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O governador eleito do Paraná, Beto Richa (PSDB)  é cercado pela imprensa durante a comemoração da vitória, no TRE:  governo vai priorizar a saúde e a segurança pública, diz o tucano | Albari Rosa/Gazeta do Povo
O governador eleito do Paraná, Beto Richa (PSDB) é cercado pela imprensa durante a comemoração da vitória, no TRE: governo vai priorizar a saúde e a segurança pública, diz o tucano| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Margem de erro

Tucanos questionam pesquisas

Após impedir a divulgação de sete levantamentos de intenção de voto no Paraná durante a campanha, Beto Richa disse ontem que irá promover no seu governo uma discussão sobre os institutos de pesquisa. "Se eles têm margem de erro, não podem errar muito acima da margem porque aí sim é um desserviço à democracia, induz o eleitor ao erro. Acho que a democracia e a cidadania não ganham nada com isso", disse Richa ontem, durante a comemoração da vitória no Tribunal Regional Eleitoral, em Curitiba.

Para o vice, Flávio Arns, as pesquisas merecem uma investigação. "Esse é um debate que tem de ser feito e aprimorado no processo político."

O presidente estadual do PSDB, Valdir Rossoni, disse que o partido tinha razão em barrar a divulgação dos resultados. "Uma das coisas mais acertadas que nós fizemos foi contestar a metodologia das pesquisas. Prova disso é que nossa aferição bateu em cima", afirmou. "Se eu fosse viver novamente os últimos dez dias [de campanha], faria da mesma forma."

Rossoni disse ainda que pedir a impugnação foi uma decisão do partido e que ele assume a responsabilidade. "Nós não podemos perder uma eleição para pesquisas. A prova está aí. Nossas pesquisas internas mostravam outros números", afirmou.

Bruna Maestri Walter e Euclides Lucas Garcia

Eleição de 2008

Novo governador pode assumir sendo investigado por caixa 2

O tucano Beto Richa venceu a disputa estadual, mas ele ainda tem uma pendência judicial referente à campanha para a prefeitura de Curitiba em 2008. Richa e o atual prefeito, Luciano Ducci (PSB), são alvos de uma ação por um suposto caixa 2.

A investigação está paralisada por decisão da presidente do TRE-PR, Regina Portes. Mas, há duas semanas, a Procuradoria-Geral Eleitoral, em Brasília, deu parecer favorável à continuidade da investigação. A decisão sobre a continuidade ou não caberá ao ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Aldir Passarinho Júnior, relator do caso.

Em junho de 2008, a Gazeta do Povo revelou a existência de um vídeo em que 23 dissidentes do PRTB ligados ao Comitê Lealdade, de apoio a Beto Richa, aparecem recebendo dinheiro. Em 2009, quatro partidos de oposição a Richa entraram com uma ação alegando que o PSDB cometeu crime eleitoral por não prestar contas do dinheiro movimentado no Comitê Lealdade.

Licitações frustradas

O histórico de Beto Richa como executor de obras não é positivo. Em sua gestão como prefeito, ele não conseguiu dar bom encaminhamento às grandes licitações – a do transporte público, requisitada desde 2000, só foi concluída neste ano, após ele sair do governo; a do consórcio do lixo e das funerárias ainda não foram concluídas; a dos radares sofreu muitos atrasos e motivou um contrato emergencial. Em sabatina na Gazeta do Povo, o tucano creditou a demora nas licitações aos interesses econômicos das empresas envolvidas. (RF)

  • Veja como ficou o resultado final da votação

O ex-prefeito de Curitiba Beto Richa (PSDB) superou a máquina pública dos governos federal e estadual e conseguiu se eleger governador do Paraná no primeiro turno. Ele recebeu 3.039.774 votos, o equivalente a 52,4% dos votos válidos. Com a vitória, ele mantém sua trajetória política nacional e pode se tornar um dos grandes nomes da oposição – caso a candidata Dilma Rousseff (PT) confirme a preferência do eleitorado e vença o segundo turno na disputa pela Presidência. Richa, entretanto, diz que não tem essa pretensão – ele se considera um "soldado" a serviço do PSDB.

O tucano aguardou a conclusão da apuração em sua casa. Pro­­clamado vitorioso, foi à sede do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e conversou com jornalistas, aparentando muita tranquilidade. "É um novo tempo no Paraná. Estamos renovando a política do estado. Virando a página da história e abrindo uma nova, com entendimento, com diálogo, com resultados, com democracia, com uma gestão moderna, respeitando a opinião de todo o nosso povo."

O principal adversário de Richa, Osmar Dias (PDT), teve 2.645.113 dos votos (45,6%). O apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que contribuiu para o crescimento do pedetista nas últimas pesquisas de intenção de voto, se mostrou insuficiente.

O próximo governador do Paraná disse que esta campanha foi a mais acirrada que já disputou. "Não é fácil enfrentar o presidente da República, a candidata do PT, enfrentar os candidatos ao Senado", afirmou. Para Richa, a máquina estadual e federal foi usada de "forma indiscriminada".

Nas duas últimas semanas, cresceu a expectativa de uma possível virada de Osmar Dias, pois a coligação de Richa conseguiu que a Justiça impugnasse várias pesquisas de intenção de voto no Paraná. "A proibição da divulgação da pesquisa fazia crer que Osmar Dias poderia estar na frente. Pelo contrário, Beto venceu, e no primeiro turno", diz a professora Celene Tonella, coordenadora do mestrado de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (UEM). "Houve divergências na coligação de Richa. Primeiro o Ricardo Barros [candidato ao Senado] ameaçou rompimento. Alvaro Dias declarou voto no Osmar Dias. Parecia que a campanha estava fazendo água", observa o cientista político Rudá Ricci, professor da PUC em Minas Gerais.

Expectativas

Apesar de vencer no primeiro turno, Richa não obteve o amplo apoio dos paranaenses, não conseguiu eleger os senadores de sua chapa (Gustavo Fruet e Barros), nem a maioria na Assembleia – o que pode mudar ao longo do mandato. "A questão da bancada é muito importante. Os acordos para fazer maioria são uma das coisas que mancham a política nacional", avalia Celene, da UEM.

"A vitória em primeiro turno foi respeitável, mas ele precisa planejar como conquistar os quase 46% de eleitores que não votaram nele", observa o cientista político Carlos Luiz Strapazzon. "Está na hora de termos um governo mais eficiente e transparente, preocupado com os resultados de seus programas. Se o Beto Richa conseguir fazer isso, vai trazer inspiração ao PSDB."

Richa disse ontem que pretende priorizar a saúde e a segurança no governo, mas que irá precisar de "um certo tempo" para colocar as propostas em prática. A primeira ação será escolher a equipe de trabalho. O único nome do secretariado que Richa adiantou foi o do vice-governador eleito, Flávio Arns, para a Secretaria de Edu­­cação. Antes do resultado, o governado Orlando Pessuti (PMDB) disse que receberia hoje o governador e o vice eleitos para iniciar a transição do governo.

Liderança

Segundo Rudá Ricci, a vitória no Pa­­raná coloca Richa entre os expoentes da oposição, mas em um nível ainda bastante inferior ao do mineiro Aécio Neves – eleito para o Senado pelo PSDB de Minas Ge­­rais – e do tucano Geraldo Al­­ck­­min, governador eleito de São Pau­­lo. "O Aécio conseguiu uma grande vitória em Minas. Ele é o príncipe da oposição. Mas Richa se destaca porque venceu por méritos pró­­prios. Ele não teve padrinho po­­lítico e ainda teve algumas baixas durante a campanha", acrescenta.

O pedido de impugnação de pesquisas, entretanto, causou grande repercussão negativa para Richa – inclusive nacional. Para Celene Tonella, o fato sempre será lembrado pelos adversários políticos. "Ele foi autoritário. Essas coisas marcam bastante."

De acordo com a cientista política Maria Lúcia Victor Barbosa, o PSDB errou. "Mesmo que as pesquisas estivessem erradas, esse tipo de ato é pouco democrático. Claro que isso não o impede de ter uma grande projeção nacional. Mas, para isso, ele ainda vai ter de trabalhar bastante." Rudá Ricci pondera que, no fim, Richa venceu, e isso foi o mais importante.

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