1953 - Área de proteção
Josué Teixeira/ Gazeta do PovoO primeiro parque estadual criado no Paraná foi o de Vila Velha, apenas em 1953, depois de um longo período de degradação e visitas descontroladas. A partir de 2000 se enquadrou no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e passou por revitalização, com recuperação da vegetação e proteção dos arenitos. A regeneração natural, porém, acabou ocultando algumas características geológicas, que são "a verdadeira razão de ser" do parque (1). A primeira grande área preservada no Paraná foi o Parque Nacional do Iguaçu, em 1939.
1984 - Conselho
O governo do Paraná, seguindo outros estados, como São Paulo, institui o Conselho Estadual de Defesa do Ambiente, com representantes do governo e da sociedade civil. Mas o funcionamento do colegiado só ganhou corpo a partir de 1988, com a promulgação da Constituição Federal, a primeira a tratar do tema (2).
2002
"Estamos construindo uma ponte entre o desenvolvimento que nós vivemos hoje, que não estamos contentes com ele, e o desenvolvimento que nós queremos sustentar. Então, a construção da Agenda 21 é essa ponte que vai nos levar onde nós estamos querendo chegar."
Márcia Facchina, representante do Ministério do Meio Ambiente em agosto de 2002, durante seminário sobre a Agenda 21 Paraná (3). As agendas, em nível regional e nacional, foram as primeiras medidas práticas decorrentes da Eco 92. Em 2013, o Paraná redefiniu os temas norteadores da Agenda 21: direitos humanos e de todas as formas de vida; padrões de produção e consumo; recursos naturais e biodiversidade; infraestrutura e integração; pesquisa, inovação, ciência e tecnologia; governança e empoderamento (4).
2003 - Estrada
Christian Rizzi/ Gazeta do PovoFechamento definitivo da Estrada do Colono, que era usada como passagem entre Medianeira e Capanema por meio do Parque Nacional do Iguaçu. A luta foi longa: desde 1986 a Justiça já havia atendido à solicitação do Ministério Público Federal para fechamento do trecho, mas moradores e empresários voltavam a invadir o local. O tema voltou à tona em agosto de 2013, quando a Câmara Federal aprovou um projeto que permite a reconstrução da estrada. A discussão ocorre no Senado agora (5).
2005 - Rios
A Agência Nacional das Águas (ANA) lança publicação que mostra a qualidade dos recursos hídricos por todo o Brasil. No Paraná, foram analisados cerca de 130 rios. Os piores índices eram de rios de Curitiba. Desde então, a ANA não fez mais publicações do tipo (6).
2008 - 26%
É a quantidade de efluentes tratados na Bacia Hidrográfica Paraná 2, o pior índice do Paraná (7). Também têm baixo desempenho a Litorânea (31%) e Paraná 1 (36%). Das 20 bacias do estado, apenas 5 apresentam taxas acima de 80% de esgoto tratado: Pirapó, Itararé, Paranapanema 3, Alto Tibagi e Paranapanema 2.
2014 - Desmatamento
Levantamento divulgado no começo do ano mostra que dentre os estados com maior área de Mata Atlântica, o Paraná foi o terceiro com maior índice de desmatamento entre 2012 e 2013. Mas, na contabilidade feita desde 1985, o território paranaense perdeu 19,6% de área da mata. Ficou atrás apenas do Rio de Janeiro no período (8).
2020
As Nações Unidas definiram o período 2011-2020 como Década da Biodiversidade. Há 20 metas a serem cumpridas em nível global (Metas de Aichi), as quais são adaptadas às realidades de cada país (9). O Paraná precisa avançar para se adequar às metas, já que as intenções ainda estavam no papel em 2014 (10).
Se a mata fosse dele, ele mandava preservar. Como ela é de todos nós, o artista, ambientalista e educador João Bello, 60 anos, trabalha para conscientizar os demais da importância da manutenção da biodiversidade. Há 12 anos ele adotou a vertente cultural como forma de atuação, mas apoia o confronto quando necessário. Em janeiro deste ano, participou do protesto contra o corte de uma araucária no bairro Bacacheri, em Curitiba. Ele foi chamado por ser um símbolo: em 1998, havia se acorrentado à mesma árvore, ajudando a garantir uma sobrevida que durou 16 anos o pinheiro acabou sendo cortado, sob a justificativa de que estava comprometido.
Foram poucas as araucárias do Paraná que chegaram ao século 21 0,8% da área original. A espécie, dominante na floresta ombrófila mista, consta da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas de Extinção da União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). No Brasil há atualmente 12,1 mil hectares, ou 3% do original. Essa floresta compõe o bioma da Mata Atlântica, que também vem sendo derrubada aos poucos, apesar das leis de proteção e conservação.
Por isso, Bello considera urgente e fundamental o posicionamento do poder público contra a reabertura da Estrada do Colono, no Parque Nacional do Iguaçu. "Não existe isso de abrir apenas uma passagem. O corte de um parque ao meio traz muito dano. Não é possível que uma grande conquista que começou nos anos 1980 se perca com propostas de nova estrada. A mata é um banco genético de muitas espécies, essencial para as gerações futuras", avalia. O tema é um assunto nacional, mas as lideranças políticas é que podem definir os próximos passos (leia mais na linha do tempo, no ano de 2003).
Atualmente, o Brasil tem aproximadamente 6% da área de Mata Atlântica original. Nos últimos anos, o ritmo da devastação diminuiu bastante, mas continua ocorrendo, segundo levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da S.O.S Mata Atlântica: entre 2012 e 2013 houve corte de 23,9 mil hectares nos 17 estados que compõem o bioma. No Paraná, foram 2,1 mil hectares. Somando a devastação dos últimos 20 anos, o estado já perdeu 453 mil hectares, dos quais a maior parte (177,8 mil) entre 1995 e 2000.
Recursos hídricos
Àquela época, Bello ainda era um aguerrido ambientalista, que conseguia dar voz à causa por meio do jornal de bairro Folha do Bacacheri. Contribuiu com as primeiras ações populares da Promotoria do Meio Ambiente. Em 2000, conta ele, teve um sonho, deixou a imprensa e o confronto direto para atuar com educação ambiental e cultura. "De aguerrido e radical, passei a atuar com poesia e música, viajando por todo o Brasil. É uma forma diferente, as pessoas ficam mais abertas para ouvir. Só pela razão, não conseguimos uma mobilização. É preciso atingir o coração de cada um."
Uma grande mobilização foi feita para a limpeza do Rio Bacacheri, com a participação de aproximadamente 560 professores e 7,5 mil estudantes da região. "O rio é um retrato da comunidade. Observando a qualidade das águas, podemos saber como é a vida ali; se há educação, cultura, saneamento básico." Para manter os recursos hídricos a salvo, ele sugere que o governo estadual incentive e ajude os municípios a solucionarem o problema dos resíduos sólidos o prazo para substituir lixões por aterros venceu no mês passado, e estima-se que 180 municípios, dos 399 do Paraná, ainda usam o sistema arcaico.
Ainda há muitos outros pontos na agenda ambiental que carecem de ação governamental. Bello, porém, não desanima. "Temos de fazer e semear, independentemente de quem vai colher."
Paraná precisa de compensação para preservar
O governo estadual precisa criar mecanismos para que a sociedade indivíduos, empresas e agricultores passe a investir na conservação da biodiversidade. Sem uma compensação financeira, os efeitos práticos da consciência ecológica podem se perder.
O diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS), Clóvis Borges avalia que a conservação da natureza precisa ser vista como parte do ambiente de negócios. "Muitos setores, especialmente a agricultura do Paraná, ainda a veem como algoz." Segundo ele, há avanços pontuais, mas a conservação da biodiversidade não tem vez na agenda política o que pode gerar grande prejuízo econômico. "O projeto Rios Voadores mostra que, como a umidade da Amazônia não chega ao Sudeste, há menos chuvas", diz, a respeito do estudo que relaciona os efeitos em todo o Brasil da preservação da floresta.
Doutor em Agronomia, o zootecnista Armin Feiden ressalta que o novo Código Florestal, promulgado em 2012, provocará grande impacto sobre o uso e conservação do solo do Paraná, onde há grande número de pequenas propriedades, com menos de quatro módulos fiscais. "É um efeito violento. A área que precisa ser protegidas nas margens dos rios estreitos era de 30 metros, agora é 5. O novo Código fala em manter a vegetação nativa, mas a maioria não tem nenhuma. E não vai ter nem precisar recuperar", observa.
Para não depender do Congresso Nacional ou da União, Heider diz que o ideal é o governo estadual criar estímulos para garantir a preservação e até a recuperação de áreas verdes no Paraná. "É uma questão estratégica de médio e longo prazo. A agricultura precisa dos rios, mas estes não vão sobreviver se não houver mais áreas preservadas. Não é a toa que a África é um continente pobre: lá eles têm escassez de água."
Fontes: 1) Artigo de Ricardo Letenski, Mário Sérgio de Melo, Gilson Burigo Guimarães e Gil Francisco Piekarz (2009); 2) Casa Civil/Paraná; 3) Seminários Macrorregionais da Agenda 21 Paraná - Os desafios por uma cidadania planetária; 4) Sema; 5) Publicação "A estrada não é o caminho"; 6) "Panorama da Qualidade das Águas Superficiais no Brasil"/ANA; 7) "Indicadores de desenvolvimento sustentável por bacias hidrográficas"/Ipardes; 8) Inpe e S.O.S Mata Atlântica; 9) Convenção sobre Diversidade Biológica; 10) AEN.
Haddad quer taxar super-ricos do mundo para combater a fome. Ideia é vista como utópica
Venezuela provoca Brasil após tribunal confirmar vitória de Maduro; governo segue em silêncio
UE não vai reconhecer vitória de Maduro enquanto CNE não divulgar as atas eleitorais
Relatório do STF mostra aumento da transparência de emendas no governo Bolsonaro
Deixe sua opinião