gabinete de Tuma Jr. Nela, os interlocutores discutem a sucessão do ministro da Justiça, Tarso Genro, que deixaria o cargo em fevereiro. Abramovay revela desejo de trabalhar na Or­­ganização das Nações Unidas (ONU). Em tom de desabafo, afirma que já não conseguia conviver com a pressão de Dilma [supostamente, a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff] e de Gilberto Carvalho para a produção de dossiês contra adversários. Para Abramovay, a nomeação de Luiz Paulo Barreto para a vaga de Genro tornaria a pressão pior ainda, "pela falta de força política do novo ministro". Barreto é funcionário de carreira.

Com a saída de Genro, Barreto foi designado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para cumprir o mandato tampão. "Isso [o cargo] é maior que o Luiz Paulo. Agora eles vão pedir [informações para dossiês] para mim, pedir para a polícia [federal]", desabafou Abramovay na ocasião, conforme a transcrição publicada.

Abramovay disse à revista que nunca recebeu pedido al­­gum para fazer dossiês e negou ter participado do suposto "grupo de inteligência" da campanha de Dilma. Acrescentou que exerceu funções no governo desde 2003. Por meio da assessoria de imprensa, ele informou que não faria qualquer comentário adicional até tomar conhecimento do conteúdo dos áudios.

Na reportagem, Tuma Jr. acusa também o diretor geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, de fazer parte do esquema de pressões e de despachar ordens para proteger amigos e perseguir inimigos do governo diretamente do gabinete do Palácio do Planalto. Num dos diálogos publicados pela revista, o ministro Barreto discute com sua chefe de gabinete, Gláucia de Paula, e Tuma, sobre o poder de Corrêa, que teria conseguido, entre outras coisas, evitar o indiciamento de Gilberto Carvalho em investigações nas quais era acusado de envolvimento com ações criminosas. A PF informou que não vai se manifestar.

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