Dentro da estratégia de defesa, Cunha segue negando qualquer envolvimento no escândalo da Petrobras.| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Apontado como o operador de propinas do PMDB pela Operação Lava Jato, que investiga casos de corrupção na Petrobras, Fernando Soares, o Fernando Baiano, contou em um dos seus depoimentos do acordo de delação premiada a estratégia usada para pressionar o lobista Julio Camargo a pagar US$ 16 milhões em propinas atrasadas. A pressão, segundo ele, contou com o apoio essencial do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). De acordo com Baiano, diversas reuniões ocorrem na casa e no escritório político do peemedebista, ambos no Rio, entre 2010 e 2011. A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.

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“Entrando pela portaria principal do condomínio, virando à esquerda, acredita que seja a quarta casa da rua, sendo uma casa amarela, com alguns detalhes em branco. Na Barra da Tijuca, no Condomínio Park Palace”, disse Baiano, informando que durante o encontro foi selado o acordo para usar requerimentos oficiais da Câmara dos Deputados para pressionar Camargo.

Cunha tenta ganhar fôlego com novo pedido de impeachment de Dilma

A oposição apresentou nesta quarta-feira (21) um novo pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff que tem como acusação central a prática irregular de pedaladas fiscais neste ano. O efeito imediato da nova peça, porém, não está no âmbito jurídico, mas sim no político. A nova investida da oposição pode conferir um novo fôlego ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a quem caberá analisar o pedido.

É justamente na esfera da política que o novo pedido ganhou força. Alvo de uma denúncia e de um inquérito no Supremo Tribunal Federal, Cunha tenta ganhar sobrevida política, já que passa a ter em suas mãos um requerimento válido para barganhar com o governo e a oposição. Isso porque cabe a ele aceitar ou rejeitar o pedido.

Envolvido em acusações de que possui contas secretas na Suíça, por meio das quais teria recebido propina de contratos com a Petrobras, e patrimônio não declarado no exterior de cerca de R$ 61 milhões, o peemedebista poderá usar o requerimento como moeda de troca de apoio do governo para tentar evitar sua cassação por quebra de decoro parlamentar.

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De acordo com a reportagem do Estadão, o dinheiro era referente à contratação de um dos dois navios-sonda (Petrobras 10000 e Vitoria 10000) da Samsung Heavey Industries, da Coreia, em parceria com o Grupo Mitsui, do Japão, negócio fechado entre 2006 e 2007 e que envolveu US$ 35 milhões em propina. Deste total, US$ 5 milhões foram para as contas secretas de Eduardo Cunha na Suíça.

As declarações de Baiano foram prestadas no dia 10 de setembro de 2015, à Procuradoria-Geral da República, nos inquéritos que correm no Supremo Tribunal Federal (STF).

O desfecho da história só se deu em 2011, após as eleições presidenciais de 2010. “Nesta reunião, o depoente [Fernando Baiano] perguntou se não poderia ser retomado o assunto de Julio Camargo e o que Eduardo Cunha poderia fazer algo”, registrou o delator. Foi aí que surgiu a negociação para aumentar de 20% para 50% a cota de Cunha na divisão da propina. Em troca da pressão,a fatia aumentaria para US$ 16 milhões. “Eduardo Cunha disse que iria pensar em alguma forma mais efetiva de cobrar Julio Camargo, pois se fizesse uma reunião com ele, pressionasse e não tivesse resultado, ficaria ruim”, explicou Fernando Baiano.

“Tempo depois, por volta de abril de 2011, Eduardo Cunha mandou uma mensagem, pedindo para o depoente se encontrar com ele no escritório do Rio de Janeiro de Eduardo Cunha”, registra a Procuradoria. “Nesta reunião Eduardo Cunha disse que havia tomado a decisão de fazer um requerimento na Comissão de Fiscalização da Câmara pedindo explicação sobre os negócios de Julio Camargo.”

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Fernando Baiano está preso em Curitiba desde dezembro de 2014. Cunha e o PMDB negam envolvimento no escândalo da Petrobras.