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Guilherme Leal e Marina Silva: boa votação no país valorizou o apoio do PV, que deve ser disputado por petistas e tucanos | Leonardo Soares/AE
Guilherme Leal e Marina Silva: boa votação no país valorizou o apoio do PV, que deve ser disputado por petistas e tucanos| Foto: Leonardo Soares/AE

Experiência

De manhã, Lula já previa segundo turno

Folhapress

Desde cedo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva parecia saber que a sua candidata, Dilma Rousseff, enfrentaria um segundo turno. Ao votar, às 9h30 numa escola em São Bernardo do Campo, Lula admitiu a dificuldade da disputa, ao lembrar que ele próprio não conseguira liquidar de primeira as duas eleições que venceu.

Àquela altura, o presidente já estava municiado por pesquisas internas do PT apontando a provável prorrogação da disputa.

"A eleição tem dois turnos. Eu não ganhei no primeiro turno nenhuma eleição, nem em 2002 nem em 2006. Apenas vai demorar 30 dias a mais, 30 dias de luta. E vamos para a disputa. Não é fácil obter 50% de votos do povo brasileiro no primeiro turno. Ela está numa situação privilegiada’’, declarou.

Lula aparentava abatimento incomum. Não sorriu nem fez sinais para os fotógrafos, como costumava fazer ao votar em outros anos, e mal conversou com os mesários de sua seção.

Num raro momento de bom humor, afirmou, sem ser questionado, que lastimava não ter visto seu próprio rosto na urna eletrônica.

"Eu só lamentei que é a primeira vez que eu vou votar e não tem minha cara lá no telão desde que foram restabelecidas as eleições para presidente, em 89’’, disse.

O chiste embute uma certa melancolia de alguém que se acostumou a, desde a redemocratização do país, figurar como candidato competitivo nas batalhas pelo Planalto.

No período, o petista concorreu em cinco eleições presidenciais, sendo segundo colocado em três (1989, 1994 e 1998) e ganhando em duas (2002 e 2006).

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, vai procurar nos próximos dias a candidata derrotada do PV, Marina Silva, e pedir o apoio dela a Dilma Rousseff (PT), que enfrentará José Serra (PSDB) no segundo turno. A estratégia começou a ser traçada ontem à noite, em uma reunião que juntou no Palácio da Alvorada o próprio Lula e mais uma dezenas de políticos e ministros da campanha de Dilma.O governo quer, entre outros objetivos, barrar a negociação – já destravada no bastidor dos tucanos – para desalojar o DEM da vice de Serra e entregar a vaga ao PV de Marina. O nome mais cotado é o do deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), que ficou em segundo lugar na disputa pelo governo do Rio. Ontem à noite, Gabeira evitou comentar o assunto, mas disse que vai apoiar Serra no segundo turno. "O que eu posso falar agora é que tenho o compromisso de apoiar o Serra."

Reunião

Com a residência oficial da Presidência transformada em comitê de campanha do PT, o presidente e a candidata Dilma acompanharam a apuração dos votos e depois comandaram uma reunião em que estiveram presentes, além de Dutra, o coordenador Antonio Palocci, o assessor especial do Planalto Marco Aurélio Garcia, os ministros Franklin Martins (Comunica­ção Social), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Guido Mantega (Fazenda), Henrique Meirelles (Banco Central), Carlos Eduardo Gabas (Previdência), Gilberto Carvalho (secretaria-geral da Presidência) e Altemir Gregolin (Pesca). A pauta básica da reunião foi a estratégia de negociação com Marina para a campanha do segundo turno.

O resultado das urnas surpreendeu o comando da campanha de Dilma, que esperava a vitória da petista na eleição de ontem. Pesquisas em poder do PT indicavam que a ex-ministra da Casa Civil venceria com uma diferença de 14 milhões de votos em relação a Serra.

No diagnóstico da equipe petista, foi justamente Marina quem mais tirou votos da candidata do PT na reta final. Agora, embora o presidente do PV, José Luiz Penna, tenha dito que os verdes devem avalizar a candidatura de Serra, Dutra não acredita em posição unificada do partido e fará um apelo pessoal a Marina.

Coordenador da campanha de Dilma, ele é amigo da senadora, que foi filiada ao PT durante 30 anos e comandou o Ministério do Meio Ambiente de janeiro de 2003 a maio de 2008.

Dutra quer acertar uma conversa entre Marina e Dilma, mas, antes, pretende fazer o meio de campo da aproximação. No governo Lula, as duas protagonizaram vários contenciosos. Gerente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Dilma defendia agilidade na concessão de licenciamentos ambientais, mas Marina pregava cautela nesses procedimentos. Não foram raras as ocasiões em que a chefe da Casa Civil perdeu a paciência com a então ministra do Meio Ambiente.

Em conversas reservadas, Marina afirmou que pretende ficar neutra no segundo turno, mas o PT vai assediá-la e insistir para que ela reveja sua posição. O apelo será para o seu "coração petista".

O PV é aliado ao PSDB de Serra nos três maiores colégios eleitorais do país (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro). Mesmo assim, as declarações de Penna, antecipando apoio ao tucano, provocaram mal-estar no partido. Na prática, o PV está dividido e há posição para todos os gostos, desde a neutralidade até a liberação do voto.

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