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A CPI do Apagão Aéreo da Câmara está reunida para decidir o que fazer sobre as conversas contidas nas caixas-pretas do avião da TAM que bateu em Congonhas. Os militares que entregaram os áudios à CPI definiram as gravações como "um filme de terror" e pediram que os integrantes da CPI não as divulgassem. O tucano Gustavo Fruet (PR) defendeu que sejam divulgadas apenas as degravações das conversas dentro do avião, e não os áudios, que tenham interesse para a investigação.

- Pelo que o brigadeiro (representante da Aeronáutica) me disse, o conteúdo é muito pesado. Parece que as conversas são tristíssimas. Então, eu defendo que não se divulgue os áudios, apenas a transcrição das conversas para não causar mais sofrimento às famílias - disse Fruet.

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, reforçou aos deputados que a responsabilidade pelo sigilo das informações é transferida para a CPI. De acordo com tratados internacionais, os dados sobre investigação de acidentes aéreos não podem ser divulgados.

Os dados de voz da caixa-preta serão guardados em um cofre da CPI pelos deputados Marco Maia (PT-RS) e Rocha Loures (PMDB-PR). As informações contêm os 30 últimos minutos de gravação do áudio da cabine e os dados dos instrumentos da aeronave.

A comissão já tinha recebido a transcrição das conversas entre os pilotos e os controladores da torre. No final da tarde, a CPI ouve o presidente da Infraero, José Carlos Pereira. A demissão de Pereira foi anunciada segunda-feira pelo governo, mas ele continua no cargo até que seja escolhido um substituto. A CPI também deve ouvir no fim da tarde o piloto da TAM José Eduardo Batalha Brosco. Ele pilotou, na véspera do acidente, o Airbus A-320 que se acidentou em Congonhas.

Superintendente da Infraero diz que pista não contribuiu para acidente

O superintendente de empreendimentos de engenharia da Infraero, Armando Schneider Filho, negou nesta terça-feira, em depoimento na CPI, que a pista do Aeroporto de Congonhas tenha contribuído para o acidente e afirmou que ela tinha condições de operar plenamente depois da reforma por que passou. Schneider disse, porém, que não houve liberação formal da pista após a reforma, assegurando que isso é um procedimento normal. Segundo ele, não era preciso homologação porque não é uma pista nova.

- Concordamos que ela tinha condições e foi aberta no dia 28 de junho - afirmou Scheider, explicando que havia laudos de um instituto assegurando que a pista tinha condições de uso e frisando que ela foi liberada pela própria Infraero.

Schneider insistiu não ter conhecimento de que seja preciso homologação para liberar uma pista que passou por "reforma de manutenção", mas o relator da CPI, Marco Maia (PT-RS), manifestou estranheza. O superintendente da Infraero disse que ele e dois coronéis que trabalham na área técnica da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) fizeram uma inspeção visual da pista.

- Pecorremos a pista e usamos um equipamento para medir o grau de atrito. A pista tinha condições de uso, tinha atrito, estava em perfeitas condições de uso - afirmou.

Segundo o funcionário da Infraero, a falta de "grooving", as ranhuras da pista, não contribuiu para o acidente com avião da TAM. Schneider disse que as ranhuras não têm qualquer influência na liberação de uma pista, pois elas atuam apenas em momentos em que há excesso de água na pista, o que não ocorreu nos dias dos dois acidentes.

Ainda de acordo com ele, a reforma da pista principal do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, precisa ser recuperada imediatamente, embora não apresente risco para a segurança. Segundo Schneider, a reforma estava prevista para começar em 23 de julho, mas o cronograma não pôde ser seguido devido ao acidente em Congonhas.

- A pista está no limite de vida útil. Não tem problema de estrutura de pavimento, o que está deteriorado em Guarulhos é o revestimento. Ou seja, ele não tem problema de estrutura de pavimento, o que ele tem é a capa asfáltica deteriorada, o que é mais do que natural - disse.

Schneider disse que concorda com a avaliação do novo ministro da Justiça, Nelson Jobim, de que a segurança dos passageiros está acima de tudo, portanto, a pista precisa passar por obras, mesmo que isso cause novos transtornos nos aeroportos.

- Com certeza a interdição de uma pista diminui a capacidade de um aeroporto, mas eu entendo e tenho bem em mente as palavras do ministro Jobim de que a segurança está acima de qualquer conforto. Eu confio nessas palavras, a obra tem que ser feita urgentemente - afirmou.

O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que preside a reunião da CPI, decidiu remarcar para a próxima terça-feira o depoimento do diretor-presidente da Pantanal Linhas Aéreas, Marcos Sampaio Ferreira. O diretor deveria prestar depoimento nesta terça, mas apresentou à CPI atestado médico informando que está impossibilitado de exercer atividades profissionais durante 60 dias, por motivo de estresse. Eduardo Cunha afirmou, no entanto, que o atestado não o impediria de prestar esclarecimentos e, por isso, vai solicitar à Polícia Federal que traga o depoente. O deputado também requisitará ao Departamento Médico da Câmara uma avaliação do atestado e do estado médico do diretor da Pantanal.

O presidente da CPI, deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), está internado com crise de diverticulite em um hospital em Brasília e, por isso, estará ausente nesta semana.

Conversas da caixa-preta são decisivas para investigação

As conversas extraídas da caixa-preta de áudio são decisivas para esclarecer as causas da tragédia e determinar se a manete (alavanca que controla a potência da turbina) direita estava fora da posição por um erro do piloto ou por uma falha técnica.

A primeira leitura da outra caixa-preta do Airbus, a que registra os dados do vôo, indica que o pouso foi feito com a manete fora da posição idle (marcha lenta). Outros dados serão analisados em outra sessão a portas fechadas da CPI, afirmou nesta segunda o presidente em exercício da comissão, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Segundo ele, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa) já concordou em ceder técnicos para auxiliar a análise desses dados.

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