Jocelito Canto cercado por jornalistas: para deputado do PTB, uso de caixa 2 é normal na vida pública| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Nossa opinião

Pressão e diálogo

As manifestações populares em favor de investigações eficazes na Assembleia Legislativa são importantes para que se mostre a inexistência de apatia por parte da sociedade. A derrubada de um portão da Assembleia, porém, ativou um sinal de alerta, pois, poderia ter sido o início de um conflito físico entre manifestantes, seguranças e autoridades policiais. Mas não foi. E nem deverá ser, caso o movimento "Caça-fantasmas" não queira perder sua legitimidade. Até porque, num Estado Democrático de Direito, a política é a substituta da força.

Manifestantes afirmam que os portões estavam fechados como forma de impedi-los a entrar na Assembleia. A direção da Casa afirma que o portão derrubado sempre esteve fechado. Não cabe aqui apontar quem tem razão. O comportamento de ambos deve se pautar pelo espírito democrático. A Casa do Povo deve permanecer aberta para as manifestações. E, como contrapartida, as manifestações devem ser pacíficas. A democracia se realiza por meio de pressões, negociações e diálogo.

CARREGANDO :)
Jocelito disse nesta quarta-feira que vai deixar a política
CARREGANDO :)
Veja também
  • Discurso não trata do principal
  • Estudantes derrubam portão e invadem a Assembleia
  • Deputados aprovam corte de salários e exonerações

Em um novo discurso no plenário da Assembleia Legislativa ontem, o deputado estadual Jocelito Canto (PTB) voltou a falar sobre o uso de caixa 2 nas campanhas políticas. Na terça-feira, Canto comentava a demissão dos 1,9 mil funcionários comissionados da Assembleia, anunciada no dia anterior, e decidiu abordar a arrecadação de dinheiro para campanha. "Quem é que não tem caixa 2? Vamos ser sinceros", perguntou, em discurso na tribuna do plenário. Nenhum deputado contestou.

Publicidade

Canto foi cobrado por eleitores pelas declarações dadas na Assembleia. Pelo Twitter, o deputado comparou a prática a comprar produtos sem nota fiscal e disse que "a grande maioria das pessoas tem um caixa 2. Quem nunca comprou algo sem nota? E do Paraguai, você nunca comprou nada? Caixa 2 do dia a dia", disse o deputado.

Ontem, o deputado voltou a tocar no assunto em plenário. Amenizou alguns pontos da polêmica, declarando, por exemplo, que a maioria (e não mais todos) os políticos faz caixa 2, mas esquentou ainda mais outros aspectos da discussão. Disse que o caixa 2 é normal na vida pública e que todos veem mas não conseguem provar o crime. "Está presente em todas as eleições", afirmou.

"O caixa 2 é invisível. Ganha eleição. É mais forte que os recursos oficiais recebidos. Quem é que paga essas equipes de 50 pessoas que viajam pelo estado?", indagou. Em entrevista à imprensa, garantiu que não tem caixa 2, mas disse que já recebeu "doações". Para Canto, que defendeu a permanência de Nelson Justus na presidência da Assembleia, somente o afastamento dos 54 deputados seria uma forma justa de penalizar todos os responsáveis pelos escândalos.

Polêmica

Nos bastidores, os parlamentares se diziam surpresos com a atitude de Canto e também preocupados com a repercussão que as declarações poderiam ter. A reação mais visível foi do deputado estadual Reni Pereira (PSB). Ele afirmou que há pessoas pegando carona nas denúncias envolvendo a Assembleia numa tentativa de se promover. "Ninguém aqui é mais ou menos deputado que ninguém. Quem fala, que prove o que está falando. Todos temos as nossas diferenças, inclusive na maneira de fazer política. Fazer insinuações é fácil. Eu renuncio ao meu mandato se alguém provar que fui incriminado", declarou.

Publicidade

Para o deputado Tadeu Veneri (PT), Canto fala com conhecimento de causa. Para o petista, uma forma de identificar o caixa 2 seria o comparativo entre campanhas eleitorais. As mais vistosas, certamente, teriam mais recursos. Veneri também comentou o segundo assunto mais falado pelos deputados ontem: a manifestação. Para ele, os protestos vindos do engajamento social são essenciais porque a sociedade não pode ficar ao lado do que está acontecendo na Assembleia. E sobre os eventuais exageros, o parlamentar destacou que em cenários como o de ontem, geralmente a situação foge de controle. "E temos coisas muitíssimo mais graves aqui dentro do que a derrubada de um portão", disse.

Veja todas as denúncias feitas pelo jornal Gazeta do Povo e pela RPCTV sobre os Diários Secretos da Assembleia Legislativa.

Publicidade