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Família Souza Andrade, de Jataizinho | Brunno Covello / Gazeta do Povo
Família Souza Andrade, de Jataizinho| Foto: Brunno Covello / Gazeta do Povo

Expedição em dados

Os principais indicadores coletados foram organizados e estão abertos para consultas e comparações. Há informações regionais e, em alguns casos, os detalhes por municípios.

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De cortador de cana a dono de mercearia

Daniel Gomes Filho, o Ceará, mudou de vida. Mas não a família dele. Há quatro anos, a Gazeta do Povo passou pelo Norte Pioneiro e contou a história do boia-fria de Bandeirantes na Expedição Paraná de 2010. Um ano depois, ele foi mandado embora da usina de álcool e açúcar em que trabalhava cortando cana. Ele se aposentou e entrou na Justiça do Trabalho contra a empresa. Com o dinheiro da indenização, abriu uma mercearia na frente de sua casa. Os filhos, porém, continuam trabalhando na usina – dois dentro da fábrica e três no corte de cana. São resistentes. A mecanização da colheita é cada vez maior e o mercado de açúcar e álcool não tem sido dos melhores nos últimos anos. "A tendência é que mais gente seja mandada embora", diz Ceará. A falta de oportunidades de trabalho assusta a família. Em 2010, a necessidade de criar alternativas de trabalho na região já era um desafio. Veja a reportagem da época em: http://bitly.com/2010pioneiro.

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A Bolsa e o bolso no Norte Pioneiro

Seis por cento da população da região recebe o Bolsa Família. É o terceiro maior índice do estado, um indicador que revela a necessidade de gerar emprego e renda.

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  • Casado e com duas filhas, Wellington gostaria de mudar de emprego e ganhar mais. Falta de escolarização dificulta
  • Moradora de Santa Amélia, dona Ana Venâncio
  • Dona Ana Venâncio, 69 anos. Depois de uma vida inteira como boia-fria os filhos repetem a sina e são cortadores de cana no Norte Pioneiro
  • Enquanto conversa, dona Ana é observada pela Tìlia, vizinha e comadre. Ao lado, a neta Nicole
  • Dona Ana vive cercada pelos netos. Ao fundo com uma blusa rosa, uma das filhas, Marilena
  • Emily, Marilena e a filha Gabriela, Tília e dona Ana Venâncio
  • A pequena Gabriela tenta se esconder da câmera
  • Mais à vontade, Gabriela Venâncio
  • Flozindo Venâncio, de 69 anos
  • Calmamente, seu Flozindo admira uma flor de um dos diversos vasos floridos da casa
  • Seu Flozindo e a flor
  • Família Venâncio reunida no banco de madeira em frente à casa de dona Ana e seu Flozindo. Da esquerda para direita: Marilena, a sapeca Gabriela, Nicole, Daniane e o casal
  • Família em frente à casa: Flozindo, Emily, Marilena e Marinete (ao fundo). Na frente, um vizinho, um dos netos, Nicole, Regiane e dona Ana
  • Indenização trabalhista deu o dinheiro para Daniel Gomes Filho, o Ceará, abrir uma venda na frente da casa em que mora em Bandeirantes
  • Ex-cortador de cana e hoje comerciante: o Ceará
  • Família Souza Andrade, de Jataizinho, é um exemplo típico do que acontece no Norte Pioneiro. Quase 9,5% d os alunos desistem de estudar e abandonam o Ensino Médio
  • Larissa de Souza Andrade, de 14 anos, é a única da família que permanece na escola. O pai, Marcos, e a mãe, Rose, largaram os estudos para viver uma história de amor
  • Luan (à direita) e Neto (à esquerda) saíram da escola para trabalhar em um frigorífico em Cambé, junto com o pai
  • Família Souza Andrade, de Jataizinho
  • Marcos, Rose, Neto e Luan. Todos fora da escola
  • Em Jataizinho, onde mora a família Souza Andrade, 23% dos alunos matriculados abandonam o Ensino Médio – maior índice do Norte Pioneiro
  • Wellington de Jesus dos Santos, morador de Salto do Itararé. Arrependeu-se de abandonar a escola
  • Em Salto do Itararé, cidade Wellington, 18% dos estudantes abandona o Ensino Médio

Aos 14 anos, Larissa de Sou­­za Andrade é uma sobrevivente escolar. Prestes a concluir o 9.º ano, ela pensa em fazer o ensino médio e sonha cursar Administração. Se ela alcançar o objetivo, será a primeira da família a ir para a universidade. Os familiares deixaram os estudos antes de concluí-los. O pai – Marcos, hoje com 35 anos – fugiu de casa aos 16 para viver uma história de amor com a esposa, Rose, cujos os pais não concordavam com o relacionamento. Precisou se virar para sobreviver e largou a escola: "Eu tive que trabalhar". Os irmãos de Larissa – Luan, de 18 anos, e Neto, de 16 – seguiram o exemplo do pai. Queriam conseguir algum dinheiro para fazer o que todo jovem faz: tomar um sorvete com a namorada, comprar um celular... Eles chegaram a cursar um período do ensino médio. Mas abandonaram a sala de aula para trabalhar.

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O pai e os dois rapazes saem de casa, em Jataizinho, no Norte Pioneiro, no fim da madrugada e percorrem mais de 30 quilômetros até Cambé, onde trabalham em um frigorífico. Rose, empregada de uma loja, viaja todos os dias para Londrina. Os quatro retornam apenas no fim da tarde, após gastar uma hora e meia por dia em deslocamentos. Para eles, aguentar mais uma jornada dentro da sala de aula está fora de cogitação. "Vi meu pai trabalhar horrores [para manter a família]. A gente se sente na obrigação de ajudar", resume Luan.

Desqualificação

A família Andrade é um exemplo típico do que ocorre no Norte Pioneiro. Quase 10% de todos os alunos matriculados no ensino médio nas 46 cidades da região desistem de estudar e abandonam o colégio antes de concluir 12 anos de educação. É a mais alta taxa de evasão do Paraná, que tem média de 6,2% de abandono no ensino médio.

O problema da educação acaba se refletindo em outras características do Norte Pioneiro: a pobreza e a falta de emprego (leia mais na página ao lado). Mudar esses indicadores abre a possibilidade de reverter os outros dois e, com isso, melhorar a vida das 562,8 mil pessoas que moram na região.

O coordenador da Pastoral da Criança em Jacarezinho, José Tadeu Cardoso, diz que aumentar a oferta de cursos profissionalizantes pode ser uma saída para qualificar mão de obra e dar mais instrução escolar. "Nossa juventude não tem opção de cursos. Quem quer, precisa ir a Ponta Grossa ou Itararé [SP]."

Para Reginaldo Lacerda de Matos, diretor do Colégio Estadual Pedro Viriato Parigot de Souza, em Jataizinho, é preciso resgatar a importância da escola para diminuir a evasão. Segundo ele, muitos alunos desistem de estudar porque o diploma do ensino médio não garante um emprego melhor – e, em consequência, mais remuneração. "Neste ano, eu tive 150 matrículas para a turma da noite do ensino médio. Cerca de 75 continuam frequentando as aulas." A cidade tem o maior índice de evasão escolar do Norte Pioneiro: quase 23%.

Arrependimento

Depois de um tempo, quem abandona o colégio arrepende-se. Aconteceu com Marcos de Souza Andrade e a esposa – o casal de Jatai­­zinho. Também ocorreu com Wellington de Jesus dos Santos, morador de Salto do Itararé. A cidade tem as menores notas da região na 9.ª série do ensino fundamental, segundo o Ideb de 2011, e uma alta taxa de evasão do médio. "Nunca pensei em uma profissão. Eu queria comprar uma moto, um tênis. Agora só posso trabalhar em uma confecção [como costureiro] ou na roça." Casado e pai de duas filhas pequenas, Wellington já tentou quatro vezes voltar a estudar, mas a dificuldade de conciliar com o trabalho o tirou das aulas.

Recentemente, o fechamento da turma do supletivo na cidade piorou a perspectiva de tentar mudar de vida. "Os pais não incentivam, não participam. O salário que [os filhos] recebem, por mais que seja pouco, eles consideram suficiente. E vão se acomodando", diz Ronaldo Vagacs, diretor do Colégio Estadual Gabriel Bertoni, de Salto de Itararé.

Personagens

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