O coordenador da área de Inteligência da Secretaria de Segurança, Wagner Mesquita, exige imagens que mostrariam a ação de radicais.| Foto: Aliocha Mauríiio/Tribuna do Paraná

O controle de uma operação de campo é da polícia. A secretaria é responsável por fazer a gestão da pasta. Isso [atribuir diretamente à secretaria a responsabilidade] é tentar politizar a questão.

CARREGANDO :)

Nós lamentamos. As imagens são terríveis. Nunca se imaginava que um confronto como esse terminaria de maneira tão terrível, com vítimas de ambos os lados. Não podemos comemorar o quanto pior, melhor.

Fernando Francischini, secretário estadual da Segurança Pública.

Só o resultado do inquérito policial poderá afirmar quem abusou e se houve abuso, de ambas as partes [da Polícia Militar e dos manifestantes].

Publicidade

Clima quente na segurança

O clima entre os gestores da segurança no Paraná esquentou na tarde desta segunda-feira (4) após Fernando Francischini ter jogado a responsabilidade pelo confronto do Centro Cívico para a PM. O comandante-geral da polícia, coronel César Vinícius Kogut, chegou a ir até uma reunião no Palácio Iguaçu à tarde. Especulou-se que o motivo seria sua saída do cargo. Até o fechamento desta edição, Kogut não se pronunciou sobre o tema. E nenhuma fonte confirmou sua saída.

Cinco dias depois da ação policial que deixou mais de 200 manifestantes feridos no Centro Cívico, o secretário estadual de Segurança Pública, Fernando Francischini, se pronunciou sobre o caso nesta segunda-feira (4) e negou ser responsável pela operação. Segundo ele, todo o planejamento e execução foi de responsabilidade do comando da Polícia Militar (PM). Francischini disse que “lamenta” os feridos, mas ressaltou que aguarda investigações para saber se houve desproporcionalidade na ação da PM. E responsabilizou “grupos radicais” infiltrados dentre os professores pelo episódio.

Segundo Francischini, o controle da operação foi de responsabilidade do comando da PM– o comandante geral é o coronel César Vinícius Kogut. “O controle de uma operação de campo é da polícia. A secretaria é responsável por fazer a gestão da pasta. Isso [atribuir diretamente à secretaria a responsabilidade] é tentar politizar a questão”, afirmou. Ele repetiu que a PM cumpriu uma “ordem judicial”, e que não partiu da secretaria a ideia de bloquear o acesso à Assembleia.

Francischini disse ainda que “nada justifica” o episódio. “Nós lamentamos. As imagens são terríveis. Nunca se imaginava que um confronto como esse terminaria de maneira tão terrível, com vítimas de ambos os lados. Não podemos comemorar o quanto pior, melhor”, disse. Ele afirmou que haverá um inquérito policial, “com todo o rigor necessário”, para apurar qualquer tipo de abuso cometido – que será acompanhado pelo Ministério Público Estadual (MP).

Francischini evitou, porém, falar se houve ou não abuso, excesso ou mesmo desproporcionalidade na ação. “Só o resultado do inquérito policial poderá afirmar quem abusou e se houve abuso, de ambas as partes”, disse. Francischini também negou que algum policial tenha se negado a participar da operação, ou que tenha sido preso por causa disso, conforme chegou a ser noticiado.

Publicidade

Black blocs

O secretário fez essas afirmações durante entrevista coletiva, na sede da secretaria, na qual apresentou vídeos com indícios da participação de “grupos radicais” – incluindo “black blocs” – no protesto. Ele disse que o “estopim” da crise foram esses grupos. Foram apresentados diversos vídeos e fotografias que, para a secretaria, seriam “evidências” de que o confronto teria sido causado pelos black blocs.

Entretanto, os indícios são pouco conclusivos. Por exemplo: as filmagens mostram jovens misturando um pó branco em garrafas d’água, o que, na interpretação da polícia, poderia ser a manufatura de bombas de cal. Porém, não há registro de policiais feridos por esse artefato até o momento. Além disso, vários manifestantes já portavam, desde a madrugada, garrafas com água e bicarbonato de sódio – solução usada para amenizar os efeitos de bombas de gás lacrimogêneo.

Os policiais mostraram também imagens de convocações feitas em redes sociais por black blocks. Há também cenas de grupos organizando ações durante o protesto – mas, como não há áudio, não é possível saber o que são essas ações, ainda mais se elas seriam ilegais ou violentas.

Há cenas mais nítidas de bloqueios de vias, de alguns manifestantes arremessando pedras e garrafas na PM depois das bombas de gás lacrimogêneo terem sido jogadas e da derrubada da grade de proteção, momento em que o confronto teria sido iniciado.

Colaborou Diego Ribeiro.