São Paulo - A sucessão de escândalos estaduais envolvendo políticos e autoridades com desvio de recursos públicos fez o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, cobrar fortemente mudanças na legislação do país. Responsável pelo comando do principal órgão de controle do governo federal, o ministro defende que a "sociedade pressione mais o Congresso" para modificar o Processo Penal brasileiro. Na prática, ele quer garantir que os tribunais ganhem agilidade para punir acusados da prática do chamado crime do colarinho branco.

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"Muitos corruptos ainda insistem em praticar as mesmas condutas por acharem que o risco de serem presos ainda é baixo", diz Jorge Hage. "Talvez porque não acreditem na condenação definitiva, pois em nosso país, infelizmente, as leis e a jurisprudência dominante permitem a eternização dos processos, e o Supremo Tri­­bunal Federal só admite a prisão após o trânsito em julgado. Vale dizer, nunca", lamenta o ministro.

Por causa do aumento de casos, a CGU vai assinar amanhã um protocolo de cooperação técnica com o Ministério Público Federal (MPF) para ampliar suas ações de combate a crimes de corrupção envolvendo recursos federais. Com isso, passará a haver cruzamentos entre todas as bases de dados que as duas instituições possuem.

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Nas últimas semanas, denúncias de corrupção explodiram em vários estados. No Amapá, durante a Operação Mãos Limpas da Polícia Federal, foram presos o governador Pedro Paulo Dias (PP) e o ex-governador Waldez Góes (PDT), além de outras 16 pessoas. No Tocantins, o Ministério Público investiga a suposta participação do governador Carlos Gaguim (PMDB) num esquema de fraudes em licitações. Outros escândalos desse tipo também estão sendo investigados em Mato Grosso do Sul, Alagoas e Roraima.

Protelação

Nas vezes em que há prisões, elas são apenas temporárias. Quando os processos são abertos, os acusados respondem em liberdade e jogam com a protelação de seus casos na Justiça. Essa é exatamente a maior queixa do ministro Jorge Hage.

O ministro lembra que várias das ações que levaram a prisão de políticos, como ocorreu há duas semanas no Amapá, foram feitas pela Polícia Federal, com participação da CGU e do Ministério Público nas investigações. Mas, realista, Hage acredita que dificilmente terão consequências quando forem repassadas para o Poder Judiciário.

"É verdade que as conse­­quências dessa atuação nos tribunais têm sido bem mais tímidas. E, por isso, a sensação de impunidade ainda persiste no Brasil", explica o ministro.

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"Quantos réus conhecidos da vida pública brasileira e com algum dinheiro já foram para a cadeia no Brasil por crimes de colarinho branco?", indaga, citando o juiz Nicolau dos Santos Neto, ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, e o ex-banqueiro Salvatore Cacciola.

Hage contou que o Conselho Nacional de Justiça, em recente levantamento, encontrou "apenas 17 condenações transitadas por lavagem de dinheiro" no país inteiro.