Taniguchi no dia da eleição do segundo turno de 2000, ao lado de Lerner: governador paranaense mal apareceu durante a campanha para não prejudicar a reeleição do prefeito| Foto: Arnaldo Alves/ Arquivo/ Gazeta do Povo
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Tinha tudo para ser um mar de tranquilidade a campanha de reeleição de Cassio Taniguchi para a prefeitura de Curitiba em 2000. Pelo menos era esse o cenário no início da disputa. O candidato, então no PFL, tinha 54% das intenções de voto em 9 de agosto daquele ano. O segundo colocado, Maurício Requião (PMDB), aparecia lá atrás, com apenas 12%.

SLIDESHOW: Veja fotos, caricaturas e charges das eleições de 2000

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VIDEO: Análise da campanha na qual o PT teve chance de ganhar a prefeitura de Curitiba

A experiência mostrava que os governantes eram favoritos para se reeleger. Dois anos antes, Fernando Henrique Cardoso passara com facilidade pelo teste das urnas ao tentar outro mandato presidendial, assim como 14 de 21 governadores que disputaram o pleito de 1998 – o primeiro após a aprovação da emenda constitucional que permitiu a reeleição para cargos do Executivo.

Cassio Taniguchi vinha de uma "linhagem" poderosa em Curitiba. Desconhecido do grande público, foi eleito prefeito em 1996 no primeiro turno com as bênçãos de Rafael Greca e Jaime Lerner, que eram, respectivamente, prefeito de Curitiba e governador do Paraná à época.

Uma grande coligação se formou em torno desse grupo político em 2000, o que rendeu pouco mais de 10 minutos na propaganda eleitoral de rádio e TV para Taniguchi. Esse tempo era quase o dobro da maioria dos candidatos. Forte Neto, do PSDB, tinha 5 min18s; Maurício, 4 min43s; e Angelo Vanhoni (PT), 4 min15s.

Todas essas vantagens, entretanto, foram insuficientes para dar a Taniguchi uma vitória fácil. Ele foi eleito no fim de outubro, no segundo turno, mas com uma vantagem apertadíssima sobre Vanhoni, que disparou na preferência do eleitorado durante a campanha. O resultado final foi de 462.811 votos para o prefeito reeleito (51,48%), e 436.270 para o petista (48,52%).

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Logo depois do primeiro turno, Vanhoni até aparecia na frente nas pesquisas eleitorais. No Datafolha de 5 de outubro, o petista tinha 56% das intenções de voto, contra 36% de Taniguchi. A diferença foi caindo nas semanas seguintes e, na véspera da decisão, os dois apareciam empatados com 46% cada.

"Pegadinha" do Procel

Há quem atribua esse recuo de Vanhoni a um deslize cometido no primeiro debate do segundo turno. Uma "pegadinha" de Taniguchi com a sigla Procel (Programa Nacional de Economia de Energia Elétrica) deixou o petista sem palavras. Des­­conhecendo o que era o Procel, Vanhoni ficou gaguejando atrás de uma resposta. O trecho foi replicado à exaustão nos programas eleitorais de Taniguchi.

O candidato à reeleição usou outras armas para "reconquistar" o eleitorado. E foi o próprio Vanhoni quem deu a munição, com a escolha do slogan "A cidade quer ser gente". Ao questionar algumas deficiências de Curitiba, como a geração de empregos, a falta de uma política para idosos e a falta de vagas em creches – que a partir de então se tornou um mote constante nas disputas curitibanas –, Vanhoni e o PT obrigaram a campanha do prefeito a mudar seu discurso.

A defesa da imagem de Cassio como um bom tecnocrata foi aos poucos sendo modificada para um candidato que se preocupava com problemas sociais. Tanto que da "Melhor cidade para se viver", como Cassio chamava Curitiba de 1997 a 2000, o slogan do prefeito reeleito passou para "Capital Social".

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Não se pode dizer que antes desta campanha os problemas sociais não eram presentes no discurso eleitoral. Mas foi em 2000 que esses temas viraram preocupação efetiva. A partir de então, a prefeitura reduziu o discurso urbanístico e aumentou o espaço na gestão administrativa para buscar soluções para os problemas sociais.

Aliado "indesejado"Esgotamento do lernismo afetou a campanha de reeleição do prefeito

Por dez anos, a partir de 1988, Jaime Lerner foi o grande prodígio da política paranaense. Após vencer a disputa em Curitiba com a campanha dos 12 dias, elegeu como sucessores Rafael Greca (1992) e Cassio Taniguchi (1996), ambos no primeiro turno. Nesse meio-tempo, foi eleito governador do Paraná em 1994 no primeiro turno, com 2 milhões de votos (54,85% dos votos válidos). Em 1998, Lerner se reelegeu, mas perdeu 40 mil votos em relação à eleição de quatro anos antes.

A insatisfação com o governador eleito devia-se, em grande parte, às rodovias do Anel de Integração, pedagiadas desde 1998. E, em meio à disputa eleitoral de 2000, o Paraná preparava-se para a venda do Banestado, questionada por boa parte da população e pelos três senadores paranaenses à época: Alvaro Dias, Osmar Dias e Roberto Requião.

Por causa do desgaste, Lerner mal apareceu na propaganda política de Taniguchi. Outro vetado nos programas de Taniguchi foi Rafael Greca, desgastado com os fiascos em torno das festividades dos 500 anos do Brasil, quando comandava o Ministério do Turismo, entre 1999 e 2000.

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Para resgatar a credibilidade do prefeito, foi convocado José Richa, pai do candidato a vice-prefeito, Beto Richa, então no PTB. Político experiente, o ex-governador foi para o programa eleitoral defender que Taniguchi não podia "pagar uma conta que não é dele" – isto é, que seria injusto o eleitor descontar na eleição curitibana o descontentamento com Lerner ou com FHC. (RF)

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Memória das eleições curitibanas | 4:30

A jornalista Daniela Neves analisa a campanha na qual o PT teve chance de ganhar a prefeitura de Curitiba, o que levou o prefeito Cassio Taniguchi a mudar o seu discurso eleitoral.

No último domingo de cada mês, até julho, a Gazeta do Povo publicará uma página mensal relembrando cada uma das eleições para prefeito ocorridas a partir de 1985. O site do jornal trará ainda depoimentos de pessoas que tiveram alguma participação nessa história.

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