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PF afirma que incêndio em moradia de africanos na UnB foi criminoso

A segurança nos dois prédios que servem de alojamento para estudantes da Universidade de Brasília (UnB) foi reforçada. Além dos dois vigias que ficam na entrada de cada bloco, outros quatro vão monitorar os andares. O incêndio em três apartamentos ocorreu na madrugada desta quarta-feira (28). Dez estudantes, todos vindos de países africanos, estavam nos imóveis.

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O delegado Francisco Serra Azul, da Polícia Federal, tomou o depoimento de sete estudantes e funcionários da Universidade de Brasília (UnB) intimados para prestar esclarecimentos sobre o incêndio criminoso que queimou as portas de três apartamentos na Casa do Estudante Universitário, na madrugada de quarta-feira. De acordo com a PF, um estudante acusado de atear fogo no alojamento negou qualquer envolvimento com o crime, enquanto um dos dez africanos que moravam nos quartos atingidos disse ter sido vítima de racismo.

As investigações preliminares indicam que um grupo de brasileiros teria uma rixa com os estrangeiros há três anos. O alvo do incêndio eram universitários de quatro países africanos: Nigéria, Guiné Bissau, Camarões e Senegal. Ninguém ficou ferido. Os estudantes disseram que vinham sendo ameaçados e mostraram fotos com pichações nas paredes.

Foram ouvidos nesta sexta-feira o porteiro do prédio, que estava de plantão no dia do incêndio, dois funcionários responsáveis pela área de moradia e serviços gerais e quatro estudantes, entre eles dois que seriam suspeitos de participação no ato ou, pelo menos, de nutrir antipatia pelos estudantes africanos.

Ao deixar a Polícia Federal, o estudante de Ciências Sociais Gaudêncio Pedro da Costa, que mora num dos apartamentos queimados, disse acreditar que o ataque teve motivação racista.

- Se tivesse um branco no meio, nada disso teria acontecido. Vieram em mim porque sou negro - disse o estudante, de 26 anos, que é de Guiné-Bissau.

Já o estudante de engenharia florestal Vagner Guimarães, de 28 anos, que teria uma rixa com os africanos, negou qualquer participação no incêndio. Guimarães afirmou que os conflitos entre brasileiros e africanos já ocorrem há alguns anos. Os motivos dos conflitos, segundo o estudante brasileiro, seriam festas e som alto durante a madrugada, sem qualquer conotação racial. O estudante condenou o incêndio.

- Não é questão de racismo. Foi atitude de um extremista. Condenamos o que ele fez porque pôs em risco todo mundo na moradia - disse Guimarães.

O estudante contou que acordou por volta das 7h30m, cerca de quatro horas depois do incêndio, e, ao sair de casa, foi alvo de tentativas de agressão por parte dos estudantes africanos, que o teriam acusado de envolvimento no incêndio.

O diretor de serviços gerais e segurança da universidade, Weglisson Medeiros Ferreira disse nesta sexta-feira que os atritos entre os estudantes brasileiros e africanos já aconteciam há pelo menos seis meses, inclusive com episódios de luta corporal. Ainda segundo ele, a segurança no prédio da Casa dos Estudantes foi reforçada com um guarda em cada andar, além da portaria.

Incêndio criminoso

A PF anunciou na quinta-feira já ter identificado suspeitos do ataque, classificado de "atentado muito grave" pelo chanceler Celso Amorim. O ministro garantiu que o Itamaraty vai acompanhar as investigações sobre o caso. Na opinião dele, o ato envergonha o Brasil, que nos últimos quatro anos desenvolveu toda uma política de aproximação com os países africanos.

Segundo a PF, o incêndio foi criminoso. Já estão sendo analisadas as impressões digitais encontradas no local. Moradores da Casa do Estudante encontraram uma garrafa vazia, na qual teria sido levada a gasolina para atear o fogo às portas dos apartamentos. Camisas foram colocadas embaixo da porta para evitar que os estudantes sentissem o cheiro da fumaça. Esponjas com tijolos foram presas contra a porta, para que o fogo realmente consumisse a madeira. Os extintores de incêndio do primeiro e segundo andar foram esvaziados.

Um grupo de parlamentares, formado pelos senadores Paulo Paim (PT-RS), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Cesar Borges (DEM-BA) e os deputados Fernando Gabeira (PV-RJ) e Janete Pietá (PT-SP), pretende levar a discussão aos poderes Executivo e Judiciário. Manifestações contra o racismo acontecerão durante as próximas semanas na UnB, a primeira universidade federal a criar cotas para negros. Desde 2004, 20% das vagas dos vestibulares são reservadas para alunos negros. E o dia 28 de março foi instituído como o Dia da Igualdade Racial na universidade. A decisão foi anunciada também na quinta pelo reitor Timothy Milholland, para quem o incêndio foi um atentado à democracia.

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