Comício de Requião na Vila São Pedro, em 20 de outubro de 1985: peemedebista largou com 18% das intenções de voto contra 40% de Lerner. Mas conseguiu a virada| Foto: Arquivo/ Gazeta do Povo
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Richa trabalhou muito para eleger Requião. De manhãzinha, das 6 às 8 horas, o governador do Paraná acompanhava o peemedebista nas visitas a terminas de ônibus e bairros da periferia. A vitória de Requião nas urnas representou uma conquista pessoal de Richa.

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Esse é um resumo do que ocorreu em Curitiba em 1985, na eleição para prefeito, a primeira pelo voto direto desde 1962. O então governador José Richa, do PMDB, dedicou-se bastante para eleger o correligionário Roberto Requião. Bateram o favorito daquele pleito, Jaime Lerner, que concorria pelo PDT, com o apoio de Leonel Brizola, governador do Rio de Janeiro e liderança nacional.

A disputa entre os dois candidatos foi muito acirrada. Lerner era o favorito e tinha no currículo uma série de realizações dos perío­dos em que já havia sido prefeito de Curitiba – de 1971 a 1975 e de 1979 a 1983. Mas, largando na frente nas pesquisas, com 40% das intenções de voto, Lerner virou alvo prioritário dos outros candidatos.

Os peemedebistas se colocavam como a opção para o futuro. Por isso até recusaram o apoio do PCB, que desistiu da candidatura própria no meio da campanha. Os comunistas, Brizola e Jaime Lerner – que havia sido prefeito duas vezes por indicação do governo militar – eram as "forças do passado", que tinham um "plano de desestabilização nacional", nas palavras de José Richa, pai do atual governador, Beto Richa.

O jogo foi duro. No fim de setembro, a vantagem de Lerner sobre Requião, que era de 40% a 18%, caiu para 38% a 26%. Um mês antes do pleito, a Gazeta noticiou o empate dos dois, com 37% cada. No fim de outubro ocorreu a virada do peemedebista: 42% a 37%.

Lerner e sua trupe não aceitavam a pesquisa feita pelo Instituto Gallup. A participação popular em um comício realizado em 30 de outubro na Boca Maldita, com a presença de Brizola, animou os correligionários. "Esse comício é a nossa pesquisa, tabulada na alma do povo e impressa no calçadão da Rua das Flores", declamou o então vereador Rafael Greca, na época fiel escudeiro do pedetista.

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Mas, fora as frases de efeito, nem tudo eram flores. Lerner reclamava das dificuldades que estava enfrentando, devido ao "ostensivo uso da máquina do governo." O governador José Richa deu o troco ao se licenciar do cargo no começo de novembro. Richa até conseguiu na Justiça o direito de responder às acusações usando o horário eleitoral. As denúncias de um lado contra o outro começaram a lotar as páginas da Gazeta do Povo.

A tensão chegou ao ápice dois dias antes do pleito, quando a Polícia Federal apreendeu cerca de 100 mil panfletos apócrifos. Parte do material relatava desentendimentos entre Richa e Tancredo Neves, já falecido. O restante eram cópias de um suposto edital da prefeitura anunciando que a tarifa de ônibus teria um reajuste imenso no mês seguinte: de 700 cruzeiros passaria para 1.200 ou 5.000, dependendo do trecho. À época, a prefeitura era comandada por Maurício Fruet, peemedebista como Requião.

A impressão teria sido feita a pedido do PDT. De todo o modo, não chegou às mãos do eleitorado. Sem a assombração de um tarifaço nos ônibus, os curitibanos votaram em Requião em 15 de novembro. A margem foi pequena (227.248 votos contra 208.364), mas suficientes para a vitória do PMDB. Desta vez.

Poucos partidos tiveram direito ao horário eleitoral

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) definiu que o horário eleitoral no rádio e na tevê seria de uma hora diária, em blocos de meia hora, no início da tarde e à noite. Na primeira parte, o tempo foi dividido de forma igualitária entre todos os candidatos. No horário no­­­­bre, entretanto, apenas tinham vez os candidatos de partidos com repre­­­sentação na Câmara Muni­­­cipal.

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Em Curitiba, a semente do pluripartidarismo não havia encantado os eleitores na votação para vereador, em 1982. Das 33 cadeiras, 22 eram do PMDB e 11 do PSD, sucessor da extinta Arena (assim como o PFL). Trocas de partido nos anos seguintes deram um pequeno fôlego para Jaime Lerner, da coligação PDT-PFL, ficar com 4 dos 30 minutos do horário eleitoral noturno. Paulo Pimentel (PDS) teve direito a 6 minutos. Roberto Requião, com a força do PMDB, abocanhou 20 minutos.

Nessa divisão, PT, PTB, PDC, PH e PCB (que posteriormente desistiu do pleito), ficaram de fora da propaganda na hora da noite, o de maior audiência. Como eram legendas sem expressão à época, mal tinham recursos para fazer o programa diurno.

A votação ocorreu no dia 15 de novembro. O voto ainda era no papel, mas a contagem já tinha um apoio tecnológico. A apuração de 1985 foi feita em um galpão do terminal de ônibus Capão Raso, com o auxílio de 12 computadores e 5 impressoras. Com isso, o resultado já se tornou conhecido na madrugada do dia 16, por volta das 3 horas, e naquela manhã já estava impresso na capa da Gazeta do Povo.

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Sem categoria | 4:03

José Carlos Mello Rocha atua como voluntário desde as eleições de 1950 e pretende repetir a dose em 2012, quando chega aos 81 anos. A experiência acumulada o levou a defender o fim do voto obrigatório. Para ele, a escolha seria mais consciente.

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