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Brasília (AE) – O senador Tasso Jereissati (CE) prepara-se para assumir a presidência do PSDB no dia 18 sem nenhum constrangimento de considerar legítimo um processo de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Montaram um esquema de assalto ao Estado", diz.

No início, afirma ele, o PSDB até aproveitou para bater no governo e no PT. Mas a crise ficou "tão aguda" e Lula "tão fraco" que, segundo Tasso, seu partido teve de pôr o pé no freio. "Mas agora é diferente", adverte, explicando que apareceram muitos fatos negativos para o governo. "Lula estava caladinho, humilhado. De repente saiu arrogante em campanha, atacando em vez de governar", diz o senador.

Com que discurso o senhor assumirá a presidência do PSDB?Tasso Jereissati – Assim que a gente assumir, temos de começar a discutir uma proposta para o país, porque o PT não tem. Vamos discutir os grandes desafios do país. O partido que enfrentou o grande desafio da inflação em 1994, enfrentará uma conjunção de três problemas na economia: juro alto, baixo crescimento e péssima distribuição de renda.

Por que o PSDB subiu o tom contra o governo? Quando afastou Azeredo da presidência houve uma declaração de guerra ao governo e ao PT?O que acentuou a crise não veio desta semana, mas de algum tempo para cá. O PT foi vítima de uma saraivada de denúncias que chocaram o país e foram se acumulando sem dar tempo ao governo para respirar. O que mudou não fomos nós, o PSDB e o PFL, mas a postura do presidente Lula diante da crise. Mas as pesquisas apontam hoje a melhora do desempenho de Lula. Há uns 20 dias a crise deu uma esfriada mesmo. Houve boas notícias na economia e Lula saiu da depressão. Aí deu para viajar e fez a única coisa que sabe fazer bem feito: campanha. Em vez de fazer o que o país precisa, saiu batendo na gente Brasil afora, no exterior, e deu a senha para o PT também. Os ataques do PT foram meio conjugados.

Não foi então o PSDB que mudou, diante dos ataques contra o senador Eduardo Azeredo, que acabou deixando a presidência do partido?Isso já foi conseqüência. O que mudou foi o presidente Lula. O grande responsável por essa mudança toda, pelo agravamento da crise, é o Lula. No sistema presidencialista é o presidente quem lidera, quem dá o tom. Se acirra, se ameniza, se ataca ou se chama para o diálogo.

E o presidente Lula saiu no ataque?Em vez de adotar tom de conciliação, quando saiu do recolhimento imposto pela crise, ele já saiu em campanha eleitoral. Já saiu no seu tom habitual de campanha, batendo, como se nada tivesse acontecido. Agiu como se não fosse presidente e não estivesse no meio de uma crise, com contas enormes a explicar ao país. Foi assim que ele trouxe à tona e acendeu todo o espírito de acirramento que está aí.

Antecipando a eleição de 2006?Ele claramente antecipou 2006 e entrou em campanha pela reeleição. Saiu fazendo provocações, comparações, falando em urucubaca, e deu o sinal ao PT, que também partiu para a campanha. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, já fala e ataca. O antecessor Tarso Genro, também. Foi claramente uma coisa articulada. Ele está tão obcecado pela campanha que esquece o rabo imenso que deixou para trás. Lula só pensa em eleição, esquecendo que, até para se reeleger, precisa governar agora.

Quando o PSDB propôs a CPI do Caixa 2, foi um recado ao presidente?O PT está obcecado de maneira doentia pelo poder. Morre de medo de perder a eleição. Passamos este tempo todo abertos ao diálogo e evitando a crise, mas eles só pensam na eleição. O PFL bateu muito mais no governo do que o PSDB e eles nos atacam porque vêem na gente o adversário de 2006. Mas estão partindo para agressões que se voltam contra eles. Azeredo não pode ser cassado por uma eleição que perdeu em 1998. Ele não foi em boca de caixa pegar dinheiro, não recebeu dinheiro direto de Marcos Valério.

Mas houve um cheque de R$ 700 mil de Marcos Valério para a campanha de Azeredo em 1998?O que existe é uma declaração de Valério de que foi ao Banco Rural pegar um empréstimo para financiar a campanha de Azeredo. Por isto chamaram o tesoureiro da campanha.

O senhor defende o impeachment?Defendo que esse caso seja levado a termos jurídicos. Marcos Valério e Delúbio confirmaram o caixa 2 da campanha de Lula e o que parecia óbvio para nós tornou-se público e explícito.

Lula é conciliador ou incendiário?Pode ter 500 conciliadores que não resolve. O que precisa é de um líder que dê o tom. Um líder que dê o toque de recolher ou a ordem para marchar. A grande responsabilidade no momento cabe a Lula. Está na hora de ele assumir o papel de presidente da República do Brasil.

Por que o senhor acusou o PT de fazer caixa 3, além do caixa 2?O PT tentou passar a idéia de que todo roubo valia porque era caixa 2. Era uma coisa que todo mundo fazia e, por isto, era perdoável. Apelidou-se caixa 2 o crime eleitoral de recursos de campanha não contabilizados. Mas o próprio tesoureiro do PT do Ceará declarou que não recebeu para a campanha. Está na cara que nem caixa 2 era. O dinheiro foi para alguém. Pena que PC Farias esteja morto. Se vivo, hoje ele estaria redimido.

Se não é caixa 2, o que é?Montaram um esquema de assalto ao Estado. Desde 1.º de janeiro de 2003 até estourar o escândalo do IRB, dos Correios que todos os organismos do governo federal assaltam os cofres públicos. Tiraram e desviaram dinheiro por meio de concorrências fraudadas, tráfico de influência, serviços pagos e não realizados, achaques.

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