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Quando mais de 30 mil pessoas ocupavam o Centro Cívico, uma professora de 42 anos estava ao meu lado chorando: minha mãe. Nós havíamos acabado de ouvir que a comissão geral havia sido aprovada, ou seja, a votação do pacotaço iria acontecer. Quando me dei conta, estávamos invadindo a Assembleia e gritando "retira, retira", para o governo recuar na intenção de levar o projeto à frente. Conseguimos que a votação fosse suspensa.

Cerca de duas horas após a invasão, dezenas de grevistas já estavam acampados dentro da Assembleia. Tinha barraca no plenário, nos corredores, na rampa e na parte externa. Foi uma noite muito difícil. Sabíamos que, apesar da votação ter sido suspensa, o governo não desistiria tão fácil. Tínhamos apenas 19 deputados ao nosso lado. Os outros 34 votaram contra nós.

Dormir na Assembleia foi uma tarefa complicada e desconfortável. Ninguém havia tomado banho (não tinha lugar para isso) e o cheiro de suor era quase insuportável. Mas, mesmo com as dificuldades, nós permanecemos lá.

Para beber, a APP-Sindicato forneceu água, e para comer, os educadores fizeram uma vaquinha para comprar maçã, bolacha e barrinhas de cereal. A noite foi difícil – a grande maioria não conseguiu dormir. Além do desconforto de não estar em casa, todos estavam muito preocupados com a reunião que os deputados fariam no dia seguinte.

Na quarta-feira pela manhã, recebemos doações de comida. Montamos um café da manhã no plenário e distribuímos comida para os professores que estavam acampados em outros lugares da Assembleia. À tarde, os deputados fizeram uma reunião no refeitório e marcaram a votação do pacotaço para quinta-feira, às 14h30. Procuramos focar em estratégias para não deixar que a votação ocorresse. Estávamos dentro da Assembleia quando a APP-Sindicato informou que a Justiça havia ordenado que saíssemos. Decidimos que só arredaríamos pé dali quando o pacotaço fosse retirado de votação.

Já era o segundo dia sem banho. Alguns professores conseguiram ir à casa de conhecidos para se lavar. As doações de comida e água continuaram a chegar e foi isso que nos manteve em pé. Para ir ao banheiro, o jeito era usar os químicos ou os da Assembleia (apenas alguns estavam abertos). Dormimos mal, ansiosos para saber como seria o dia da votação. Mais professores iam chegando.

Na quinta-feira de manhã, grande parte dos professores desocupou o plenário para fazer barreira em volta da Assembleia para evitar a entrada dos deputados. Vi coisas que jamais vou esquecer. Uma imagem simbólica é a dos deputados chegando dentro de um camburão, escoltados pela tropa de choque. Invadimos novamente a Assembleia e fomos recebidos com bombas de efeito moral e spray de pimenta, enquanto oferecíamos rosas aos policiais Bope. Também vi professores deitados no chão para tentar impedir a votação. A quinta-feira, dia 12 de fevereiro de 2015, ficará para sempre marcada na memória de milhares de professores e servidores.

Conseguimos uma das reivindicações: retirar o pacotaço de votação. Após vencer a batalha, todos os professores desocuparam a Assembleia. Muitos voltaram para suas casas, mas alguns permaneceram acampados na praça em frente.

A greve continua. O fim do "pacotaço" é apenas uma das lutas dos professores. Nos próximos dias, os educadores farão o revezamento no acampamento, para que assim todos possam descansar.

Em entrevista, o governador Beto Richa disse que somos baderneiros. Me desculpe, governador, mas com todo o respeito, que baderneiros são esses que após ocupar a Assembleia Legislativa do Paraná (que também é nossa casa) limpam tudo antes de ir embora? Uns seguravam vassouras e outros recolhiam o lixo. Tudo para manter a "casa" em ordem.

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