Mapeamento levanta risco para bancos
O mapeamento encomendado pelo governo sobre a situação financeira das empreiteiras envolvidas na operação Lava Jato, da Polícia Federal, está medindo o tamanho exato do risco assumido pelos bancos com a concessão de empréstimos a essas empresas. O governo dividiu as companhias em dois grupos: as empresas que têm ativos para vender e quitar suas dívidas e aquelas que enfrentam mais dificuldade para gerar caixa a curto prazo.
Pelas informações preliminares, a situação seria mais tranquila para os bancos que financiaram apenas empresas ou projetos considerados independentes das holdings sob investigação.
Nessa situação estão os bancos que financiaram, por exemplo, a Invepar (controlada pela OAS e por fundos de pensão de estatais) e a Odebrecht Transport (do grupo Odebrecht). Segundo uma fonte de um banco envolvido no mapeamento, essas empresas tocam projetos bem estruturados, com sócios financeiros fortes e capitalização a ponto de permitir uma "vida própria" em relação aos controladores. São empresas em outro "patamar", com bons ativos que podem até ser vendidos para ajudar no caixa das holdings.
A situação mais crítica está nos bancos que emprestaram diretamente a grupos como UTC e Engevix, por exemplo. Essas empresas, segundo o levantamento, devem ter mais dificuldade porque o endividamento é mais pesado e de curto prazo. No fim de 2014, a Petrobras teve de honrar compromissos da Galvão Engenharia e da Mendes Júnior com seus fornecedores para evitar uma quebradeira do setor de óleo e gás. "A maioria delas tem ativos que podem ajudar numa solução", disse a fonte.
O problema é o tempo para isso. É caso da OAS, segundo o governo, que tem muitos vencimentos concentrados no curto prazo. A empreiteira teria condições econômicas de levantar recursos ao vender os próprios ativos. Mas precisaria de tempo ela já deixou de honrar parcelas de dívidas.
Garantias
O foco principal, agora, é mapear essa exposição e reforçar as garantias dos créditos já oferecidos. "Cada nova operação tem de ser olhada com muito cuidado e ver se faz sentido", disse uma fonte da área econômica. Se para ter uma "solução definitiva" for preciso um novo empréstimo, a orientação do governo é concedê-lo.
Estadão Conteúdo
Parte das empreiteiras investigadas sob suspeita de integrar o cartel da Petrobras iniciou operação nos bastidores para que as punições do escândalo não se restrinjam a seus executivos, a operadores e a ex-diretores da estatal. O objetivo é mostrar que houve protagonismo de políticos ligados ao governo e que a direção da Petrobras teve participação ativa na formação do conluio entre as empresas.
A preocupação dos empreiteiros externada em conversas reservadas está no fato de a Operação Lava Jato estar dividida em duas instâncias judiciais.
A parte que trata de executivos, operadores e ex-diretores da Petrobras está sob a guarda da primeira instância, sob condução de Sérgio Moro, juiz considerado linha-dura que atua na Justiça Federal no Paraná. A parte da investigação a que apura a participação de políticos está sob a guarda do Supremo Tribunal Federal (STF). Parte dos citados é parlamentar e tem foro privilegiado.
A fórmula, mesmo legal, criou dois pesos e duas medidas, na visão das construtoras. Elas já tentaram juntar as investigações a partir de um recurso no STF, mas os ministros entenderam que o caso deve mesmo ficar desmembrado: parte no Paraná e parte em Brasília.
"Crucificado"
Um empreiteiro afirma que não é "santo", mas que não está certo ser "crucificado" sozinho. Ele cita a delação premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. Costa afirmou que o esquema previa a cobrança de 3% de propina para partidos políticos nos contratos das empresas com a estatal. Os depoimentos de delação premiada do ex-diretor, assim como os do doleiro Alberto Youssef (outro que cita pagamentos a políticos), são sigilosos e estão sob a guarda do STF, que promete abrir os inquéritos envolvendo os políticos em fevereiro. Os processos envolvendo os empreiteiros tocados pela Justiça Federal do Paraná não estão sob sigilo.
Essas duas questões (ritmo da investigação e sua publicidade) são a base das queixas reservadas dos empreiteiros. Eles questionam o fato de a maioria dos presos da Lava Jato, atualmente, ser formada por executivos das empresas que atuam em contratos da Petrobras.
A permanência na cadeia virou um "suplício", não apenas para os presos e seus familiares, mas para todos que atuam no setor de construção, segundo outro empreiteiro. O empresário chega a comparar as prisões às "torturas dos anos 70", ressaltando que elas são "tortura psicológica". Ele fala de um "temor generalizado" entre o empresariado, que teria sido transformado em uma "facção criminosa, à margem de tudo, uma espécie de PCC da construção".
Dentro da tática de colocar os partidos em posição de protagonismo do escândalo, pelo menos uma das empresas investigadas já preparou uma lista de nomes de políticos que receberam propinas no esquema de corrupção na Petrobras.
O jornal O Estado de São Paulo revelou uma lista com 28 nomes de políticos citados por Paulo Roberto Costa. Ao todo foram 8 políticos do PMDB, 10 do PP, 8 do PT, 1 do PSB e 1 do PSDB. Os ex-ministros Antonio Palocci, da Fazenda, e Gleisi Hoffmann, ambos ligados ao PT, e Edson Lobão, de Minas Energia, do PMDB, estavam entre os mencionados.
Na semana passada, a revista Veja trouxe anotações do empreiteiro Ricardo Pessoa, presidente da UTC, que está preso. Os manuscritos fazem ameaças veladas a políticos. Em documento enviado à Petrobras e revelado pelo jornal Folha de São Paulo, a UTC afirma que, se houve cartel, a responsabilidade é da estatal.
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