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D.S.M, de 25 anos, uma das testemunhas do assassinato do francês Gregor Erwan Landouar, tem dúvidas sobre o crime ter sido motivado por intolerância sexual. O tursita francês foi morto com uma facada ao sair de uma boate, em São Paulo. O rapaz, que é homossexual, não quer ser identificado, mas afirmou que pretende colaborar com a polícia para ver os assassinos presos.

Em entrevista ao jornal Diário de S.Paulo, D. contou que foi com dois amigos à Parada Gay e os três decidiram esticar a noite no bar Ritz. O francês, afirmou, estaria sentado no balcão, comendo e bebendo, e os três amigos sentaram ao lado dele.

- Um dos meus amigos fala francês e começou a conversar com ele - disse D., que não fala o idioma.

D. afirmou que o assunto entre os dois era genérico e o amigo falava da profissão. Contou ainda que os dois davam muita risada, mas não tem certeza se o amigo estava passando uma cantada no francês.

- O francês não parecia gay. Não sei se era - disse.

Segundo D., o tempo de permanência do grupo no bar foi curto, entre 20 minutos e meia hora. Em seguida, os três amigos tinham combinado ir a uma boate para dançar, mas o francês não iria junto. D. afirma que estava passando mal e chegou a vomitar na rua, pois tinha bebido a tarde toda. Estava se recuperando, a uns 3 metros do francês e do amigo que falava o idioma, quando os assassinos chegaram.

- Acho que eles atacaram o turista porque ele estava mais perto da calçada. De nós quatro, ele era o que menos tinha jeito de homossexual - afirmou D., acrescentando que o turista pode ter sido morto por estar junto com gays.

- Não sei realmente se o francês era gay. Mas estava com a gente...e me parece que não roubaram nada dele...

D. afirmou que um de seus amigos ouviu um dos criminosos pronunciar uma palavra semelhante a ‘facção’ no meio de uma frase. D. afirmou que chamou a polícia, que chegou rápido.

- Não dormi, lembrando do francês caindo ensangüentado. Foi horrível...estou com medo, mas não posso deixar as pessoas assim ficarem sem punição.

O Consulado da França informou que Landouar chegou a São Paulo há duas semanas, acompanhado por um amigo. A polícia não informou se este amigo foi ouvido, mas o delegado Flávio Afonso Costa vai procurar João Monteiro da Cunha Salgado Neto, de 54 anos.

De acordo com o delegado, no dia 7 de junho ele fez, pela internet, queixa do desaparecimento de Gregor. Segundo a polícia, Salgado Neto acompanhava o francês no dia anterior e, quando fechava uma compra em uma loja da Tim no Shopping Tatuapé, zona leste, perdeu o turista de vista. O delegado acredita que Salgado Neto possa ser um dos anfitriões do francês.

Crime de intolerância não tem pena especial

O Código Penal brasileiro não prevê punição especial para crimes que envolvem preconceito racial ou intolerância contra grupos específicos. De acordo com o advogado Marco Antonio Zito Alvarenga, da Comissão do Negro e Assuntos Anti-Discriminatórios da OAB, mesmo com provas destes tipos de preconceito na motivação de assassinatos, "não há previsão de agravamento" nas acusações dos responsáveis.

A maior luta dos gays é para que o Congresso aprove uma lei anti-preconceito a homossexuais semelhante à lei contra discriminação de negros, que é inafiançável em situações de flagrante.

- A cada dois dias um homossexual é assassinado no Brasil - disse Toni Reis, presidente da entidade.

- Isso é um crime de ódio. Inaceitável. As pessoas podem até ter seus preconceitos, mas partir para uma violência dessas", comentou Nelson Matias Pereira, presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo. Ele contou que hoje, a entidade encaminhará um ofício de repúdio à Secretaria de Segurança Pública exigindo que o crime seja apurado com rigor.

"Esses delinqüentes têm que ser presos. Tenho muito a lamentar sobre este fato. Queremos que esses crimes sejam punidos como crime de ódio."

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