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Cerimonia de posse de João Mansur como governador do Paraná, em 1973, após a morte do governador Parigot de Souza | Arquivo MIS
Cerimonia de posse de João Mansur como governador do Paraná, em 1973, após a morte do governador Parigot de Souza| Foto: Arquivo MIS

Assalto

Mansur virou "herói" depois de matar bandidos

Vinte anos após assumir o governo do Paraná, João Mansur foi considerado herói por muitas pessoas depois que matou a tiros dois bandidos que invadiram e tentaram roubar sua casa em Curitiba. A reação do ex-governador foi contada em reportagem da revista Veja, de junho de 1999, que discutia o caso de pessoas que andavam armadas e reagiam à ação de criminosos. Segundo amigos, esta foi a primeira e a única vez que João Mansur sacou a arma da cintura e efetuou disparos.

Os bandidos renderam a empregada da família e o porteiro do prédio antes de entrarem no quarto de Mansur, que estava deitado ao lado da mulher. Mansur conseguiu manter uma conversa de cerca de quinze minutos com os dois homens até pegar a própria arma, que estava embaixo do travesseiro, e disparar seis tiros contra os assaltantes. Um deles foi morto ao ser atingido na cabeça. O outro também foi baleado e morreu durante a fuga. "Não havia outro jeito. Antes eles do que eu", disse Mansur, em reportagem publicada na Veja em 1999.

O amigo e ex-deputado federal Ítalo Conti, de 96 anos, conta que Mansur mudou muito depois da morte dos bandidos e recebeu ameaças de morte. "A gente notava que ele já não era a pessoa alegre como sempre foi. O João me contou depois que recebia ameaças em telefonemas de bandidos de São Paulo", diz.

Conti afirma que desde os 16 anos Mansur andava armado. "O pai dele tinha uma madeireira e aos 16 anos o Mansur era o motorista e transportava as madeiras. Por medo de ser assaltado nas estradas ele começou a andar armado." (KK)

  • Mansur (à esq.) segura uma das alças do caixão do governador Parigot de Souza
  • João Mansur (à esq.) conversa com o ex-governador Paulo Pimentel

O corpo do ex-governador do Paraná João Mansur foi enterrado ontem no Cemitério Parque Iguaçu, em Curitiba. Mansur, que estava com 88 anos, faleceu na noite desta quinta-feira no hospital São Lucas. A pedido da família, os médicos não informaram a causa da morte. Amigos de Mansur contaram que ele estava internado havia quatro dias com problemas pulmonares. Nascido em Irati, no Centro-Sul do estado, Mansur deixa esposa e um casal de filhos. O governador Beto Richa (PSDB) decretou luto oficial por três dias.

Mansur, que foi deputado estadual por cinco mandatos, assumiu o governo interinamente por duas vezes em 1973. Ele era o presidente da Assembleia Legislativa durante a gestão de Pedro Viriato Parigot de Souza. Parigot, vice de Haroldo Leon Peres, havia assumido depois da queda do governador, acusado de corrupção.

Doente, Parigot precisou se afastar do mandato, o que causou a primeira interinidade de Mansur. Mais tarde, com a morte de Parigot, Mansur assumiu o cargo até que houvesse a indicação de um novo governador. Na época, durante a ditadura militar (1964-1985), não havia eleição direta para o governo. A escolha acabou recaindo sobre outro representante de Irati, Emílio Gomes.

Por questões de saúde, Emílio Gomes, 86 anos, não esteve no enterro. Por telefone, ressaltou as virtudes de Mansur. "Era um homem do povo, humilde. Andava sempre com o [revólver] 38 na cintura e a faca e o canivete para fazer o cigarrinho de palha", relembra. "Ele dizia que, se tirasse o revólver da cintura, perdia o equilíbrio."

Os amigos de Mansur ressaltam o espírito de coragem, companheirismo e ética na vida pública. "Era um homem íntegro. Nunca pensava em si, sempre na comunidade", disse o amigo e ex-deputado federal Fabiano Braga Cortes. "Adorava reunir os amigos em casa para jogar baralho", diz. Ontem, o vereador Felipe Braga Cortes (PSDB), filho de Fabiano, apresentou projeto na Câmara de Curitiba propondo que uma rua da cidade receba o nome de Mansur. A mesma iniciativa foi tomada pelo vereador João do Suco (PSDB).

O general do Exército e ex-deputado federal Ítalo Conti, de 96 anos, foi um dos amigos que esteve recentemente com Man­­sur. "Em dezembro fui na casa dele e sai preocupado. Ele estava triste, falava pouco. A minha impressão é que ele estava sabendo o destino", diz Conti. Ele lembra que Mansur foi homem de confiança do ex-governador Ney Braga (1961-1966 e 1979-1983) e também do governo federal durante o regime militar.

"O Mansur evitou um grande trauma na história política do Paraná. Ele recebeu um recado avisando que o Haroldo Leon Peres seria preso se não deixasse o governo", afirma Conti. "O João [Mansur] articulou a ida do Leon Peres para Brasília, onde aconteceu o desfecho da saída dele, de forma menos traumática", completa.

O ex-governador Paulo Pi­­­mentel (1966-1971) diz que o regime militar acabou por aproximá-lo de Mansur. "Os 20 anos da ditadura militar foram difíceis. Ele era deputado e eu, governador. Vi­­­víamos numa ameaça constante de decapitação política", afirma Pimentel.

Sylvio Sebastiani, funcionário antigo da Assembleia e amigo de Mansur, relembra um enfrentamento político entre Mansur e Pimentel. "O Mansur derrotou a chapa apoiada pelo Paulo Pi­­mentel e assumiu a presidência da Assembleia. Passamos a noite arquitetando um golpe para derrubar o candidato do Paulo Pimentel. O único nome forte para enfretá-los era o de João Mansur. Um homem de caráter, forte e corajoso", afirma Sebastiani.

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